quinta-feira, junho 29, 2006

lágrimas por Marias

O despertador tocou dissipando todos as sensações amargas da noite que se foi. Alcácer Quibir, meio ereto, mas ainda cambaleando, apoiou-se na borda da cama vestindo o seu robe de pelúcia antigo. Esticou os lençóis varrendo a saudade, que, como farelos, espetou-lhe os sonhos durante a madrugada. Viu leves movimentos na rua e então, dirigiu-se ao criado mudo, encheu a mão sobre a superfície do móvel colocando no bolso um punhado das muitas balas que lá haviam. Caminhou arrastando os chinelos até a porta da sacada e deteve-se nas crianças que brincavam num louco vai-e-vém. Mirou nos postes de luz os costumeiros pássaros equilibristas daquela mesma hora de sempre, crispando os olhos desabituados à luz matutina. Chamou-lhe atenção pelo revezamento de cores o tecido xadrez do vestido de uma menina que brincava conversando com seu urso sob o arbusto da entrada do prédio.
Esboçou um sorriso enferrujado a ela, encontrando, meio de súbito, a solução para a insuportável dor da saudade vivida depois que Maria Morena se foi. Fazendo gestos lentos com as mãos, comunicou-se com a menina de tranças que balbuciava ternuras com o seu brinquedo. Alcácer através da cadência ondulante dos dedos a girar entre si, propôs uma troca. Sua voz não saía. Tentava, emergir sons de dentrode si, mas nada saía. O mundo havia amanhecido mudo e era o dia das palavras desnecessárias; e por isso, a menina esforçou-se em entender o que o desejo aprisionado de Alcácer não conseguia dizer com os lábios. Ela fez menção que sim, que aceitava aquilo que ele propunha, baixando e levantando o pescoço em um intermitente movimento assinte de cabeça.
De repente, Alcácer arrancou a própria cabeça do corpo e lançou-a por entre os galhos secos junto às balas azedinhas que estavam em seu bolso . Tudo vôou muito rápido ao colo da pequenina menina. Ela recebeu a si os objetos, guardando as balas como tesouros na bolsinha atravessada ao corpo e enamorou-se perdidamente pelo rosto de anjo triste que em seu colo buscava aconchego. Abriu delicadamente mais os olhos da cabeça, ajeitando os cílios de modo a dar às pálbebras forma de trombinha de borboleta. Mas os olhos insistiam em se fechar. Então, sob um enorme esforço indizível, quebrou o silêncio conseguindo murmurar algumas palavras em um sussurro ao pé do ouvido de Alcácer:
- Maria, meu nome é Maria Naremo. E os olhos da cabeça começaram a verter lágrimas. As lágrimas eram de um azul muito azul da cor de mar e começaram a tingir o colorido do vestido. Na comoção que não cabia mais no coração de Naremo, arrancou a cabeça de seu urso, lançando-a diretamente às mão de Alcácer que, sem rumo, ainda estava na sacada.
Naquele instante muitas coisas mudaram. O gesto de Naremo fez com que ele pudésse sentir muitas outras tantas de novo. Com a cabeça de urso entre as mãos, Quibir sentia que havia conquistado algo novo, diferente de tudo e com um delicioso sabor de infância. Colocou a cabeça de urso em seu tronco e sentiu um enorme desejo de se lambuzar de mel. O amargo da saudade de Morena agora era desejo mais intenso de mel cristalizado na boca de um novo Alcácer que nascia com novos olhos. E sentou-se na cozinha a lamber um pote de mel.
Naremo ainda sentada lá em baixo penteava os cabelos da cabeça chorona de modo a fazer-lhe penteados marítimos dos reis dos mares. Depois de enrolados os caracóis nas melenas do brinquedo, pegou o lápis da bolsinha e começou a fazer-lhe desenhos de ondas no rosto. O xadrez colorido intimidou-se com as tantas lágrimas vertidas e subiu para o tronco. O vestido de Maria estava agora diferente - todo azul e brilhava muito, como diamantes puríssimos em uma linda sereia que brincava molhada em baixo da árvore.

