quarta-feira, janeiro 31, 2007

um breve tchau


o verão chegou e, com ele, de rabicho de cometa, (não sei como aconteceu!) as idéias escassearam. é, agora o corpo pede um break; aliás, o exoesqueleto grita retumbante, mal-educado, mesmo eu engrossando vozes com gritedos de bodega. ele não quer nem saber, manda-me mil mensagens subliminares ou não, e até pelos poros, o ditador disgramado governa-me o vassalo cérebro que não escolhi ter. eita!
sim, leitores, é hora de descansar, ver o mar, pensar no profícuo nada e, enfim, esvaziar a cabeça dos bons-poucos venenos acumulados na alma. é tempo de salgar o charque do espírito que clama por um bom cloreto.

"o ócio criativo é bom", já dizia o ítalo-visionário-magnânimo Domenico Thomasi, justamente, para posteriori, repormos às desafogadas lacunas, novas tendências, influências e folêgos e não incorrermos sempre no mesmo rameirão verbal.
em janeiro completei um ano de atividade ininterrupta nesse blog, e hoje decido que preciso (ao contrário do que supunha) dizer um tchau e anunciar que, dentre em breve, eu volto com as pulsões escorpioninas para continuar seguindo com a vidinha da gostosa alienação por aqui. 'nhãmo' brincar de blog. pois é exatamente neste momento em que me sinto estar salva do mundo lá fora.
obrigada, de coração, a todos pelo incentivo e o carinho constante.
até muito breve, minhas pessoas não-minhas.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

a eterna roda-gigante


olha, beibe, olha: a vida sempre foi, sempre é e sempre será uma bela roda-gigante sucetível à ferrugem. e eu, inescapável extensão desse circuito:
uma tola, uma otária, uma louca hefén! sou uma cadeira balançante, porém esmaltada com dez mãos de Ferlicon anti-maresia.
jamais envelheço o otimismo pulsante e absolutamente crente na transitoriedade dessa vida maluca. sim, ledor, a vida ainda é, nesse exato instante, uma roda gigante, e hoje eu balanço sem medo rente ao chão.
muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

chip into the heart


as máquinas também têm sentimentos. e no futuro, quando todos os nossos bisnetos forem ciborgs e os seus chips fizerem a integração da máquina com o bulbo, ainda assim, o lado humano não será transponível.
as máquinas sempre chorarão, mas como máquinas, serão máquinas que não demonstram.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

a coisa coisada coisadinha


ah! essa vida assim sempre toda louca por viver é uma coisa.

e se coisada tem direito a ser uma palavra. e cada palavra pode ter o dever de coisadinha nenhuma.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Dra. Divaga divaga a vaga


Esse pensar sobre Mário gaúcho sobreveio em uma das rápidas incursões no boteco da Fapa, quando Ane, vulgo Diva, e eu, elocubrávamos acerca do lado B da poesi e do inevitável obscurantismo na retaguarda existencial dos grandes rebentos da palavra.
Tudo o que falamos aquele dia foi volátil como como a valiosa ceva sublimada pela pressa de autênticas escravas do ter-canudo-e-nada-mais e, como boas guapas Destituídas de tempo, urgindo acima de tudo à purificação espiritual, inevitavelmente não tínhamos outra opção:
vomitávamos ali, caminhando faculdade a dentro, entre pressas de pé pisando chão antes da sombra ser sombra, justamente, para não perder mais tempo com empacantes paradas vômicas. Que animálias do sistema fomos! Que animália do sistema somos! E o que será de como seremos?
vixe!


No silêncio das nossas bocas tortas de desgosto pelo o que no fundo, no fundo sabíamos por telepatia, riscávamos pauzinhos de presidiárias para estar onde estamos hoje - neste divino ócio acadêmico. E que benção esse autodidatismo em que nos encontramos!


