sábado, dezembro 20, 2008

carteira assinada

no fundo, bem no fundo
o sorriso sempre pode existir
de um canto bem esticado a outro
prontinho a cumprimentar orelhas
mas aquele residual de tristeza há!
e é açúcar salgando o café na hora
em que tenho que sair

segunda-feira, dezembro 01, 2008

o menino luminoso


sempre que te vi, prometi
vou fazer uma poesia da criança que tu és
ah menino luminoso
pelas tuas mão o sol levanta
dos cabelos em fios de ouro
pendem pulseiras de sereia
em pólen a pele ilumina o rosto
dos olhos vêm cores da primavera
miraculoso cristal é o sorriso
que vem vibrando em sons de seda
e mediante o mundo grande que te olha
por que, menino luminoso, derramas lágrimas?


teu choro, seiva com pedrinhas
desliza ágatas e esmeraldas
na alegria a agüinha sai azul
e quando no rosto ondula o verde
é a tristeza que transborda...
e para isso fiz barquinhos
para colocar nesse rio tão puro

Ó, menino luminoso

de escondido rosto nas mãozinhas
essa timidez te desnuda!
desarma gladiadores
e embriaga a poesia!

sábado, novembro 29, 2008

dedo cruzado

Eduardo Marques pergunta: E aí Mari! Tudo bem? Como vão os escritos?


Olha, meu amigo Edu, as coisas estão indo naquele crescente mais pro sumindo do poético do que pro indo do patético. Eu, suportando com necessário estoicismo o mundo operacional, binário - passa-passa passará passageiro acolá em todos os momentos, sem o mínimo tempo para aprofundamentos intelectuais, (ai, como isso faz falta) apenas para execuções exitosas no câmbio operante do rádio da companhia. Mas, contudo, sigo com alguns planos em mente - de regressar ao mundo das letras, nada ainda definido com afinco, (só com meu figo ((de dedo cruzado)) preciso que pelo menos o ano encerre, e eu veja os fogos no céu para me decidir de vez...



Confesso, por ora, minha literariedade ou qualquer simples vestígio de verve à escrita foi soterrada. Acimentada. Tapada por completo com camadas e mais camadas espessas pelo excesso de pressão diária e muuuuito trabalho. Sinto que é algo tal qual como uma pessoa que perde a voz, ou um alguém que deixa de ouvir o som, e, no meu caso, eu perdi as palavras - meus ouvidos, minha voz interna. Ou, talvez, tenham elas sumido de mim com minhas orelhas e voz... vá saber... quiçá, o desquite foi tácito e numa boa, de repente um afastamento temporário para o amadurecimento da relação? Afinal, nem sempre, (aliás, quase nunca) as coisas são como realmente desejamos. Que pena, achava que estávamos tão bem, eu e elas, de vento em popa... C´est la vie, mon Chér.



*foto do meu quarto antigo, assim deixado - sem vazio, sem desfalque, na casa da minha mãe. Acho que ela sentiria mais a minha ausência se a parede ficasse sem Eles.

sábado, novembro 15, 2008

da míngua


para uma boa fome, não existe pão mofado.



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terça-feira, novembro 11, 2008

clandestinos

então aquele dia saímos da nossa cidade
deu na telha! e rumo a uma outra desconhecida
descemos num vilarejo colorido
caminhamos alguns passos, e, logo a nossa frente,
um lugar querido, com bancos e jardim
pareceu nos receber com sua alegria amarela...
bom fazer amizade com cachorros dóceis que lá cuidavam



a porta da varanda casa estava aberta
pelo visto, não se importaram nenhum pouco
com o nosso xixi e o escovar de dentes clandestinos;
parecia um sonho a Gabriel Garcia e Marquez estar ali.
só agora que percebi.


sábado, novembro 08, 2008

vertigem

o mundo gira


e tudo pira



contudo não medro
não lato
mas te digo
vomito no ato

sexta-feira, outubro 24, 2008

é assim

No fundo é sempre assim: se há asas desconfie; e, se no rabo houver setas, não se assuste, não se apavore, ou se quer ouse pensar que o mundo conspira contra você.