segunda-feira, junho 26, 2006

o rubro mártir de pregos

Foi nas brincadeiras de criança que Mohammad Hilu aprendeu a amar Alá. Uma cambalhota aqui - um beijo no alcorão, acolá. Três pulos lépidos na educação física - três Al Auákba balbuciados no descansar. Para achar os escondidos da cabra cega de lá - era o entoar dos cântico Al AcQsa de cá.
Cresceu adorando Alá e seus ensinamentos proverbiais. Aprendeu que o paraíso é possível e existe por sobre as cabeças dos merecedores da glória - e a escolha de adentrá-lo é meritória empresa afeita somente aos fortes. Um busto em praça pública leva o salvador do islã que não pestaneja ao prescindir da existência. Decidiu, então, que seria mártir e nada alteraria as já traçadas linhas de sua vida. Sua missão nada mais era do que honrar o sagrado livro ismaelita acima das prêssegas borras de café do fundo da xícara que lhe anunciavam vida longa.
Sapatos novos imaculam os passos sangüentos no céu em dia de subida. Libertação pelo corpo acinturado de bombas. E antes de empreender o ardil, a genitália jamais deve ser esquecida de se enfaixar com gaze antes de lançar-se os ares. E pregos, muitos pregos consigo. Setenta e duas virgens esperam o mártir que não conhece os negaceios dos que têm dúvidas.
Cidade santa, o sonho acalentado de todos os seguidores da Jihad. A Jerusalém multiétnica é redenção idealizada em dias das brincadeiras infantes dos que sonham em ser heróis.
As gazes haviam há muito na gaveta. No armário, sapatos novos para um dos casamentos mais próximos. Na cabeça, a kafia envolta em planos ainda incompletos por detalhes ínfimos. Para a libertação na subida, sabia que crivar peles era o de menos. Mas faltavam os pregos.
Na manhã de quinta-feira decidiu que era o dia clandestino. Viajou como doente transpondo a barreira de Gaza em ambulância do Hamas. Ao chegar em Jerusalém desceu à avenida Ben Iuda, entrou em uma ferragem para comprar três sacos de meio quilo de pregos. Em cada porção da indumentária com divisórias adredes, os dispôs diligentemente. O cinturão de bombas enfeixou por sob as roupas sobrepostas . Caminhou à estação de ônibus escolhendo a linha dos jovens estudantes. Leu mais uma vez o Corão, enfiou-o no bolso às pressas e subiu as escadas com uma convicção inabalável que lhe deixava os olhos estáticos no nada. Posicionou-se ao centro do veículo sem se ater aos poucos lugares ainda vagos . Gotas de suor sudavam-lhe a testa e sentia um frio que vinha de dentro da sua alma.
Três estações após a partida decidiu mostrar ao mundo a sua causa. Escolheu o momento exato como imaginara nos esboços da véspera - em frente as lojas da avenida principal. Nesse momento já não sentia mais o frio, apenas o desejo de liberdade em frente às vitrines da cidade.
Antes de ônibus ganhar movimento dianteiro vociferou :
- Al Auákba! sacando o pino ao estopim. Entre o istmo do barulho e o depois - o caos - o tudo apocalíptico, o inexplicável mar vertendo sangue em córregos. Mar vermelho corrente no chão de pedra. Vitrines lavadas de rubro cólera na cidade santa. O sonho de Mohammad em meio a fumaça da explosão. O frio de sua alma agora era o fogo junto aos pedaços de carne incrustradas por pregos que jaziam na calçada junto a muitos livros. Escalpos e vísceras no asfalto, mochilas jogadas em meio aos destroços e a lataria do ônibus estourada cuspindo poucos corpos ainda vivos.
O mar vermelho abriu-lhe passagem por entre os gritos horrendos dos passantes e luzes das sirenes. Na calçada, jazia ao lado do livro sagrado, Mohammad. Semi-nu, de pele queimada e com o desfacelado rosto molhado na pastosa poça de sangue. Uma armadura humana coberta de pregos. Apenas o gaze intacto. As escassas gotas trazidas pela rala chuva tingiu o chão. E no chão, ondulando as folhas ao vento , o alcorão, cada vez mais cobre.

sábado, junho 24, 2006

iô-iô

::
iô-iô,
em tempos de provas não nascem idéias
apenas vontades de tecer tramas
de cachecol de lã di lhama
pra te enrolar direitinho
nos malandros meandros
que eu armo
pra ti
::

quinta-feira, junho 22, 2006

!

os ovos estão ficando otimistas.

