domingo, dezembro 31, 2006

5767

meu ano é outro, meu dia não acaba, a língua é dialeto, meu país tá lá sei onde, o queijo é berinjela, meu pão é uma paçoca, e o pião um palhaço. o glamour tá na cara lavada e escrever é o parlar... assim vou vivendo, e assim crio um mundo.
não mais pertenço a essa realidade. graças. graças. relógio? queira me explicar o que seria? agora me achei sem as convenções metrificadas do ponteiro - vivo em útero, apartada da vida, escondida do frio, da brasa, em um lugar onde as horas passam apenas se eu quiser.
eu sou deus e ordeno: pára tudo.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

live and let die

um homem alto, moreneza e olhar penetrante. viril, porte atlético sem ambições de relevo. sedutor. casa dos trinta e poucos e mais. mais. pode mais. apreciador de vodka-martini. batido. não mexido. exímio atirador. no bolso, brinquedos tecnológicos. licença 00 para matar. categoria especial. sétimo agente. daí o código 007. intuição, a coadjuvante da vida. helicóptero desmontável. perito. beijo-método. artes marciais no piscar, sabotagem ideológica no meio-sorrir. travão seguro, a compensação é aniquilação. pé no hoje sem esquecer o ontem. fodas éticas. cães no rastro. Guerra Fria. teu sangue frio. a alma raiada do cano. a bala abala e baila. atrás dela, um olhar seco. não tem água, porque não pisca. sem titubear é hora de matar. sai por cima, ignora a despedida. boa lembrança; não de memória. do sangue. sem precisar viver para conseguir ver. vida de adestramento. o coração, tum-tum metálico, sempre com outro pensamento.
o dono da vida. do mundo. do magma ao avesso. a sanha do macho absoluto. macho do barco que faz andar o remo. e até nas infernezas homem-universo a serviço. boa marionete autômata. a honra incólume pelo pretenso governo imáculo, e claro, por Sua Majestade. A Sua Majestade. sempre.

domingo, dezembro 24, 2006

escapismo bom

"a arte existe para que a verdade não nos destrua"

sem querer, guiada pelo instinto descobridor, aportei em um sítio que me proporcionou horas de deleitosa sensação de ser pintora dentro de uma criança livre.
fiz muitos desenhos, porém, este especial, foi feito para vocês, que vieram aqui no caldeirão secreto do scórpion durante o ano todo e acompanharam, graças às minhas palavrosas amantes desse eu em transe, as tormentas, os venenos, o arrolar em vão do nome de deus entre soluços e discursos hemorrágicos do meu derrame cerebral irrefreável.
enfim, forço-me a finalizar serena e a convidar vocês a um passeio descomprometido para pintar as suas próprias telas em:
bon voyage

sábado, dezembro 23, 2006

sexta-feira, dezembro 22, 2006

somos nós

para fábio rosenfeld,
a simples brincadeira de atualizar o blog saiu isso - pura realidade descompromissada e divertida feito férias sem fim. salve fábio, salve as máscaras.



- Fábio, o que essa imagem te diz?

- são et´s?
- homens-feijão?
- ah! tem o capitão feijão, ali.
- bah, tem também um caboclo com chapéu.
- cabôco ?
- cabô com o quê?
- cabou nada, guria, olha ali - lá no fundo, o da esquerda.
- o que tem?
- ele quer imitar o o vocalista do Kiss.
- quer nada. quer imitar outro cara, mas como é mesmo o nome daquele cara?
- Paul Simons? Paul, esses, um deles todos aê.
- tá me diz, qual Paul que tu tá falando?
- ah, pára! tu acha que eu sou um toró de palpite?
- não, apenas sempre creditei muito nas tuas tacadas.
- tá, tá bem. esses aí são eu, o euzinho. esses aí somos nós e não nega.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

segredos de liquidificador

volta e meia quando coloco o cedê do cazuza me prendo a essa frase: "... dizendo segredos de liquidificador"... e então ela fica, fica solta, astronauta fora da nave, gravitando às voltas dos meus solilóquios bastardos.

sempre tentei encontrar algum significacado que fugisse à simples metáfora que a frase do poeta encerra, mas nunca consegui chegar a nenhuma conclusão interessante. segredos de liquidificador? put´s, vai ver que tem um código, algum esquema dele, só dele, ou dele e mais um outro, ou dele e mais uma outra. só pode, lá-lá-lá com liquidificador é código puro! e todo mundo tem seus codigozinhos, palavras usadas com a gang metralha, ou a panelinha a que mal ou bem todo mundo pertence, porque precisa segregar de alguma forma e, então, ali, naquela combinação de gentes se fervem coisas, se fervem idéias com palavras soltas para aludir a um pobre fenotipo que come um feno, mora num curral, se refocila nas ostras, ou usa ferraduras - ó, já usei uma carrada de códigos estabelecidos entre as comparsas do cafezinho.

Na real, aconteceu uma coisa doida, doidérrima, parece ficção, mas é fato consumado: comecei a escrever esse parto normal que vocês estão lendo, há duas semanas atrás e guardei o texto em off de mim mesma, banhando a idéia em ruminares de pacientes aguardos, quando casualmente, dias e dias depois, me comunico com com o miasma de Agenor Neto (sim, o Cazuza) e, nossa! foi incrível, mágico, não é papo! eu estava entre o findar da vigília e o início da divagação onírica, sabe? quando a gente viaja umas coisas, mas ainda se está acordada e, de súbito, uma coisa veio - mais ou menos com uma menstruação fora de época. claro, perdi o sono na mesma hora, dentro do ônibus que me arremessava ao teto. segredos de liquidificador, segundo Neto, é quando uma pessoa te fala uma coisa, algo bombástico e ultra secreto - e aquilo fica fazendo voltas, entra no teu sangue, e fica chacoalhando lá dentro, no fundo do cérebro e, mesmo depois de dias, a coisa entra de tal forma nos cromossomos, que quem fica chacoalhando é tu, o teu corpo, igual a um liquidificador em on. segredos de liquidificador é quando há algo que não pode ser compartilhado com ninguém e, portanto, a ir para a sepultura contigo. bingo.