Simplesmente, é a tal da realidade da existência.

quarta-feira, outubro 01, 2008

I´m your mirror

...la-ra-li-la-lá...
todavia, na via, assovia a cotovia, talvez, feliz porque chovia...
baby - presta atenção - assim como tu, também tomo vacina pra ter casca de pedra, mesmo que alfajores eu tenha por recheio.





se acaso tu mudas, criança, eu mudo também. acompanho teus passos, e, sem nexo, sou o teu reflexo no espelho convexo ' do nunca nada a perder'; simplesmente, porque o teu jogo será o meu também. e assim, sob uma necessária dureza disfarçada, sigo jogando as cartadas da vida de quem nem sempre pode escolher os naipes.

quinta-feira, setembro 25, 2008

O Mundo Mágico da Voz


Hoje estava com saudades e queria saber da voz. Da tua voz. Aliás, sempre achei que a voz diz tudo. Ah, e as palavras também; e, acho, inclusive, que dizem até bem mais. Todavia, um fato é certo: o que a voz diz, as letras desenham em sua mudez. E o que as letras dizem, a voz não atinge em sua rapidez.

domingo, setembro 14, 2008

na caixa dos prazeres


tua presença espectral
agora flutua...



mas te prefiro de pijama de
pelúcia e eu contigo toda nua ...

sábado, setembro 13, 2008

nada morrerá



de repente a gente se viu
trocamos olhares cúmplices
e por algumas vezes nos acenamos
que encontro!
foi tão bom te ver daquele jeito
através do vidro enorme
tu estava no outro lado da rua
enquanto eu me distanciava em retilínio afastamento
na poltrona virada em direção contrária
aquela que ninguém gosta de sentar porque dá tontura...
dentro do ônibus eu fui me indo
e mesmo querendo te acenar mais
travei, talvez envergonhada
de parecer mongolona
e à medida em que ele acelerava pra longe
ao contrário da lógica
eu fui te vendo tão perto
e ali naquele instante imaginei nosso adeus
seria assim dia de nossa despedida?
sei que não devemos pensar ou falar nessas coisas
mas pensei que daquela forma seria lindo
porque nosso encontro na rua parecia um sonho
desses que quando se acorda, lamenta-se o abrir dos olhos
e no teu aceno
descobri que a nossa cuplicidade
nasceu justamente
porque de ti nasci
e estou aqui pra te continuar

quarta-feira, setembro 10, 2008

unidos venceremos!

decidiram virar trevos


os corações solitários

domingo, setembro 07, 2008

o design do poste



diferentemente do cachorro


é o que a pomba mais ama
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segunda-feira, setembro 01, 2008