quarta-feira, junho 21, 2006

bunda cívica

meu bem, há um ligeiro equívoco em dizer que o patriostismo arfa nos peitos envergados por T-Shirts cinco estrelas...
a independência da terra das bundas foi comprada com baldadas de ouro.
relax, beibe, um país que compra a sua independência jamais será patriótico!
digamos que..., de sobejo, nutrimos pelas entranhas da terra valerosa, um indiscutível tesão cívico ainda inexato de ser avaliado, porque cá pra nós, os vapores do pão líquido obnubilam o racional....

terça-feira, junho 20, 2006

monday self-portrait

tchaka tchaka
querendo ser butchaka gilette
no autoretrato da segunda sem lei
de cem vezes tédio bem cabeludo de selva
a lâmina, a lâmina,
mina bandida,
não é pra ser lambida...

sexta-feira, junho 16, 2006

silver hair and mr. time

Vivente, tu já parou pra pensar no que te deixa com os cabelos brancos? No ponto, seja ele partícula ou pedrão, que te desaloja do teu eixo da sanidade? Well, enfim, cada um de nós possui a sua questão paradigmática, a gota d´água transbordante dos nervos que faz o espírito perder a estribeira e virar um híbrido centauro - só que no caso aqui, ao contrário - com a cabeça de um cavalo bufante, por viver situações tantas e intoleráveis da vida, mesmo você não sendo um pure head horse with human being´s blood?
A coisa que mais abomino é esperar. Esperar retardatários, para mim, é passaporte certo para eu perder todo o clima de entusiasmo ou de alegria por durantes algumas boas horas, chegando ao cúmulo de não haver prognósticos para o desarqueamento das sobrancelhas. Posso até fingir que dissipei nuvens cinzas, porque viver em sociedade, fatalmente, nos impele, desde tenra infância, a lançar mão de necessários recursos de atuação, mesmo que a contro-gosto. Faz parte do jogo das relações encenar o arco-íris e cantar o sol e chuva é casamento de viúva depois do mau tempo que já se foi. E quem não o faz, me desculpem, é ermitão dos brabos.
Dispor meu tempo para ruminar o atraso de pés que nunca fazem chegar me é incontrolavelmente sufocante. O tempo esvaído possui uma conotação valiosíssima pra quem não o dispõe aos baldes; e saber que ele simplesmente se foi, na airosa bandeja da disposição à toa, sob o guardanapo, com limão, bolinhas de gás e gelo para os goles do ministério dos ares que não serão bebidos, é motivo pra eu desejar pragas mesmo aos que mais amo. A verdade é dura, leitores, mas todo mundo tem seu lado enegrecido. Ou pensas, tu, que falo somente de flores, amores e poesia?
O Tempo não Pára, grande Cazuza! e seu eu fosse teu empresário, seu poeta-anárquico a James Jean desse céu tão grande, teu disco ia ter sido O Tempo não Volta. O tempo não volta, não! e não passa pra mim quando há a eternidade dos passos de um lento alguém despercebido com a minha bunda amassando esquecida no assento.
Passos lentos no retardo dos ponteiros, puts! na bucha, são os avais certeiros para obscurecer minha visão acerca da humanidade e de sua tão discutida evolução astral.
Esperar 10 ou 15 minutos, eu engulo, finjo que não é nada, lustro as unhas na lixa gasta do estojo e, meio que tento, refletidamente a cada quarto de segundo, convencer a mim mesma de que estou ficando velha; mas depois meia hora no banco, meus senhores... definitivamente, minha narina sardenta despede-se dessa característica tão humanóide, e uma chaminé maria-fumaça apodera-se das minhas ventas e venta muito! Aliás, venta furiosa, expelindo o vapor condensado dos momentos de aguardo sem importar-se minimamente em fazer sauna a quem quer que seja. Afinal, desintoxicar-se do ódio pela perda do tempo que não tem seguro e que não vai voltar, pôrra, é necessário! Não acha?
Existe uma oceânica diferença entre fazer o tempo passar, e fazer o tempo esperar. Passemos, preclaros, a segunda análise da afirmativa por uma questão de objetividade. Fazer o tempo de alguém esperar, corresponde, nada mais, nada menos, do que roubar acintosamente a virilidade dos ponteiros alheios. É esquecer, sem dó, dos giros da ampulheta universal e ainda, descabidamente, fazer com que ela crie asas pontiagudas de morcego voando às cegas... a assim deixá-la... girando e voando ao léu, só porque é quase um batman em inércia abandonada e qualquer coisinha... ah, ela chama o Roby.
Fazer o tempo passar, tchê, é o agora acontecendo, é tu aqui, me lendo nessas últimas linhas (se é que conseguiu chegar até o final), não se dando conta das coisas que têm a tua volta e, principalmente, que nem existe o tempo...
há tempo.
E quando vai ver, fupt!
já passou.
E então? Foi legal passar aqui, não foi?
Claro, eu não te fiz esperar por nada.
N