essa coisa que veio, súbita, nesse canal, parece que ainda tem mais coisas para vir em loading. é a coisa é séria. pode procurar no google, ou em fanclubes dele, nunca vocês vão achar essa teoria. devo patenteá-la? e por falar nela, alguém já te falou segredos de liquidificador?
hummmmmmmmmmmmmmmmmm.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

apenas não espera

dia desses me perguntaram: - por que nos decepcionamos tanto com os terráqueos humanitas?
respondi, de pronto, com outra indagação:
- por que esperamos que ajam como nós, apenas porque são bípedes?


estava pensando com os meus poucos botões, que é um erro fatal esperar reciprocidade, ou grandes atitudes de quem quer que o seja. o mundo não é um só. existem vários planos de operação, vários países em um - vários brasis, vários rio grandes, várias porto alegres, vários báhs nos caudais guaibenses e, cada um de nós vive a vida segundo seu universo singular cujas leis do arbítrio nem sempre são confederadas a esses outros mundos.

é isso - cada planeta Terrinha possui o seu regimento e não podemos esperar que as jurisdições sejam as mesmas.

carambolas, eita descrença na humanidade com essa tal não esperança do recíproco. ah, melhor assim. menor o tombo.

é difícil, claro, tem dorzinha na jogada, mas os mundinhos são tantos e tão não iguais. apenas não espera. grava isso: NÃO ESPERA. fica fly. é, e quem disse que é fácil ? mas, anyway, fica mais fácil.

sábado, dezembro 09, 2006

religião da vaca louca ra-tá-tá

bah, não tá dando. não tá dando para seguir o blog nos moldes a que eu tanto aspirava. queria algo forte, metralhadora ra-tá-tá o tempo todo a fuzilar letras, a me lavar de poder e fazer da mari, A -riana, a idealizada matadora, das botinas milico, a atiradora HK di´elite, altas poses, óculos matrix, flagrante maxila cavalar a mascar goma derretida, se achando e estando e sendo a tal sob a napa negra, moldada em tíbias e fêmures ginasticados pro bem na foto, mandando beijos gratuitos com boca de cu enxertada, voluptuosa, em inabalável pose power and glory pelo caco de vidro que corre no sangue Hulk de segurar o dobermann espumoso pelas cordas vocais arrancadas... isso, bem isso, intestinações, quero isso - me chamem guria da ruindade, do pedantismo, a forçadora de barra, a filha da puta, a doente, a navalhuda, a aproveitadora, a atormentada, a metida à boa, uau, há, eu sei, eu sei bem o que muitos pensam, o universo manda sinais, e eu, infalível radar diplomático, óbvio, faço vista grossa, ouvido mouco e voz falha, massssss é claro, natural (coloca o l no palato para falar) que isso acontece, não sigo a linha do café com pão, café com pão, café com pó, café com pô - rra da conduta livro-ponto agradista, mas e então? não tem então, tem o aqui, tem o agora que rosaria ãos nada vãos: n-ã-o m-e i-m-p-o-r-t-o, a-t-é f-a-ç-o q-u-e-s-t-ã-o d-e f-a-z-e-r u-m b-o-m r-i-m-ã-o: tudo vem de lá, lá, - lá do coração boca à fora, furacão! i isso não é um gênero, é uma religião ra-tá-tá do cão.


seguinte, ra-tá-tá transmite a mensagem à ferro e fogo na vida de gado: ó, as pálpebras aqui, ó, colando, caindo, ó, mas olha, olha, olha a que ponto o pacto de ego doido é vanitas vanitae - fiz um acordo de amor e morte ao criar esse caralhoblog - fiz alguns pactos seríissimos, lavados em sal grosso de radicalismo islão. loser? anglicismos amo, mas essa palavra não entra no game, tá fora, porque a peteca aqui não vai ao chão nem morrrta, não, bah, tá louco, não tem largação de jogo, vou atualizar essa coisa até que o teclado afunde, mesmo se a luz não volte, os últimos naipes se rasguem ao pó, até que tudo estoure, esgote em hecatombe galática, às ganha, e mesmo o mundo explodindo lá fora e o blecaute sendo eterno, eu vou continuar à luz de vela e a mil com essa punheta. um gozo, dois gozos, quatro, vinte, 198 não é nada. eu quero mil, eu quero casas e casas de zeros furando a tela pelos lados, empilhando um sem-fim de buracos matemáticos pelo chão de horizonte, eu quero mais, eu quero rasgar a gengiva ao osso, mas engolir uma ótima bóia para a jibóia ficar jóia. e ainda assim, nenhum número nunca vai bastar, porque o Infinito é o Deus do carbono de quem lhes escreve
.


put´s. caiu. caiu no conto da vigária - tô te enrolando desde que comecei a escrever o primeiro parágrafo apenas para dizer que não tenho uma puta idéia boiando dentro dessa cabeça cheia de vazio, e o nada entope, faz pressão, enlouquece, como uma bicheira a fermentar na mioleira do cão terminal que implora, bambo, pelo fim que não chega. cacete, não tem nada, n-a-d-a, n-a-d-a, n-a-d-a aqui, medo, me dá um medo, um tremor cego, eu zonza, tremor surdo, eu zonza, tremor mudo, eu zonza, sei lá, vai ver que é a carne que meu Rei Marido frita para mim e anda fazendo um mal em ondas. pronto, eu zonza, já tá vindo, a vaca louca, tá vindo, vindo, vou criar, eu zonza, criei, uma desculpa, um estilo novo, não vou pontuar, bah, mas isso é estileira? não, calma, lembra, lembra mariana - nada é mais uma grande novidade, tudo se copia e, espera, pô, um átimo apenas, é só até o motor pegar, eu zonza, calma, calma, c´alma, clama, mala, maca, lama, cama, pronto! pronto! vou me atirar, não! não é morrer, tô falando - vou me atirar aqui, na primeira grande coisa qualquer que deixe um über eco decibel dentro do crânio bichado. vou me atirar, o chão é meu amigo, ele só meche pros meus pés dançarem, o parquet faz caleidoscópio marrom e amarelo e minhas unhas estão cortadas, pronto, tô no passo. step by step sem descompasso. pronto! ponto. não zonza, a que ponto se chega. a que ponto se cega. sossega, ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. não zonza.
alívio. fffveio. tá aqui. pari. não ri. pari. parry, cherry. pra ti.


quarta-feira, dezembro 06, 2006

ah


e tu ainda quer entender o mundo?

ah, o mundo é coisa que a gente nunca se entende.



homo sum: humani nihil a me alienum puto.