A equívoca percepção? daquele mundinho de papagaios dogmáticos do mofo, fazia de minha honrada batalha um crime que aniquilava por completo a crença em minha livre expressão intelectual. Mas tudo bem, no final eu estava lá, interpretando o papel de vaselina, tal qual tu me segredou: "te finge, te finge e pensa no diploma. Segue um modelo. Engole a seco. Busca uma outra Mariana que eu sei bem que deve haver aí dentro. Aliás, faz o seguinte: finge que tu não pensa."
E foi o que eu fiz. Hoje vi que tu estavas certa. Valeu a pena o script de circunstância calculista. E diga-se de passagem, preciso praticar mais o chauvinismo subtle.


Mesmo sujismundas daquela lamentável peptina gástrica colada na roupa, continuávamos aos trancaços, cheias de faltas, com trabalhos em atrasos, podres de orgulhosas - de sei lá eu o quê, e exibidas, (ah, e isso tu há de convir - sem grandes motivos quetais) a correr contra o tempo e a nos limpar das massas e milhos moídos em pasta durante a corrida de findar com a coisa normótica da robótica do "corrobore", "disserte", explicite", "puxe o saco", "ajoelhe", ou "morra na prova se for capaz".
Em muitas circunstâncias de susserana, lembro-me tentando fingir, em meio a inacreditáveis papagaiadas, que não estava acontecendo nada. E a grande verdade, Ane, é que, de fato, nada estava acontecendo. Nada. Nada acontecia. Nunca houve sequer uma surpresa. Uma mísera bolha de sabão vinda do infinito.

Fora os ditadores suspiros que imperavam no entardecer de Ciências & Letras, quando não estávamos bufando de náusea ou tédio existencial, a parla dos papos era invariavelmente profunda, principalmente a que divisava fronteiras com o pão líquido. E de quebra, ( isso era engraçado) para arrefecer os vapores das narinas já fustigadas de odiozinho besta, havia sempre aquela carga dramática do reclame triplicada por nós, duas dramalhonas maiores, motivadas a trepudiar todos os naipes, sob a encarnação mais verdadeira de fastio intragável do modorrento feudo acadêmico.

Agora, dias e dias depois que passou a onda do aniversário de 100 anos dele, veio, assim, essa memória náufraga, irrompendo das profundezas mentais, trazendo a baldadas o que falamos envoltas nas furtivas tragadas do Free Minuzzo desnecessário, mas mui bueno de charme, enquanto os ponteiros do relógio ainda estavam ao nosso favor.
tudo foi tão rápido e suficiente... e nem é preciso o muito do falar, as percepções de dona Ane Minuzzo me são uma uma espécie de formões prestes a esculpir a própria metafísica, para, então, por dias, rodopiar, rodopiar e... piar, piar e pia! Pia, "paim"! pia como pássaros em torno de cabeças de atontados...
a coisa fica. o que sai da boca de Ane fica a orbitar os sentidos... a marcar em de profundis, tal qual ferro brasento em coro de boi.
... e isso porque eu ainda não falei as divagações sobre o Anjo Torto de Drummond!
mas, ô guria, "vai ser gauche assim..."



saudades, sua Cabeça.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

así es



ah, escrever, filosofar sobre a vida às vezes pode ser fácil; aliás, deslizar a língua nunca foi difícil, acho até que é dom inato, mas quando se trata da parla sobre a eterna insatisfação humana, inevitavelmente, acaba-se caindo no rameirão inescapável do bláh lá e do bláh cá.
é, a vida é assim - essa coisa meio amorfa dentro da cabeça da gente - imaginamos um sol bem amarelo, um grande amor, mãos entrelaçadas durante uma caminhada, palavras bonitas atravessadas no acaso do ar... mas além de definições maravilhosas e buscas explicativas para o dia que nasce a cada dia, é necessário saber das quebradas do caminho, e, pelo menos, tentar uma antevisão ao que se avizinha lá na frente, ou sobre o que, on the road, já está e, que assim como chega, vai logo, logo para o atrás de nosso pés.
é, pode chover, pode vir raios, pragas, piolhos e rãs vãs desse louco céu sem véu... e mesmo que se faça assim, ou se faça assado, assim é. assim é essa vida. impossível ter o melhor dos mundos.
é. é assim, sim.