não deu pra ficar

Mãe,





ontem, depois que tu me deste boa-noite, a noite foi caindo densa e uma angústia forte foi surgindo, aumentando cada vez mais; e, para o meu desconforto, ficar naquele quarto se tornou um estado de tamanho estranhamento num crescente à galope; se eu te contar que voltar a conviver com os fantasmas que há muito haviam sumido... e que jurava por tudo: haviam migrado para outros quartos, de outras pessoas, bem longe dali, mas de repente eles apareceram, sorrateiros, e ficaram flutuando em minha volta. Não adiantava se quer fingir ignorar. eles estavam ali.
ver as minhas coisas intactas, os livros intocáveis, exatamente na fileira da leitura aguardada daquela época das Letras lá pela metade do curso, os sapatos dos passos de antes que iam a lugares inconfessos, as calças velhas de dormir que moldavam o meu outro corpo esguio, dobradas, quase do jeito que as tinha deixado quando eu era diferente, sim, quando eu era outra pessoa, acho que uma outra Mariana; sentir as coisas que eu sentia há mais de três anos atrás, os anseios, os medos, o afã pela liberdade nas noites no Bonfim, ou por alguma troca urgente di´algum eflúvio intelectual que ao menos me tricotasse o cérebro... e não deu. ficou quase insuportável ficar ali, não agüentei.
Me senti não apenas sozinha, mas com aquela sensação de pele arrancada pegando vento-norte que tu sabes bem como é, e, sinto, minha mãe, que redescobri a custa de sufocamento - que novidade - o preço de se ter a verve literária, que, se não colocada pra fora através do lirismo planejado, ou do soneto rimado, brota como o fungo no vácuo, nas frieiras pra ganhar vida e existir de alguma forma.
Se ao menos tu estivesses acordada, acho que seria bom, muito bom mesmo te ter por ali, te ver nebulosa, mas dentro da minha visão periférica.
Quando tomei a decisão, já estavas longe, (contudo não fui insensível em simplesmente sair dali, inclusive, acho que nunca fui insensível em toda minha vida, por mais que tenha alardeado, convicta, ser de ferro e fingir ser forte sangrando talhada por dentro depois de comer merda quando da separação daquele amor nefando) dei um boa noite do meu jeito, fui no teu quarto e que acalento meigo pro meu delírio, vi duas xipófogazinhas ali, iluminadas pela luz pardacenta do corredor, e senti a minha gata ronronante tão leve, agora tão tua, dormitando em cima de ti - quase uma pluminha, uma pena cinzenta como a extensão do teu corpo; e então lembrei da história do Homem do Algodão Doce que tinha acabado de parir.
Ah, mulher de Deus, não é fácil ter em si radares para espectros e ser assim - uma alma em carne-viva.
Sorry, não deu pra ficar e... acho, porque, no fundo, sei, se acaso ficasse, eu me tornaria um deles.

sábado, agosto 30, 2008

sexta-feira, agosto 22, 2008

comanders



It´s not enought to be good.



It´s necessary to be the best.

sábado, agosto 16, 2008

sião

o coração no oriente




eu, ainda no ocidente.

segunda-feira, julho 28, 2008

pequena história sem fim algum

interlocutor imbécil: - mariana, mostre-me sua concepção arrojada de minimalismo.
mn, a mártir do design: - " _ _ "
interlocutor imbécil: - me desculpa, mas isso é um grande tédio.
mn, a mártir do design: -sim, muito bem. são meus olhos, agora mesmo, mostrando-o para ti.

quarta-feira, julho 23, 2008

o céu enviou um anjo....




O Céu não o quis por lá e... vejam só! enviou para mim.
Ah, oras bolas... no momento, não posso ficar com ele; por isso, concedo a ti, que me lê, que me crê e nunca nega uma batatinha dorê.

sexta-feira, julho 11, 2008

o tarado persistente



ahhhhhh
depois do teu não
sempre vem um sim
bem bão.

sexta-feira, junho 27, 2008

de repente o outono finda
nem sabia que ele havia chegado

o maior dos mestres das armadilhas

é o continuum dos dias

nas pessoas máquinas

quinta-feira, junho 05, 2008

adeus lirismo!

aqui nada é para ser entendido. apenas para ser sentido, neste instante e nunca movido daqui adiante.
tudo o mais é segredo. senão não tem graça. a mínima graça.



durante algum tempo eu tentei. tentei me iludir. e de alguma forma resistir. contudo, sei eu. toda poesia foi perdida. toda a literatura ficou contida num passado que passou. e agora(?), nesse presente(?) pelo visto, de virtuosismo, somente resta a imagem que está retida. (gostou do rosa na tua retina?) sim, estou completamente perdida. nas idas. nas vindas. nas remotas. apenas entendo de rimas fáceis, fazer supermercado, assistir pelotas, cumprimentar bom dia, boa tarde di modi bonito e iludida bater o cartão-ponto pra ser boa moça que não sou. (quiçá um dia?)
logo eu! logo eu! que destestava falar do eu, do breu, da alegria ou da coisa escura que aconteceu justamente porque era mais fácil?!?
recorro às runas, às rezas, às benzedeiras da Lagoa, mas quem resolve mesmo os meus descompassos é Caio.
Caio Fernando Abreu!
(já imaginou se ele soubésse?)