terça-feira, junho 13, 2006

woodstockball

Não adianta fingir, muito menos fugir, o mundial domina todas as atenções e sobrepõe-se a todos os assuntos do momento. A vida, a cidade está toda coberta com a horrenda cor verde-amarela por todos os lados. Vitrines, roupas, chaveiros, bonés, propagandas vertendo, com profusão, a ideologia de ser o melhor do mundo na arte do drible. Haja santa paciência. Ligar a televisão é permitir banhar o cérebro na enxurrada verbal futebolística que está no ar, e cada minuto, cada tropeço, cada pulinho, piscadela ou arroto de jogador de algum canto do mundo é aproveitado para fazer alguma reportagem.
A Copa é a mídia; e óbvio, sem a mídia, a Copa seria mais uma sucessão de jogos pra ver na tardinha de um final de semana, ou se não sabático, ou de domingueira, seria sem direito à folga do trabalho para se esgualepar gritando lá vem gol, lá vem gol, lá vem gol, junto à voz douta do Galvão .
A lavagem cerebral beira o ridículo dos seres que tinham a chance de ficarem calados e icólumes à queimação de filme. E como é triste ver esse planeta dos macacos carente de bananas. Tupi or not Tupi? That´s the question. But now, the answer is Tupi, bananas e Ronaldanas.
Enquanto os outros países contam com 60 ou um pouco mais de jornalistas, o Brasil está com 160, todos ébrios de seus peitos cinco estrelas valerosos, socados em salinhas, transmitindo as bolhas que vão e que vem de Ronaldo, preferências entre meias azuis ou brancas para a estréia, comparações entre as gerações da camisa 10 de ontem e hoje, amontoados, febris, fazendo enquetes de "quem chuta melhor? o destro ou o canhoto? ", ou então, falando abobrinhas de casualidades ou superstições, dando pitacos antes mesmo do juíz apitar a partida... e tudo isso, preclaros, com a farda cor côco de pássaro envergada num lombo que sustenta uma cabeça que deixa a boca rir sozinha de um não sei quê.
O resultado no placar, às vezes, importa menos do que aquilo que rolou na imprensa antes ou depois do jogo, e fazer clipe clichê é vanguarda inegável- assim como o pretinho básico está para todas as mulheres que saem à noite, o clipe dos machos dominantes em campo e seus bíceps femurais em movimento está para a estampa da camêra nesses dias de junho ...
Bom, pelo menos, no randevous desse woodstockball ideológico, o Fenômeno voltou a mostrar que faz jus ao título, e aliás, deu um belíssimo drible no chefe da nação, justamente na grande área das metáforas futebolísticas e auto-estima. Revidou com firmeza a insinuação de que estaria acima do peso e comparou-a às fofocas sobre as pujanças alcoólicas presidenciais. Lula, o goleiro-presidente, poderia ter ficado sem esse frango.
Ué, talvez, o Führer da Silva absteve-se de dar o troco, porque a mídia poderia colocá-lo contra os jogadores; e, neste momento, se existe algo intocável neste país, não é a Constituição. É a Seleção. Enfim, já sabemos, já sabemos de todos esses truques cíclicos que vão e vêm em nossas telas - é necessário entronizar seres, já que, dificilmente, conquista-se reconhecimento por algo bom, made aqui.
É, quem nunca come azeite, quando come se lambuza.

segunda-feira, junho 12, 2006

que dia é hoje?