Terêncio



julgo que tudo o que é humano não me é alheio.

* tradução by Nada Garantido, aos trancos e barrancos, expremendo a moela no dicionário podre de mofo.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

a dona tevê

frases mui filosóficas de vestibulandos. gostei, por mais que a banca os tenha reprovados, acho massa a linguagem não moldada ao sistema.


a tv deforma não só os sofás por motivo da pessoa ficar bastante tempo intertida como também as vista.

sempre ou quase sempre a tv está mais perto de nosco... fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro.

a tv é o oxigênio que forma as nossas idéias, por isso é que podemos dizer que esse meio de transporte é capaz de informar e deformar os homens.

a televisão ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não.

a tv possui um grau elevadíssimo de informação que nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns viciados deste veículo de comunicação.

a tv acomoda os tele inspectadores.

a caixa deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral, sendo um meio de comunicação, audição e por que não dizer de locomação?


a tevê ezerce poder, levando informações diárias e por que não dizer horárias?


a televisão pode ser definida como uma faca de trez gumes.


nós estamos nos diluindo a cada dia e não se pode dizer que a tevê não tem nada a ver com isso.


i

quinta-feira, novembro 30, 2006

7 vidas



7 vidas não são à toa
e até a última gota o importante é ter garra
garrote afiado e tino aguçado

olha! bota atenção i se bobear leva pedra
e no salto ousado não pisca não medra

olha! a silenciosa liberdade das ruas
mira! o vazio é regalo de galo felino

e o cat pulando, escondendo, saltando, fugindo,
gritando na briga que sangra o pelego...

e depois do triunfo a custo de hemácias
a derrota do arrasto já é uma vitória.

e no caminho de volta, um olho vazado
i ! meus deus! ele pronto está para outra estória


mas como?
e agora?


o agora é a glória e o depois já passou.

corre.

ainda restam vidas.


segunda-feira, novembro 27, 2006

lume ao chorume

homenagem aos que mais admiro na sociedade: às pessoas recolhedoras do lixo, que pontualmente e abaixo de chuva, correm arfando o sino da goela para deixar o asfalto mais digno da tua pisada.



sinto que estou sentindo que sou de sentir:

sou um nada garantido vivendo em um tudo comprometido.

uma bronca alma lamentando o estrume

perna abaixo do mundo de chorume

e se ainda houver um lume

aumenta o volume a esse peixe sem cardume

quero ouvir da tua boca se ainda resta brilho,

ou então um vaga-lume

aos lixeiros de betume

que executam sem queixume

a limpeza do pretume.

sexta-feira, novembro 24, 2006

decide o título

querer reproduzir as belas letras é tão ruim quanto querer ser coerente. então assumo minha fraqueza literária, assim como assumo o bostedo bem cagado pelas minhas tripas de classe média ideológica.
reparou? estou a digerir dores para transformar em palavras e, aleluia, irmãos! glória magister patris! aprendo a gostar dessa demora ruminante tal qual um espartano de se refocilar na guerra.

não, não sou e nunca serei um reles pó da história que se acobarda perante as espetadas da verdade. ao contrário - torno-me mais forte ao descobrir que minha razão de viver é desnuda de escudo de terceira pessoa. e assim vou seguindo, vou pagando o preço de envergar estampa ácida. como? talvez um dia eu conte. mas ainda não sei se merecem.

minhas balas têm ferrugem, porque ser cortante não basta, e aliás, pouco me importa ser um exemplo promissor ou maldito, apenas sei ser mulher do meu tempo, o pretérito que se cumpre, por bem ou por mal desta raça. e se esse jeito é errado, eu já não sei de mais nada, apenas deixo à posteridade considerar. enquanto isso, eu sigo os sinais pelo caminho da purificação.

o verbo primeiro é eu cago, e mesmo assim aqui tem jogo limpíssimo, porque a vida cobra tudo. e eu posso esse tudo e assumo sem preâmbulos - não tenho uma teta de piedade de gente mascarada. e.. e, e, e ... iiiiiii sei bem o preço dos meus sonhos e conquisto sem hesitar mesmo se for a tiros. e caso, por piedade, decidas me dar um crédito, palavra - eu te restituo a juros, beibe. tudo isso e tudo o que tu nem viu ainda, porque eu não medro um cisco de morrer.

é, não chega perto. a hidrelétrica tem louca descarga.

segunda-feira, novembro 20, 2006

o médico e a joalheira

Hoje tento escrever com letras maiúsculas no início da frase, apenas para testar o limite suportável desse meu desconforto besta...
bem, apresento-lhes uma cena da vida mais do que real de quando eu percebi que o meu drama, de fato, é estar no mundo.





Envolvidos em seus afazeres em uma bela tarde dominguda, José avista uma faxineira limpando os vidros no décimo andar do edifício em frente ao seu.

- Yara!, Yara! Olha lá!
- Ai, José, agora não posso, estou fazendo as minhas unhas.
- Mas, amor, olha, olha rápido! Olha! Porque eu acho que aquela mulher está com a linha supra-umbilical passada do vão da janela!
- É, dizem que aí é que está o segredo do bom equilibrista: umbigo sempre pra baixo da linha do perigo.
- Mas , Yara, olha, olha lá!
- Tá, José, eu estou vendo o esmero da negrinha.
- Bah! Mas ela vai despencar limpando os vidros daquele jeito, meu deus!
- "Bah!", digo eu. Era bem essa ali que a gente precisava pra limpar aqui em casa.

