quinta-feira, setembro 25, 2008

O Mundo Mágico da Voz


Hoje estava com saudades e queria saber da voz. Da tua voz. Aliás, sempre achei que a voz diz tudo. Ah, e as palavras também; e, acho, inclusive, que dizem até bem mais. Todavia, um fato é certo: o que a voz diz, as letras desenham em sua mudez. E o que as letras dizem, a voz não atinge em sua rapidez.

domingo, setembro 14, 2008

na caixa dos prazeres


tua presença espectral
agora flutua...



mas te prefiro de pijama de
pelúcia e eu contigo toda nua ...

sábado, setembro 13, 2008

nada morrerá



de repente a gente se viu
trocamos olhares cúmplices
e por algumas vezes nos acenamos
que encontro!
foi tão bom te ver daquele jeito
através do vidro enorme
tu estava no outro lado da rua
enquanto eu me distanciava em retilínio afastamento
na poltrona virada em direção contrária
aquela que ninguém gosta de sentar porque dá tontura...
dentro do ônibus eu fui me indo
e mesmo querendo te acenar mais
travei, talvez envergonhada
de parecer mongolona
e à medida em que ele acelerava pra longe
ao contrário da lógica
eu fui te vendo tão perto
e ali naquele instante imaginei nosso adeus
seria assim dia de nossa despedida?
sei que não devemos pensar ou falar nessas coisas
mas pensei que daquela forma seria lindo
porque nosso encontro na rua parecia um sonho
desses que quando se acorda, lamenta-se o abrir dos olhos
e no teu aceno
descobri que a nossa cuplicidade
nasceu justamente
porque de ti nasci
e estou aqui pra te continuar

quarta-feira, setembro 10, 2008

unidos venceremos!

decidiram virar trevos


os corações solitários

domingo, setembro 07, 2008

o design do poste



diferentemente do cachorro


é o que a pomba mais ama
Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 01, 2008

não deu pra ficar

Mãe,





ontem, depois que tu me deste boa-noite, a noite foi caindo densa e uma angústia forte foi surgindo, aumentando cada vez mais; e, para o meu desconforto, ficar naquele quarto se tornou um estado de tamanho estranhamento num crescente à galope; se eu te contar que voltar a conviver com os fantasmas que há muito haviam sumido... e que jurava por tudo: haviam migrado para outros quartos, de outras pessoas, bem longe dali, mas de repente eles apareceram, sorrateiros, e ficaram flutuando em minha volta. Não adiantava se quer fingir ignorar. eles estavam ali.
ver as minhas coisas intactas, os livros intocáveis, exatamente na fileira da leitura aguardada daquela época das Letras lá pela metade do curso, os sapatos dos passos de antes que iam a lugares inconfessos, as calças velhas de dormir que moldavam o meu outro corpo esguio, dobradas, quase do jeito que as tinha deixado quando eu era diferente, sim, quando eu era outra pessoa, acho que uma outra Mariana; sentir as coisas que eu sentia há mais de três anos atrás, os anseios, os medos, o afã pela liberdade nas noites no Bonfim, ou por alguma troca urgente di´algum eflúvio intelectual que ao menos me tricotasse o cérebro... e não deu. ficou quase insuportável ficar ali, não agüentei.
Me senti não apenas sozinha, mas com aquela sensação de pele arrancada pegando vento-norte que tu sabes bem como é, e, sinto, minha mãe, que redescobri a custa de sufocamento - que novidade - o preço de se ter a verve literária, que, se não colocada pra fora através do lirismo planejado, ou do soneto rimado, brota como o fungo no vácuo, nas frieiras pra ganhar vida e existir de alguma forma.
Se ao menos tu estivesses acordada, acho que seria bom, muito bom mesmo te ter por ali, te ver nebulosa, mas dentro da minha visão periférica.
Quando tomei a decisão, já estavas longe, (contudo não fui insensível em simplesmente sair dali, inclusive, acho que nunca fui insensível em toda minha vida, por mais que tenha alardeado, convicta, ser de ferro e fingir ser forte sangrando talhada por dentro depois de comer merda quando da separação daquele amor nefando) dei um boa noite do meu jeito, fui no teu quarto e que acalento meigo pro meu delírio, vi duas xipófogazinhas ali, iluminadas pela luz pardacenta do corredor, e senti a minha gata ronronante tão leve, agora tão tua, dormitando em cima de ti - quase uma pluminha, uma pena cinzenta como a extensão do teu corpo; e então lembrei da história do Homem do Algodão Doce que tinha acabado de parir.
Ah, mulher de Deus, não é fácil ter em si radares para espectros e ser assim - uma alma em carne-viva.
Sorry, não deu pra ficar e... acho, porque, no fundo, sei, se acaso ficasse, eu me tornaria um deles.