...

domingo, junho 01, 2008

quinta-feira, maio 22, 2008

primeiro amor

meu primeiro amor
começou no jardim
nos domingos de manhã
ele me levava café
e dizia que gostava de mim
eu nunca sabia o que dizer
olhava pro lado
fazia cara feia
que tola!
como se fosse do mingau de aveia
mastigava então
para em vão
disfarçar as batidas acelaradas do coração


segunda-feira, maio 12, 2008

diarinho da loca

É bom encontrar fragmentos dos meus diários perdidos no pc. Na época acadêmica, costumava registrar meus estados de espírito, talvez, porque lá no fundo sabia que um dia iria querer reler pra voltar no tempo e ficar cara-a-cara com os estados de espírito que eu jamais supunha viver naqueles anos em que eu contava pauzinho de presidiária pra sair da faculdade.
Hoje, vivendo uma outra etapa de vida, num outro planeta que mais parece um saco de bala sortida, percebo, através desse pequeno textículo que segue abaixo como é possível voltar no tempo e reencontrar aquele ser outro que habitava em mim, num pacote de pão dureza - histérico, perdido, doido, encolerizado em virtude dos eternos prazos, prazos, prazos que ninguém deste planeta está livre de pensar que...

essa tal de disciplina inventada...

ruim com ela.
pior sem ela.

estupendo! com ê-la. com requeijão.


eu simplesmente pareço um cadáver. branca. um fantasma. chorando, digitando, saindo de órbita, as escleróticas vazadas, derramadas sobre o que a anatomia denomina "seios da face"; e, no meu reles caso, uma não-cara fatalmente já descarada. e então, em meio a esse delírio absurdo da emboletada aqui, eu me pergunto; eu te pergunto: - colocarei o nariz para fora dessa horrorenda caixa edificante em que esse corpo habita nesses dias que vão e que vêm por aí?



Porto Alegre, dezembro de 2007

domingo, maio 04, 2008

o 8 x 1 (nem em circo isso acontece!)

lavar alma tem um sabor inexplicável.
e hoje foi um dia desses, mui digníssimo pra marcar a história do vivente cioso de alguma glória.
Internacional, meu rubro à galope num 8 x 1 inesquecível contra o Juventude.
desencantou! desencantou a praga!
eu gosto quando o espírito se apodera do corpo e vira um gigante de dentes pontudos, bem feioso bicho, de crispada cara esfaimada porque sedenta de vitória por bem ou por mal.
e, quando em campo bem orquestra a sinfonia dos chutes à vitória, mas que história faço eu a gargalhar sem se importar com a bruxona que salta de mim; ela vem da vila e ninguém pode. pois ela só phode!

agora o que vale é se sentir bem.
de alma lavada. e, mais uma vez, colorada cara corada.

well, por hora, a camisa suada me faz querer descansar e achar engraçado o jeito dessa gremista aí de baixo:



créu-créu-créu-créu-creu-créu-créu-créu...

segunda-feira, abril 28, 2008

a casa da minha infância




a casa da minha infância
há muito tida distante
apareceu de repente num sonho
depois de tanto tempo!
tudo em volta tão verdejante
como os jardins primaveris depois da chuva
havia flores amarelas em gavinhas no portão
despontando vivas num quente clarão

hoje ao encontrar o que pensava perdido
quando na verdade era escondido
foi como encontrar um velho tesouro
flutuante da remota lembrança
me permitiu emareamento por mares
que à memória trouxeram
o meu navegar da crença
de ser dona do mundo
sem precisar uma dourada moeda
porque bastava ter idéias!