BUM!

- Yara! A mulher caiu! A mulher caiu!
- José, só um pouquinho, tu ainda não te deu conta que estou pintando minhas unhas de vermelho! Ou tu esqueceu que essa praga da risqué é um parto para tirar o borrado?
- Mas Yara...
- Mas José...estou sem acetona!

sexta-feira, novembro 17, 2006

tortas linhas retas

gostam de anedotas de abstração?
hãm? hãm?
a coisa é mais ou menos como bater a cabeça no vazio para colidir com o não-senso, esse tênue triz de coerência do mistério que nos envolve e surpreende.


"sobre uma escada um dia eu vi
um homem que não estava ali;
hoje não estava à mesma hora.
tomara que ele vá embora."


quarta-feira, novembro 15, 2006

atlântica teta

(sim, aprendi a fórmula de fazer estorinhas para blogs: pequeninhas e ordinárias) não gostou? ah, que pena. então, por que tu tá aí?



não a olhavam mais. mesmo cruzando as pernas, imitando Sharon em estinto selvagem, não a olhavam mais.
os tempos de poder e glória agora eram sinônimo de sertão esquecido. porém, a heroína maria bonita não desistia de alimentar-se dos radares olhares de outrora.
desconhecia derrota e, no final das contas, sempre saía vitoriosa de alguma forma.
a nova estratégia estava dando certo - sacava um atlântico seio para fora da blusa e fingia olhar perdido no horizonte. era lindo aquele olhar e ela apostava todas as fichas do game no infinito de dar seco nos olhos.
a sua retroalimentação umbilical de olhares agora prosseguia com êxito absoluto. todos a olhavam. todos a olhavam muito - na linha abaixo do rosto. miravam, estaqueados, aquele gordo seio pendurado.
feliz ela? talvez, por dentro. pois fora o olhar vagueva no infinito.

terça-feira, novembro 14, 2006

auuuuummmm





fazer arte, essas coisas do mal inevitavelmente bem feitas, pode redundar em perigosa e fascinante lição de amor.



sábado, novembro 11, 2006

uma questã de tempo



eu me desliguei daqui sem desligar.

os últimos dias têm parecido anos de prisão lá fora.

há tempo não há tempo para o tempo.

terça-feira, novembro 07, 2006

;


... tocou no ponto que não é tocável, desenterrando o pior da minha condição humana - a dor. e, justo por isso, ergo agora um monumento invisível ao escarro de meu mais profundo repúdio: a ferida em mim aberta à faca por amor tão forte que esgota a paixão por força do ódio.
essas escritas torpes, que sei por fortes lâminas vocabulares, são zonas intermédias da vivência que estampo sob códigos para apenas poucos captarem. tudo de mais oculto se contém nessa escrita. logo, já não escrevo para os que me lêem e por aí nos ares planam escondidos, ou sequer escrevo para o egoístico deleite meu, e enfim, já não escrevo para ninguém mais, e alma penada alguma. apenas vagueio os dedos cortados entre as teclas por puro vício de parir palavras, e milagre é sair alguma coisa que o valha.

não adianta mais enrolar, chegou o tempo de admitir o que talvez a metafísica constitua para si como um incômodo passageiro: o comixão de minha insignificância que beirou às raias; e admito, sou fruto da semente mais demente do papai fincada no óvulo pontual da mater fucker em 76. na boa, viver é difícil. e a esperança? bom, por enquanto, sei que rima com dança e, então, só peço aos deuses que me concedam o belíssimo nada que lhes pedir antes que eu adormeça o meu vulgar sono de pão, malabares e estradas sem mapas sob o céu de photoshop.
agora, leitores, vou-me. portanto, dizer mais é explicar o que de nada serve, e dizer menos é mentir. as palavras... vejam só! estão falando por mim na mudez imperativa do agora, e se bastam, rainhas, com a voz que lhes é própria.

sexta-feira, novembro 03, 2006

¨



aqui não tem marionete. tem um animal sem coleira cuja liberdade não é mera conquista. é uma sanção com porte de arma.


quarta-feira, novembro 01, 2006

língua de fogo



não posso ter atitude de feto enquanto o meu pulso pulsa taquicárdico; então chafurdo aqui, comendo na mão irascível dessa escrita ao tentar ser uma hércules nodosa de palavras que esconjura verbos até enfartar o coração de sarcasmo. e depois disso, confesso: não há nada que se possa fazer... é falácia, leitor, brotando como fungos na umidade da minha verdade.

domingo, outubro 29, 2006

lembra

naquele tempo ela padeceu mais, padeceu longinquamente, bebendo até as fezes no cálice das amarguras humanas e quase não recuperou o esteio da vida...


e, se acaso o asco voltar, lembra que matar, minha filha, é equilibrar as necessidades universais. quando for a hora, não exita e, antes de puxar o gatilho, faça-o como se fosse uma justificada canção inconformada do eu pelas tuas mãos.
e ao cantar o silenciar do outro, revela um sorriso inexato domado por esse coração que não se mostra, mas que existe e bate aí dentro dessa coisa de aço.
herrar é umano e, enfim, vença ou malogre. só não esqueça: a morte é séria e não admite ironias.

quarta-feira, outubro 25, 2006

shshshst




o dia das palavras desnecessárias é necessário.