hoje é dia de abraçar, dar beijo bom e ficar em silêncio
porque a voz lá de dentro quer a palavra
silêncio, a voz de dentro é juíza togada
ela bate o martelo - e a sentença do dia é fazer poesia!
o bulbo, na quietude do inverno - TUM-TUM-TUM no peito
e tu, veja só, nem pisca direito
um olho no outro olho agora demora
pois não é que é a hora?
sim, é hora
de brincar com palavra amora
separa, não chora
eu não vou embora
brinca, ora!
é só amor - a
em amor há
e há?

domingo, junho 11, 2006

pega e cola na cara

óculos, occuli, mishkafaim, sunglasses... será que em todo o mundo existe esse muro da veste ocular?
ah, se todas as pessoas usufruíssem da luna de olho para ver o mundo mais ao cerne de sua essência... provavelmente, coisas tantas e inesperadas seriam reveladas; aliás, as mesmas coisas, no mesmo cenário sob outro viés, tal qual um vivo negativo ao vivo.
e, tu, que está lendo, aí? já percebeu a vantagem de ter uma luna pegada na cara?
pena que à noite é piegas sair de cara velada.
o olhar por olhar, o olhar sob o ímpeto do interesse pelo diferente, já reparou?, não pode demorar-se pousando, e mesmo sem pretensões segundas ou centesimais, quando dá vontade de ficar analisando cada pedaço de um alguém interessante ou nem tanto pelo ante, não dá pra ser assinte declarado. que pena. é tão bom ver a fundo o tudo do mundo.
de onde vem esse instinto do não delongar o olhar? provavelmente, preceitos mezozóicos dos primórdios, cuja fixidez da retina na outra, convite era ao desafio corpo-a-corpo.
parar para fitar mais tempo aquilo que sem o óculos seria mais um olhar disfarçado de seguir protocolo de conduta, é ver lá mais lá dentro da coisa toda e em todos os seus pormenores.pocotó, pocotó, pocotó com ferradura nos protocolos!
o fitar radiográfico pode trazer muitos significados a respostas de perguntas não perguntadas. afinal, é tão ímpar ver as imagens humanas, encaradas de perto e quando o outro não percebe! justamente! justamente! vê-se mais porque não vêem que a gente vê.
enfã, seja na itália, seja em pequim, ou lá na vila jardim, o óculos é um pára-quedas de acrílico, uma veste durona que permite vôo sem sair do chão - pode-se, no exato foco do interesse, congelar as vistas e não quedar ao belo sem conferir poder ao seu detentor, rir do ridículo disfarçando que é da revista; e, claro, podemos alçar vôos outros com as coisas loucas e esdrúxulas dessa vida, embriagando os sentidos da lucidez com aperitivos, que não seriam aperitivos quetais sem a luna.
em tempo, não é bom alimentar egos com o olhar - um olho alimenta um outro olho; e nem sempre aquele vistado é merecedor. o bom é deixar sempre a dúvida do porquê do não-olhar!
luna una, luna duna e tu, toda tapada - e o mundo, ali, desnudo, de frente, em todos os seus matizes.
pega. te apega e cola na cara.

quarta-feira, junho 07, 2006

suada pele de álcool

continuando a nossa conversa que nunca iniciou, confesso que tenho sentido muitas saudades da infância e do tempo quando tudo era mais verdadeiro e não havia essa hipocrisia aos cântaros, vertendo a ladeira da existência. com licença, dalvinha, vou acender um charuto em meio ao incêndio que enegrece a tua imagem.
would like some drink? tem cachaça, tequila oro, martini, vinho cavalleri e cachaça de itapuca.
bah, pena que deixei a máquina do tempo na casa antiga. ah, máquina do tempo... só ela poderia voltar atrás e estabelecer a minha consideração genuína por ti. mas a escolha foi tua, trocaste uma parceria de data por uma suada pele de álcool. acontece. as escolhas são caminhos intempestivos, mesmo... e de repente! pum! caem de pára-quedas dois porteirões estaqueados e verdejantes, - duas trilhas de uma vez só piscando um alerta intermitente com a purpurina do Laffon. se apresentam como relógios-cucos, tic-tacs loucos e alegres, sempre pontuais abrindo portinholas convidativas a celebrar o tempo... pena que a gente sempre escolhe aquele cuja mola é mais fálica. pena essas escolhas fast food com molho branco. a gente confunde tudo. eu sou a pequena brincalhona da mola soldada, não tenho um molão, não bato um bolão, mas sou amiga acima de todas as coisas.
- mais um martini?