descer num trote a lomba do terreno
e deixar as pernas levar a algum fim de linha
alguma cerca que findasse o rumo
sentir o bafio dos cachorrinhos nascidos
azedo leite em suas bocarritas esfaimadas
os altissonantes cocorecos das poedeiras
chamando o galo valente


e lembrei que sem querer
eu era uma boa criança malvada
ao esmagar minhocas para fazer mais barro pro João de Barro
e jogar pras tartarugas musgos roubados da vizinha
ah, isso valia mais que todas as mais-valias
porque era uma alma parva
a carregar livre corpo infante


a casa da minha infância
é a mãe da mãe da mãe de todas as minhas riquezas!


eu. no mundo. hoje.


domingo, abril 13, 2008

um dia a menos para o nunca mais



como pode o tempo passar assim entre nossas vidas?
sim, o tempo, essa batida inaudível, nunca percebido único e valioso a cada momento em que não se escuta nunca o seu badalar nos tantos relógios no mundo...

enquanto os tantos trens partem, ou enquanto chegam na estação da vida, cabeças meneam, melenas voam, crianças nascem, pássaros cantam, nossa única constância é não perceber que a vida não se tem toda por viver!


o futuro não é lá adiante, todo distante!
o futuro, esquecimento nosso da hora, é agora!

morremos todos os dias um pouco
e a morte
sem Deus nem lei,
não chega em sentença aguardada

vem ela a cada nascer do sol


não se trata, meus caros, de pessismismo aviltante
trata-se, sim, saber viver instante a instante



segunda-feira, março 31, 2008

cheers!

nas cartadas da vida
todo momento é jogo
apenas só não esqueça
antes de levantar da mesa
bata a canastra

com um olhar de burguesa
e se acaso jogar a gorjeta
peça com gentileza algum troco
lânguido murmúrio
de cabeça
ou script decorado de tarjeta:

"-garçon, me congela a ampulheta
traga deuses com uísque ao meu favor
porém on the rock
até no quebrante da margem dos sonhos

onde ondas de champagne não parem de espumar..."


cheers!
eternal youth!



hic. hic. hic.

quinta-feira, março 20, 2008

ave, a inexata verdade! ave!

Naquele mesmo esquema de refutação a que tanto amo... aproveito o ensejo repentino para puxar uma carta antiga da manga, apenas para contrariar a pureza das emoções tão lindas...
(sim, eu sou uma diaba. Porém, uma uma boua diaboloua!)



Um dia um amigo meu me disse assim:
"-A mentira é um modo dificil de se levar a vida, pois se você se esquecer dela, pode magoar a si mesmo e a quem você ama."
Porém, ao meu ver escorpionino, aquele... de viés contrário e já um tanto conspurcado para não dizer envenenado, digo:
a mentira é um modo difícil, no entanto necessário. E, por mais que alguns o neguem, e outros tantos negaceiem, é justamente ela, a inexatidão da sinceridade que pode salvar....


quarta-feira, março 12, 2008

ãh?

Diva Minuzzo e Divã Nisemblat no afã da questã nada vã...



pois observo que o fumo senão impede, seca as lágrimas no aguardo e ao mesmo tempo leva ao cérebro uma espécie de nevoeiro salutar...
porém, mui bafudos deixa os bobalhões nicotizados ao simples trago do cilindro.

segunda-feira, março 03, 2008

silêncio, meu sinal sutil

um dia um amigo escreveu uma frase assim:

"antes falar as coisas do que sofrer por elas não serem ditas."

e como adoro refutar, porque acredito na relatividade de tudo, parafraseio ao meu modo escorpinino de viés contrário:

"antes prolongar ao máximo o não-falar e não sofrer por ter não dito, do que falar, falar e sofrer mais ainda por ter falado.

domingo, fevereiro 24, 2008

a agiota


Por esses dias estava fazendo uma retrospectiva de toda a etapa de celebrações após o tão aguardado desfecho acadêmico, e cheguei à uma drástica conclusão:
todos os recordes alcólicos na minha décima terceira casa decimal foram batidos; e a verdade mais destilada é que nunca o CH3 CH2OH foi tão pontual e transgressor no meu sangue.