mãe crítica desde feto: bah, mas esse post aqui não tem nada a ver, me desculpa, mas não tem nada a ver, mariana.
o eu por respeito fingido: mas mãe, isso aí não é para as pessoas entenderem. basta que eu entenda e já tá bom.
mãe crítica desde feto: mas aposto que nem tu entende! háháháhá!
o eu por respeito fingido: claro que eu entendo, ou tu acha que iria colocar uma coisa à toa, apenas para constar como tal?
mãe crítica desde feto: não duvido necas de pitibiriba.
o eu por respeito fingido: tá bom, então vou te explicar e tu vai entender de uma vez por todas como esse fraseado não é um mero engate do meu automatismo charlatão, e que existe sim, um sopro de vida neuronal na expressão.
é o seguinte: quando morei fora fiz muitas amizades e não sabia falar uma única frase dialetal para interagir, e por mais incrível que pareça, descobri que as palavras são desnecessárias e basta ficar em silêncio perto das pessoas, que isso pode bastar. então, a partir dessa vivência, imaginei que deveria existir um dia no calendário em que as palavras fossem desnecessárias de serem soltas.
mãe crítica desde feto: ah, tá, agora entendi. agora faz um certo sentido; mas só tu que vê isso.
o eu por respeito fingido: mas vai dizer, tu não acha que as pessoas falam demais? ou será mera casualidade que eu e tu nos sentimos mais completas perto dos nossos gatos?
mãe crítica desde feto: ah, eu gostei foi da imagem... mas, mas o que é isso?
o eu por respeito fingido: são bundas, mãe.
mãe crítica desde feto: pensei que fossem dentes.
o eu por respeito fingido: mas só tu que vê isso.


segunda-feira, outubro 23, 2006

cheers!



um brinde à humanidade!
umanidade
uma unidade
úmida
de pura bosta!


uma ida dá de?
sim, uma ida dá de.
da de ver
na verdade
que emana da manada
não importa a idade
uma danação dentata danada

sexta-feira, outubro 20, 2006

céu aquático


caiu o anel no mar e não se deu por satisfeito em perder o seu bambolê de dedo. levantou o tapete de águas e descobriu que os crustáceos têm verdadeiras joalherias sob o manto azul.
os maçons do descuido alheio armazenam as deixas que as ondas malandras fazem cair por água em imensas galerias de enfeites a rutilar...
querem a sensação de céu com brilho dentro das águas para afugentar a tristeza do lixo que veio para ficar.

sábado, outubro 14, 2006

ódio meu

às pessoas que me cutucam por terem pimenta na pele: Dani Krugets, Ane Minuzzo, Fábio Rosenfeld, ou extremamente inimigas - espécie eqüinas tantas, que o simples respirar já ouriça. assim sou - amo ou odeio. preciso de máscaras circunstanciais e durex para sorrisos de meia bochecha.


quero fazer acupuntura com minhas letras para atravessar-te o corpo.
acaso não é intenção causar males. são apenas momentos de uma intensidade que não sei lidar já lidando. aí corro e escrevo na hora. pão fresco da piração justificada. acaba saindo isso - essas baratas esmigalhadas pelo impulso do nojo, e tu, a manjedoura maior do meu parir.
a arte não é somente flores e amores. a arte dói. e a dor é prazer e o meu prazer não é filiado ao lirismo.

o circo me é escola. e lá, aprendi lidar com a dor e fazer dela o instrumento condutor da beleza. a dor não é feia, a dor não é ruim e quando dominada é a maior aliada - instrumento agudo e penetrante para o triunfo com glória.
a dor é o reflexo do nosso fundo fincado. ultimamente opero neste plano - no plano da dor em meio ao desajuste, que, em breve, espero, não seja curada com homeopatia que foi encomendada.

a dor. ador. a dor é o ardor do viver. muitas leituras, mergulho, me entrego, sofro, choro, odeio, me perco, amo. amo mesmo, claro, mas meu amor é estratificado e já não me embriago com o lirismo que dele evola. eu quero mais, eu gosto das coisas que constritam os vasos sangüíneos e tremulem meu beiço contrátil, dilatando as narinas como um cavalo pronto para ganhar ou ganhar a corrida.

meus ódios são ondas de desajuste que me deixam viva, vivinha e pronta para descascar pele de tantas forem as cobras pra fazer sapato apertado à cinderela que não merece príncipe.
o por quê?
nem tudo tem explicação.arquivei o cientificismo e não estou pronta para equações explicativas. bem-vindo ódio meu.

segunda-feira, outubro 09, 2006

feia?


a caveiruda se rebocava. de meia em meia hora ia ao espelho rebocar a bocarra de um batom cor de lama. depois de besuntar bem os beiços esperava a escuridão da boate transformá-la em cinderela de fábula. assim, amanheceu o dia e a carruagem não veio. a vontade de ser uma bella donna ficou perdida no vapor da noite esgotada. agora, ela descia as escadas do inferninho, meio torta e acompanhada do etílico caminhar que se expandia para os lados, batia descompassada na laje, os sapatos pintados de caneta hidrocor. o sol dourado batia em seu rosto de esfumaçado colorido, que borrado, revelava toda a fealdade que o breu da noite escondeu.
mas faltava pouco para anoitecer. em pouco tempo ela novamente se esconderia feliz em meio às sombras necessárias à sobrevivência dos rejeitados. era inverno, o dia durava menos e isso lhe fazia um enorme bem que se bastava. depois do mágico batom-lodo aplicado, dançaria nas nuvens vaporosas do gelo seco. tudo ficaria bom novamente, e a ilusão do escuro seria a sua maior arma contra todos que não a olhavam.
a feia não era feia, mas ela precisava das sombras para se transformar.

terça-feira, outubro 03, 2006

vanitae


a pior prostituição não é aquela em que se rebola o corpo
por alguns maços de grana.
a pior prostituição é outra mais sutil.
é a rodada de bolsa do ego para ficar na vitrine
esgarçando sorriso engessado.

domingo, outubro 01, 2006

niger fly


há dias queria pedi-la em casamento. tomou coragem. antes das passagens comprou as alianças; o neto estava saudoso do vô e rumava com erva de chimarrão para matear os dias longínquos; a moça veria o pai do nenê, não há muito no mundo; o outro queria férias, férias, férias, enfim livrar-se e viver; a outra finalmente fecharia o contrato do seguro com o grande cabeça; aquele voltava para casa antes do tempo e faria uma surpresa às crias; a outra iria estreiar a voz em outras terras, em um show marcado pela amiga; ele levava um violão suplicado pelo filho para iniciar-se nas cordas; a avó levava potes com geléia de ibiscus forrada de pano xadrez; o outro, pequeno, viajava sozinho pela primeira vez e via da janela a imensidão do céu de outubro.
a outra + 13
o outro + 30
a outra + 30
o outro + 20
a outra + 7
o outro + 11
a outra + 9
o outro + 6
a outra + 9
o outro + 13 outras

e o resto da história tá no mato fechado- a aliança soterrada no chão úmido. o violão entre os altos galhos das araucárias. a fazenda xadrez despedaçada no barranco. a mamadeira entre bromélias. as partituras cobrindo as guanxumas e as tantas coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas e coisas.
as todas vidas que foram não voltadas só o polvo do céu pode falar. ele estava lá.