segunda-feira, junho 05, 2006

aliens na escolinha

aqui, quem redige é miriam wordsworth, e segue nas linhas abaixo, a entrevista bombástica com uma das aluninhas que tem a camiseta suja de vômito em virtude de acontecimentos estranhos que ocorrem em sua escolinha de gente crescida.
esse vômito, Mariana, de onde vem? o vômito vem da minha verdade mais pura. a coisa é incontrolável, e eu sofro cada vez mais por ter que ficar com a camisetinha colada com peptina gástrica no peito.
e tu não tem vergonha de ficar vomitada andando por aí? vergonha eu tenho, né, mas na verdade, essa sopa que sai de mim é uma manifestação assintomática quem vem sempre quando estou na aula de sexta.
mas afinal, quais são os dias que andas vomitada? sexta-feira.
por que logo nesse dia tão out? ah, depois que uma nuvem começou a entrar pela janela e largar uma chuvinha em microgotas por toda a sala... eu comecei com isso e, talvez seja um dos motivos que está me deixando assim.
mas tu não tenta te limpar? tentar eu tento. mas o vômito volta quando eu entro na sala de aula e vejo as coisas que têm lá dentro.
que tipos de coisas? nuvens, monstros, muitos monstros que gargalham exalando um ar ácido por todo o ambiente. eles fingem que são alunos, mas quando a professora vira de costas, eles voltam a forma que têm no planeta Pata Medalha. bem, pelo menos foi isso o que me falaram na última aula. disseram que gostam de coabitar o espaço com seres que se julgam superiores. e o que me amedronta, Miriam, é que eles pegam essa energia dos pretensos déspotas pra ficarem mais fortes e, então, continuar a exalar o ácido pra fazer com que os alunos mais fraquinhos andem vomitados passando vergonha. é horrível ver o ácido saindo daquelas bocas. e pro ácido sair é só dar uma risadinha.
explica melhor? é isso aí mesmo, quando mais besteiras galopantes o professor fala, mais fortes eles ficam, e mais gás é exalado pra deixar as pessoas abobadas e vomitadas.
mas quem é esse professor que atrai os monstros? não posso citar nomes, mas te asseguro que é a configuração mais perfeita do homo imbecilis galopante e, inclusive, demora segundos para dizer clichês monossilábicos; e , puts, é nesse contexto que os monstros largam o ácido. e pra piorar o quadro do meu pavor, quando começa a citação do sem-número de publicações das revistas mausoléu e tutankamon, eles largam uma geléia em baixo da cadeira. o que me apavora cada vez mais é que o professor nunca vê o que está acontecendo, pois dá aula de olhos fechados! os montros estão ficando mais fortes... eles crescem de tamanho a cada repetição de vício de linguagem! e o profi de sexta, tem isso, essa mania de repetir os sons de zoológico quando quer linkar um pensamento ao outro. o "ããã", "ããã", "ãããã" dele, tá fazendo os montros crescerem! e eles chegam a crescer de 10 a 15 centímetros em cada aula!
tá me dando raiva essa situação, sabe, porque só eu e mais uma colega enxergamos isso! se, pelo menos, o professor falasse menos ãããs, eles não cresciam tanto e não espraiavam geléia pro nosso lado.
e por que tanta raiva, mariana? não é raiva, dona repórter, é uma questão de intolerância, mesmo. intolerância por não entender como é que seres medalhões, papagaios do óbvio, ocupam os bancos de docência e deixam os montros crescerem tanto e largarem mares de geléia em nossas roupinhas tão limpas!
e agora o que tu vai fazer? eu? eu não tenho nada a fazer, sou uma reles acadêmica, uma refén de alienígenas. apenas aprendo exatamente como não ser, pros monstros de amanhã serem apenas bolotas de um sorvete derretido.
Não percam a próxima entrevista com a outra aluna que se vomita e ainda regurgita!Miriam Wordsworth, diretamente para a tribuna ócio mental.

quinta-feira, junho 01, 2006

aviso aos queridos navegantes:

não estou com preguiça de escrever, apenas estou sem computador e não tenho previsão de retorno.
placa mãe queimada e um monte de tempo para conseguir arrumá-la. vamos ver o que será de mim.
por enquanto estou out da vida virtual. perdoem-me, queridos, em breve retorno com muitos outras estóurias loucas e quase reais....