Então a Loucura, "essa dança das idéias", como dizia o bruxo Machado, resolveu dar a cara não-rara por aqui e apareceu toda Ela no poder, travestida de uma convincente viajora Yank, - de colarinho na espuma, fazendo milhas e milhas na ponte aérea das hemácias.

Mas não pensem vocês que, nesses dias, o sua entrada na sala de embarque se dava de imediato.



nãããã, passava por vários raios-x, e, rasteira, como quem não queria nada com nada, ia se chegando, mansinha, ultrapassando saguão por saguão do helicorpo, e, uma vez instada a apresentar o passaporte, respondeu num pronto: "estou só de passagem, apenas avaliando as condições do mercado como um todo...mas nada muito específico, não.


Contudo, a dona bendita, boa de negócio, mas mui fraca das pernas, nesta noite, resolveu pedir cadeira logo no meu Gate, então, de pronto, e sem hesitação nenhuma, mandei logo que sentasse, oras. Mas abusada era ela, e não é que a preclara resolveu se enraizar sentada mesmo?
Que baita louca essa loucura!
E, ali, no fofo da minha sala de viagem, curtindo a sua inércia, a Loucura foi tomando um corpo, um corpo cada vez maior, agigantando-se num trote de mula, devagar, mas sempre ao norte do delírio...




Entrementes a isso, vários espíritos do Japão iam atravessando continentes com conexão direta p´ruma grande missão:
nos fazer completas japas, mesmo que de ocidental não tivéssemos nada; apenas os olhos de feixo-eclér.



Todavia e como sempre, tudo o que é bom tem um curto-prazo pra lá de diminuto com um gosto ferrado de quero mais, então o alarido de toda aquela festança foi diminuindo, diminuindo, todas as danças de tropeços foram escasseando sem que eu se quer sentisse algum esvaziamento, até que tudo em volta parou de acontecer. "1-2-3 estátua!"
E curioso foi que o desfecho não foi finalizado com pompas ou aquelas despedidas convencionais de estalos de beijos que se perdem pelos ares. Às seis e pouco da manhã, com a luz entrando como uma espada em riste na sala, fustigando os meus olhos como um castigo de lâmina que quer ceifar ou ceifar, eu acordei.
pobre refén.
A sacada completamente escancarada, convidando à escalada qualquer bom aventureiro que a desafios se prestasse na calada. E, de chofre, a mágica que não se explica aconteceu - a cristaleira havia se mudado para a mesa de centro da sala:



E eu, ali, em borboleteios de olhos arenosos, um feto torto resisitindo a dormitar sobre o inóspito sofá, na vã crença que o buraco iria melhorar; e a Fárida, lânguida, uma anêmona desmaiada no mar, no outro, pior ainda, fétido a la mijô de gatô.
O antigo candelabro enegrecido, oxidado pelas últimas réstias de brasa de um pavil umbandístico que até hoje não descolou. Belo feito o estrago da peça. Pelo visto, as velas bruxulearam até o último sumo da parafina. Ainda bem que os donos não existem mais para reclamar o descuido.
Puxa vida, que digníssimo encerramento! (agora que me dei conta) a gente nem se deu boa noite. Simplesmente desligamos como um gerador que chega ao seu limite máximo de funcionamento e pára; pifa sem mais nenhuma energia que reste.

Ah, mas nada é de graça nessa vida cheia de graça....
a paga pela estrapolação foi o day after a pontuar um arrasto de chinelas e um pipocar de bolinhas transparentes a estourar em volta da cabeça arrependida pelo falta de freios seguido do questionar lamuriento de "ó vida, ó céus, por que, por que, por que, hein?"