quinta-feira, setembro 28, 2006

brodery genético


as décadas atravessam os séculos e o brodery, cherry,
sempre em alta.
ou melhor, na ponta, sua tonta,
arremangando punho.

segunda-feira, setembro 25, 2006

hum


sou um pouco avestruz
de dentes de manteiga
asas atrofiadas
dois dedos no pé
o primeiro bicho
no jogo do bicho
sou o número 1
a maior das aves
me alimento de pedra
garrafa quebrada
lata amassada
ou sola enlameada
hum
hum
2
3
... e se vier aço
traço
_______________
_______________



trilhos pra chegar no cangaço

quinta-feira, setembro 21, 2006

.

pior do que não ter o que vestir é
ter ninguém para despir

segunda-feira, setembro 18, 2006

amor pela coisa


o amor pela coisa era tamanho.
foi à lavoura abaixo de lua, com enxada sem fio e plantou muito pau em léguas de terra seca.
extenuada de tanto carpir não se deu por satisfeita
foi à acupuntura cravar falo em todos os poros.
cravou tanto que largou a agricultura.
virou um porta-pica.


sexta-feira, setembro 15, 2006

doidilo

metáfora especial para seres que ainda têm muita estrada pela frente até encontrar uma rinha que aceite o seu galo de arrego.

passaram semanas, duplicados meses a esmerar-se em juntar gravetos para fogueira de São João. as unhas eram um mataborrão depositário de areia que já fazia esboços de carvão.
o São João de algum dia que estava para chegar era uma noite muito aguardada e provocava catastróficas poluções noturnas em suas cuecas. o guri mexia frenético no bilau ao imaginar aquelas labaredas chamuscantes a contrastar no breu do telhado da casa abandonada. ansiava arrastar as orelhas feito índio na terra para ouvir mais e melhor os estalidos da fogueirinha dos sonhos, e então queimar-se todo naquele fogo doido e virar um incensário fumacento e defumado pela brasa de chão.

a noite veio, de uma hora para outra, simplesmente caiu em sua cabeça como um balde que despenca da mão ensaboada. de súbido, o quentão veio junto com o balde, bueno, a gaita no chão já estava, pois que estalou os benditos beiços, assobiou, chupou cana, comeu pipoca, palitou os dente, bailou num pé com o outro fez mais festa, mas bah... que baita bailanta de gosto!
quando as chamas da fogueira atingiram o cume do céu, deu nishguit no guri doidilo! no auge da festa, decidiu mudança! queria chuva de verão. pegou a mangueira, esgarçou a torneira, e puts, alagou a casa inteira, lavou os gravetos e, meu deus! e a chama... que drama, virou passado. e o passado um novo plano - queria se molhar mais, muito mais do que ser poça de girino - queria se afogar folgado em um mar de água da Corsan.
doidilo e seu dedo no bilau... de sonho em sonho, chupou meio canavial.

terça-feira, setembro 12, 2006

all the best

To You, My Love,





All the Best Wishes for all you lovers




sábado, setembro 09, 2006

90' s junkie memories

às amigas de santa terra estrangeira, Juliana Sibemberg e Simone Zaslavsky, minhas eternas cúmplices de vapores escondidos.



perdidas entre tantas coisas que já não eram e tantas que deveriam vir a ser, exalávamos nossa bafuda humaneza sem a mínima culpa. nossas certezas andavam firmes nas muletas de um mundo, que ao contrário do outro, não nos cuspia na cara.

quem mandou?
olha aqui ó, Juliana, - quem te mandou ir pro Egito comigo? quem? quem mandou tu te ajoelhar naquela praça com um saco socado na mente? quem mandou tu escrever livros e livros em linha reta, babando de prazer enquanto eu buscava um prato de comida pra ti?
mulher, diga-me, se tu for capaz, quem mandou tu ter esse jeito parecido com o meu, justamente, para combinarmos mais ainda os delirantes descompassos de nossas vidas cruzadas?
quem mandou tu me apresentar as idéias de um Capricho dos Deuses, ou da ladra do Trem da Meia Noite, de Sidney Sheldon do ó, a essa alma inocente? e olha aí, e olha aí no que deu!
me inspirei no dio canne do velhaco e vim parar aqui, lançando sementes criminosas ao escrever tolices sobre tolices que julgo agradar gregos.
sim, és culpada, se não diretamente, de soslaio tens tua reba de culpa.

putakeospa
putakeospa, onde foi parar - eu te pergunto - onde foi parar o ciclo, o simbolinho fajuto do yin-yang que tu tanto rabiscou naquelas merdas de cadernos bege de pobreta doados por uma alma caridosa que nos colocou dentro daquele internato?
fomos para o Egito sem tirar nossos pés do chão, saciamos nossas torpezas tremendo agradecidas ao receber entidades em nosso corpo e... acima de tudo, acima de todos os Exús paranóicos e extraterrestres que desprezávamos, triunfamos no presídio. sim, triunfamos uma vitória sem lá muito gosto de nobreza, mas ainda assim, saímos montadas na soberba da vitória e podre de loucas, carregando um troféu transparente em baixo do braço, que até hoje paira em nossa inexistente escrivaninha empoeirada. güentamos, machas dominantes, até a reta final, o limite do insuportável ao cubo e sem arrego.