domingo, janeiro 07, 2007

um asar de azar

um barulho foi escutado. alguma coisa batia contra o vidro. tum-tum. bac-bac.
o vidro da janela da área tremeu. bum! bac! bac!
Miriam caminhou até a lavanderia para averiguar e, de toma-lá-da-cá, escancarou o vidro a uma só vez, achando ser mais um trote da meninada.
olha, que surpresa! que surpresa! um pássaro. tão pequenino, tão atontado, pra lá e pra cá, em seu incipiente descompasso de penas.
batía-se todo, pobrezinho, desatinado a procura de um rumo.
esbarrava, insistente, entre as paredes da área da frente do apartamento de Miriam.
o teimoso, queria as nuvens, mas errou a rota. ao tentar entrar pela porta entreaberta do vizinho da frente, Miriam gritou:
- não entra! não entra! vai ficar preso!
o pássaro cambiou a direção, voou da área da vizinha, planando próximo ao seu rosto.
- sobe! sobe! - dizia ela acompanhando o movimento do priosioneirinho com a cabeça para fora da janela. ia subindo ele em um asar de azar, topando ao léu entre esbarros de tontura no foço salpicado do condomínio.
queria o céu, mas foi na janelinha semi-aberta da cozinha do terceiro andar que tentou entrar em cega obsessão por se escapulir.
- não, aí não! aí não! ela berrou, colocando o eco a existir boca a fora.
o pássaro, desgovernado no ar, volteou, volteou, desistindo da sumária abertura da basculante.
- pra cima! pra cima!
à medida que Miriam gritava, o pássaro ia subindo, pouco a pouco, ganhando mais e mais uma alturinha.
e assim, lento e cheio de treme-treme, tentou entrar na areazinha do quarto andar em sua insistência de plumado tonto e...
- vôa! não entra aí! ela disse.
e eis que, depois de tanto esforço à liberdade, em um céu cinza de janeiro quente, ele vai se indo, se indo... e seu corpo de bolinha fofa sumindo. as retinas de Miriam, fixadas ao alto, esperaram aquele pontinho desaparecer na distância até mais nada haver a mirar. e então, pasmada, ela balbuciou:
- o pássaro falava português!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

de onde tu tirou isso?


mãe crítica desde feto: - mariana, coloca o lixo lá fora?
o eu por respeito fingido: - só um pouquinho, mãe, deixa eu te perguntar uma coisa.
mãe crítica desde feto: - mariana, o lixo está na área desde quarta-feira, já tô vendo moscas! quer fazer o favor?
o eu por respeito fingido:- tá, mas antes me responde, tu gostou da minha poesia do James que eu te trouxe?
mãe crítica desde feto: - olha, até gostei. mas de onde tu tirou isso?
o eu por respeito fingido: - ah, vi a figurinha e gostei da imagem, assim, toda cheia de postura power-macho, e resolvi apostar nuns verbetes olhando para ela.
mãe crítica desde feto: - hãm.
o eu por respeito fingido: - tá, mãe, vem cá, e por que do "até gostei" ?
mãe crítica desde feto: - ah, pára, mariana, ela tá mais para poesia do James Bond, do que James Brown.
o eu por respeito fingido: - tá e quem disse que era do James Brown? James Bond, mãe. James Bond! o agente, o cara aquele do filme.
mãe crítica desde feto: - ah, bom. agora sim.
o eu por respeito fingido: - e que tal, pô?
mãe crítica desde feto: - tá, gostei, mariana.
o eu por respeito fingido: - "James Brown", de onde tu tirou isso?
mãe crítica desde feto: - não sei, quer que eu coloque o lixo lá fora?