quinta-feira, novembro 30, 2006

7 vidas



7 vidas não são à toa
e até a última gota o importante é ter garra
garrote afiado e tino aguçado

olha! bota atenção i se bobear leva pedra
e no salto ousado não pisca não medra

olha! a silenciosa liberdade das ruas
mira! o vazio é regalo de galo felino

e o cat pulando, escondendo, saltando, fugindo,
gritando na briga que sangra o pelego...

e depois do triunfo a custo de hemácias
a derrota do arrasto já é uma vitória.

e no caminho de volta, um olho vazado
i ! meus deus! ele pronto está para outra estória


mas como?
e agora?


o agora é a glória e o depois já passou.

corre.

ainda restam vidas.


segunda-feira, novembro 27, 2006

lume ao chorume

homenagem aos que mais admiro na sociedade: às pessoas recolhedoras do lixo, que pontualmente e abaixo de chuva, correm arfando o sino da goela para deixar o asfalto mais digno da tua pisada.



sinto que estou sentindo que sou de sentir:

sou um nada garantido vivendo em um tudo comprometido.

uma bronca alma lamentando o estrume

perna abaixo do mundo de chorume

e se ainda houver um lume

aumenta o volume a esse peixe sem cardume

quero ouvir da tua boca se ainda resta brilho,

ou então um vaga-lume

aos lixeiros de betume

que executam sem queixume

a limpeza do pretume.

sexta-feira, novembro 24, 2006

decide o título

querer reproduzir as belas letras é tão ruim quanto querer ser coerente. então assumo minha fraqueza literária, assim como assumo o bostedo bem cagado pelas minhas tripas de classe média ideológica.
reparou? estou a digerir dores para transformar em palavras e, aleluia, irmãos! glória magister patris! aprendo a gostar dessa demora ruminante tal qual um espartano de se refocilar na guerra.

não, não sou e nunca serei um reles pó da história que se acobarda perante as espetadas da verdade. ao contrário - torno-me mais forte ao descobrir que minha razão de viver é desnuda de escudo de terceira pessoa. e assim vou seguindo, vou pagando o preço de envergar estampa ácida. como? talvez um dia eu conte. mas ainda não sei se merecem.

minhas balas têm ferrugem, porque ser cortante não basta, e aliás, pouco me importa ser um exemplo promissor ou maldito, apenas sei ser mulher do meu tempo, o pretérito que se cumpre, por bem ou por mal desta raça. e se esse jeito é errado, eu já não sei de mais nada, apenas deixo à posteridade considerar. enquanto isso, eu sigo os sinais pelo caminho da purificação.

o verbo primeiro é eu cago, e mesmo assim aqui tem jogo limpíssimo, porque a vida cobra tudo. e eu posso esse tudo e assumo sem preâmbulos - não tenho uma teta de piedade de gente mascarada. e.. e, e, e ... iiiiiii sei bem o preço dos meus sonhos e conquisto sem hesitar mesmo se for a tiros. e caso, por piedade, decidas me dar um crédito, palavra - eu te restituo a juros, beibe. tudo isso e tudo o que tu nem viu ainda, porque eu não medro um cisco de morrer.

é, não chega perto. a hidrelétrica tem louca descarga.

segunda-feira, novembro 20, 2006

o médico e a joalheira

Hoje tento escrever com letras maiúsculas no início da frase, apenas para testar o limite suportável desse meu desconforto besta...
bem, apresento-lhes uma cena da vida mais do que real de quando eu percebi que o meu drama, de fato, é estar no mundo.





Envolvidos em seus afazeres em uma bela tarde dominguda, José avista uma faxineira limpando os vidros no décimo andar do edifício em frente ao seu.

- Yara!, Yara! Olha lá!
- Ai, José, agora não posso, estou fazendo as minhas unhas.
- Mas, amor, olha, olha rápido! Olha! Porque eu acho que aquela mulher está com a linha supra-umbilical passada do vão da janela!
- É, dizem que aí é que está o segredo do bom equilibrista: umbigo sempre pra baixo da linha do perigo.
- Mas , Yara, olha, olha lá!
- Tá, José, eu estou vendo o esmero da negrinha.
- Bah! Mas ela vai despencar limpando os vidros daquele jeito, meu deus!
- "Bah!", digo eu. Era bem essa ali que a gente precisava pra limpar aqui em casa.

BUM!