toca fogo no latão e chama a empregada!
toca fogo no latão e chama a empregada! (essa cena levo para o filminho do rewind do último suspiro a que temos direito) lembro-me que para dares fim ao duelo que travaste com a tua fominha rival, decidiste incendiar a maldita lata inflamável dos sonhos e, como uma vicking, que desconhece derrota, quase incendiaste o quarto para dar cabo da bossa.
ninguém ganhou a batalha, e vocês, duas babacas, com a maior cara de tacho jamais filmada, olhando, bem calmas, o pó de ouro perdido em noite de tédio invernal. a tua cara até que era digerivelmente cômica, mas a Zu... bah, a pinta se transformava em uma pusta empregada quando baixava um tal espírito que vinha não sei de onde. e de verdade, como odiei vocês, talvez porque amasse demais aquilo tudo.
afora os contratempos espartanos, nosso prazer sempre era sorvido lento, e a simples idéia de possuí-lo fazia-nos felizes de antemão, enchendo nossas carcaças de coragem a tudo arriscar e ter um níquel furado de sonhos para nos sentir inteiramente vivas.
fizemos uma escolha. não, duas escolhas. demos nossa cara para bater. e depois, de gorda gula, oferecemos a outra - a cara de dentro apenas pela mais pura dor de estarmos longe de nossa pátria mater salve, salve.


fodas mentais
pagamos um preço por nossas inutilidades cerebrais, e o substrato disso fez-se em sagrada seita junkie - cuja cumplicidade foi firmada pelas homéricas fodas mentais providas por nosso não-oficioso ministério fora-da-lei.
é, não tinha jeito, companheiras, nos perdemos no meio da estrada e não havia ninguém para nos levar um reles mapa norteador. mas afinal, nem queríamos. rejeitávamos a hipótese de que algum meio esboço de ser vivo nos encontrasse; queríamos era ficar perdidas, em roam e sem satélite, vagando sem rumo, com os morcegos da nossa imaginação sugando-nos até a última gota e, nós, claro, deixando-se ao léu da absoluta vampiragem.
quando achávamos o caminho de volta - era a deus dará e sempre no chão do quarto de beira de corredor em que jazíamos, inertes, padecendo o duro confronto com a cara irredutível do real. e o virtuosismo máximo da breguice de atar eram aquelas colchas desgraçadamente mal escolhidas - um colorido aviltante ao nosso estilo não-estilo rebel que nos ejetava para longe dos beliches. por isso, será? gostávamos, tolinhas inconscientes, do chão?

um passado que passou
luz do micro banheiro acesa, e os sons do sinos de Floyd a tilintar como as mágicas estrelas da amante do Peter Pan.
-meu, tu é a coisa mais ruim que tem desse lado.
-mas por quê? mas por que, cargas d´água, Simone, eu sou a coisa mais ruim que tem desse lado?
- bah, meu, não sei, eu só sei que tu é a coisa mais ruim que tem desse lado.
-logo, eu? pelo deus que te ouve, guria! logo eu que te amo pra caralho?
-ah, meu, não sei... foi o que apareceu aqui, oras. ah, esquece, cara, foi um passado que passou.
- tu é um cacete, isso é o que tu é!

cinqüenta encarnações
as estrelas continuavam a brilhar e a vida, como nunca, começava a valer a pena de novo, mesmo sabendo ser eu a coisa mais ruim daquele lado, e mesmo sabendo ser as estúpidas mãos dos que se diziam nossos salvadores que socavam a porta do quarto até rebentar de vez com nossa paz.
nunca ninguém atendeu. nunca ninguém atendeu quem batia em nossa porta. afinal, não estávamos lá.
a vida, nossa! como passa.
a nossa vida passa.
e a uva, gurias
também é passa.

se me perguntarem o que ficou dessa noite...
olha, ainda não tenho respostas prontas - o que ficou eu não sei direito. na verdade, cada copo sabe de seu residual depois do kerbe, mas prefiro omitir minhas verdades cavernosas. fica mais misterioso assim, fica mais chique sair pela névoa da tangente. o que eu sei é que a tempestade de insubmissão sempre valeu a pena, e por mais mais vinte, trinta, cinqüenta encarnações em cima desse corpo, juro, faria do início ao fim tudo de novo; apenas um senão eu mudaria: a porta fechada - sim, eu destrancaria.

quinta-feira, setembro 07, 2006

digo que fico


:

o hoje
em passos largos passos
foi sonhado com bandeiras
e sonhar com bandeiras
voando no vento da esquina que existe
é poético

com passos largos passos
digo que fico
a contemplar
o pano de minha terra
dançando no ar
e a passos tantos passos
lá vai ela a se soltar ...

:

domingo, setembro 03, 2006

mala mujer

à diva Ane Minuzzo, mulher godness das obras, um pusta pau para toda obra.


a noite cai e eu quero jogatina
matar minha sede de vitória roubando no jogo
fumando cigarro e triunfando sozinha
vem brincar, vem.
ou melhor, nem vem.
nem vem.

ah, te animou, é?
ai, larga!
por que me engalfa assim, hômi de deus?
larga meu sapato
ô, maldito carrapato
tá precisando é de um trato
tem certeza que quer no ato?
bem, já que suplica...
só aviso:
tu vai ser pato
ha, e eu não vou deixar barato

senta aê, cala-te e concentra essa cabeça
é assim, te liga:
tu joga com as pretas
e eu jogo com as vermelhas e...
meu bem, antes que eu esqueça:
se tu piscar o olho, não tem eira,
eu puxo a camanga bem de beira
ascendo um cigarro e finjo um sono
ha-ha, olha que bobo!

e quando tu menos esperar é xeque,
é crédito
meu
e débito
teu
mais alguma coisa que não entendeu?


ah, pára, nem vem que nem doeu.
só por que se fudeu.
beibe, jogo pra mim é Batalha de São Bartolomeu.


deu?

quinta-feira, agosto 31, 2006

tempus



quanto mais o tempo passa
menos tempo a gente tem

quanto menos se o tem
mais se faz aproveitado

ai, esse tal tempo engolido
nunca é regorgitado

e quando arquivado
é clips enferrujado

quiçá lembrado
de ser anexado

segunda-feira, agosto 28, 2006

basídio




Os cogumelos são flores súbitas dos magos
nascem do encanto da chuva comprometida
com os malucos beleza

sábado, agosto 26, 2006

cris


a crespa crimonosa
é crápula sem critério
credo
a cretina craveja quem critica
e na crise cruenta
é fogo cruzado
com olho crispado
e tu, criança, crucificado


cruzes, criatura
que criancice
cresce!