é...
é nessas horas que a gente se dá conta de que, para os que não têm arreios, a doidêra é baita agiota.
Sempre cobra altos juros.
E, pode crer, quando ele é alto e avalentoado na mora, aí sim que é chegada a hora.
A hora de se despedir e ainda pedir pra Loucura dar um tempo e ir de ré embora.




diário mui secreto e pós-ressaca; essa, considerada a última antes de entrar pro sistema.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2008.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

deusa da vida

na ausência de tempo hábil para aqui me extender, faço um rápido escolho:
tropeçar nas fases e pinçar as coisas soterradas, porém vivas, vivinhas!




mesmo que esqueça de olhar no calendário, ela lembrará você.
as cores se avivam! as árvores colocam brincos, as borboletas dão aura aos jardins e uma alegria há que se espalha por tudo enquanto os clarins tocam silenciosos sopros de perfumes em duelo.

os passarinhos em suas árias assobiadas despertam os manacás que começam acordar...
as gardênias inclinam-se à brisa que sopra do sul, balançando os Ipês tecedores de tapetes para a grande festa tão aguardada.

na sua recepção quero ser musa, medusa coroada de flores pra dançar bonita nesse mundo que agora a espera.
e depois de tantos passos, contra-passos, ritmos e cantos de fada, quero, de olhos fechados, jogar confete de pétalas, gritando bem alto:
deusa da vida, da rotação efêmera! venha primavera!

terça-feira, janeiro 29, 2008

bolinhas do alfabeto


os ventos sempre sopram tormentos

vento norte ou minuano

nunca se sabe onde vão parar rebentos

meta a cara

esqueça maus momentos

estufe o peito

anule a lógica

mostre a língua

perca o medo

não dê a descarga

deixa a coisa feder

faça adubo

do teu cóqui enxixizado

e então deixa a água da patente

de repente molhar o vento

com respingos de letras is

lindas bolinhas de alfabeto

sábado, janeiro 19, 2008

o verdadeiro abraço mais gostoso

Essa poesia eu fiz para o meu amigo de Terra Santa, Eduardo Saint Pierre.
O abraço dele sempre foi bom, mas, como dizem, para alguns, o tempo é como vinho em barril de carvalho, e, sem dúvida, o guri se aperfeiçoou no abraço.

Ô Dudu, um abraço!




não sei se algum dia o leitor sentiu

mas o abraço mais gostoso do mundo

ao contrário do que muitos pensam

apesar de ser aquele famoso

que envolve por inteiro

não é o de polvo

o abraço mais gostoso do mundo

não tem fundo

ele é fofo



fofo que suga

tal qual refil de tinta no tinteiro

e ele se estende até o dedão

e pode crer, não é massagem, não

na medida certa é pressão

de repente, incrível!

tudo pára

ouve-se um coração

é a cabeça perto do tum-tum cebolão

num acolhimento que por pouco

não vira um bom colchão



ah, o melhor abraço do mundo...

vitória das pestanas em alerta!

quando então a vida dum piscar

até o outro fechar dos olhos

por um milagre não consegue ser sonho


quarta-feira, janeiro 16, 2008


É possível que sendo vós uns pássaros tão pequenos, haveis de ser as roncas do céu?

sábado, janeiro 12, 2008

da ingratidão

essa é para os ingratos que apareceram, deixaram-se ficar, mas não ficaram.

(permitam-me brindar, neste momento, gotejando minha santa-imaculada ironia em cada partícula alcólica sugada. tim-tim!)



pelo que me parece, a ingratidão vem de uma rachadura por onde a alma deixa escapar o extraordinário doce da existência passado do ponto.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

baile de carnaval


lá no fundo azul

bem no fundo da caixinha

brilhando guardadas

as estrelas do carnaval

os anos se passaram em tantos

e hoje foi encontrada

ao simples toque de abri-la

voltam as cenas do filme da vida


as estrelas da minha infãncia

recolhidas depois do baile

depois de tantos anos

rutilam igual

e agora nesse instante

a velha voltou criança

pelo brilho das estrelas do carnaval