- Yara! A mulher caiu! A mulher caiu!
- José, só um pouquinho, tu ainda não te deu conta que estou pintando minhas unhas de vermelho! Ou tu esqueceu que essa praga da risqué é um parto para tirar o borrado?
- Mas Yara...
- Mas José...estou sem acetona!

sexta-feira, novembro 17, 2006

tortas linhas retas

gostam de anedotas de abstração?
hãm? hãm?
a coisa é mais ou menos como bater a cabeça no vazio para colidir com o não-senso, esse tênue triz de coerência do mistério que nos envolve e surpreende.


"sobre uma escada um dia eu vi
um homem que não estava ali;
hoje não estava à mesma hora.
tomara que ele vá embora."


quarta-feira, novembro 15, 2006

atlântica teta

(sim, aprendi a fórmula de fazer estorinhas para blogs: pequeninhas e ordinárias) não gostou? ah, que pena. então, por que tu tá aí?



não a olhavam mais. mesmo cruzando as pernas, imitando Sharon em estinto selvagem, não a olhavam mais.
os tempos de poder e glória agora eram sinônimo de sertão esquecido. porém, a heroína maria bonita não desistia de alimentar-se dos radares olhares de outrora.
desconhecia derrota e, no final das contas, sempre saía vitoriosa de alguma forma.
a nova estratégia estava dando certo - sacava um atlântico seio para fora da blusa e fingia olhar perdido no horizonte. era lindo aquele olhar e ela apostava todas as fichas do game no infinito de dar seco nos olhos.
a sua retroalimentação umbilical de olhares agora prosseguia com êxito absoluto. todos a olhavam. todos a olhavam muito - na linha abaixo do rosto. miravam, estaqueados, aquele gordo seio pendurado.
feliz ela? talvez, por dentro. pois fora o olhar vagueva no infinito.

terça-feira, novembro 14, 2006

auuuuummmm





fazer arte, essas coisas do mal inevitavelmente bem feitas, pode redundar em perigosa e fascinante lição de amor.



sábado, novembro 11, 2006

uma questã de tempo



eu me desliguei daqui sem desligar.

os últimos dias têm parecido anos de prisão lá fora.

há tempo não há tempo para o tempo.

terça-feira, novembro 07, 2006

;


... tocou no ponto que não é tocável, desenterrando o pior da minha condição humana - a dor. e, justo por isso, ergo agora um monumento invisível ao escarro de meu mais profundo repúdio: a ferida em mim aberta à faca por amor tão forte que esgota a paixão por força do ódio.
essas escritas torpes, que sei por fortes lâminas vocabulares, são zonas intermédias da vivência que estampo sob códigos para apenas poucos captarem. tudo de mais oculto se contém nessa escrita. logo, já não escrevo para os que me lêem e por aí nos ares planam escondidos, ou sequer escrevo para o egoístico deleite meu, e enfim, já não escrevo para ninguém mais, e alma penada alguma. apenas vagueio os dedos cortados entre as teclas por puro vício de parir palavras, e milagre é sair alguma coisa que o valha.

não adianta mais enrolar, chegou o tempo de admitir o que talvez a metafísica constitua para si como um incômodo passageiro: o comixão de minha insignificância que beirou às raias; e admito, sou fruto da semente mais demente do papai fincada no óvulo pontual da mater fucker em 76. na boa, viver é difícil. e a esperança? bom, por enquanto, sei que rima com dança e, então, só peço aos deuses que me concedam o belíssimo nada que lhes pedir antes que eu adormeça o meu vulgar sono de pão, malabares e estradas sem mapas sob o céu de photoshop.
agora, leitores, vou-me. portanto, dizer mais é explicar o que de nada serve, e dizer menos é mentir. as palavras... vejam só! estão falando por mim na mudez imperativa do agora, e se bastam, rainhas, com a voz que lhes é própria.

sexta-feira, novembro 03, 2006

¨



aqui não tem marionete. tem um animal sem coleira cuja liberdade não é mera conquista. é uma sanção com porte de arma.


quarta-feira, novembro 01, 2006

língua de fogo



não posso ter atitude de feto enquanto o meu pulso pulsa taquicárdico; então chafurdo aqui, comendo na mão irascível dessa escrita ao tentar ser uma hércules nodosa de palavras que esconjura verbos até enfartar o coração de sarcasmo. e depois disso, confesso: não há nada que se possa fazer... é falácia, leitor, brotando como fungos na umidade da minha verdade.