quinta-feira, agosto 24, 2006

o sorriso do lixo

em casa, nenhum pão a repartir com os filhos.
em seu bolso, uma cobreada moeda havia.
todos os dentes na boca. nenhuma oportunidade na vida.
a expectativa do riso surgia das sacolas rasgadas.
todos dentes na boca. alguma esperança de vida.

segunda-feira, agosto 21, 2006

o poço

a náusea nada na saliva. e a saliva transborda na boca. e na boca a verdade é vomitada em vertigens que levantam a arma que eu ainda não tenho para matar.
não brinca com fogo. eu sou um poço de butano sem remorso.

domingo, agosto 20, 2006

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quinta-feira, agosto 17, 2006

em bálsamo negro


olhos cerrados no refúgio do quarto protetor. venha, bálsamo negro, para eu aos poucos escapar no ir me indo sem medo de chegar logo lá. daqui a pouco mais - sumindo, indo, indo, beeeem distante, eu vou estar.
os sons daqui começam a ficar baixinho e, de repente, a respiração da barriga é acordeom bailante a selar os arenosos olhos de chumbo que já nem abrem mais.

cheguei de lá. tá escuro e é tão bom agora. que dimensão abafada essa.
não existem cá os magros cavalos chicoteados por impiedoso braço padrasto. não vejo bocas que ao lixo buscam a continuação da vida.
ai, que bom ficar aqui. os lagartos pensantes roendo o mundo onde pousam seus pés vis que outrora chutaram os índios, são apenas esparsas lembranças desencontradas de dejavu. os canalhas do governo, a bestialidade do islã, os alcólatras perdidos, os desalmados deboches das putas sem escolha nas miseráveis províncias esquecidas, começam a ser deletados como bolhas de sabão topando em casuais pregos da memória.


o lixo amontoado, a merda do esgoto, a bomba escondida, o riso comprado, a ignorância do mundo, as ignóbeis quimeras cobradas, os amigos que não voltaram, o terrorismo cego, foram tudo uma grande conspiração maquivélica da lagarta matrix.
a fumaça do cigarro fétido jogado na cara por ter sido sincera, agora é orvalho de flor de louca dama, que sublima gotículas brilhosas em minha face e, meu deus! no céu, acreditem! uma vasta liberdade lilás - gaivotas em vôo branco ruborizadas pelo sol que faço ir poente.


agora eu danço e meus cabelos são orquídeas em ciranda no ar que me volteiam em moldura aureolar. sou um anjo demoníaco do orquidário e meu o relógio é congelado com neve da Lapônia. mudar as horas? apenas se eu quiser.
e se, então, caso querendo de verdade, faço piscadela de borboleta namoradeira e derreto os flocos de gelo para então dançar brincando no compasso tic-tac. e quando o vento sopra o tempo, danço leve, danço como as crianças alegres sem medo de tentar errar.


uma porta à dimensão mágica foi aberta. é aqui mesmo um grande lugar para ficar. agora vale a pena recomeçar os planos soterrados.
quando as pálpebras alongam os cílios, o mundo aqui de dentro gira, rodopeia a comandar a minha doce liberdade sonhadora do ar.

quarta-feira, agosto 16, 2006

espelhos de dentro

os pensamentos volteiam randômicos na cuca. transladam o jeito sul lá na ala norte do bronx desabituado a jeitos sulistas, mas bah, pra ti vê, tchê. fica tudo misturado como novelo de vó cansada e a entropia se institui celeste nos neurônios da senhoura desse espaço.
as vagas naturalmente empurram a espuma dos miolos entoxicados lá pra beira da praia do cabeção e o resultado desse solto vai-e-vém de águas espúrias é que curtos- tzzzz- tzzzz- tzzz - se entrecruzam cá e lá, lá e cá, me deixando de arregalada cara-a-cara com o outro eu bem mais hediondo que não queria ver pra continuar na ilusão de que a minha outra metade não é francamente endurecida de verbo. não! não! eu não quero ver o oco!


eu alongo. faço, sim - faço alongamento de músculo tamanhos. sou vaidosa da mente e do corpo. mens sana corpore sano, ai, claro, todo reles mortal sabe escrever essa merda de frase. mas a real é que esse clichezão dos Césares resumem um ideal cultivado desde que percebi coisas do corpo e da massa cérbera como interligadas cúmplices.
meu, não tem essa. corpo e cérebro andam juntos, e a excusa de estar caidaço e molengão, desculpem-me a franqueza mordaz - é a escolha deliberada de ser o que se é sem a mínima ambição de ser pavão.
mas enfim, escrevo, enrolo, e nada de novo acrescento, reparou? e, vejam só, mais um dia transpassa a folha do calendário impiedoso do tempo.
pôxa, difícil questã essa ...
não queria dizer de imediato, mas...
agora, azar, lá vai:

ora, de se deparar, assim, no más, com o não-ser funcionária pública da palavra como havia imaginado durante todos os dias deste ano.
put´s. isso acontece quando eu limpo os espelhos de dentro. a realidade chamou o limpol que fisgou meus torpores com anzol.
puxa vida, que besteirol.

segunda-feira, agosto 14, 2006

alô, terra?

Alô? Alô?
Terra
câmbio
planeta Terra chamando...

...

..

.
a chamada não pode ser completada.
ondas sonoras não se propagam onde há vácuo.

quarta-feira, agosto 09, 2006

tumor doído


a atéia reza todos os dias
extirpar tumor é doloroso
e dói
dói por dentro


entre amargores
que sobem lavando
os olhos imersos em sal de dor
rezo

sábado, agosto 05, 2006

fiat lux

luz
luz na cabeça
luz dentro da cabeçorra
luz alumiando cabeça escura de porongo
luz luzindo o zulu da ingratidão
luz no porão desse mundão
luz,
clareia esse povão,
luz