quinta-feira, dezembro 30, 2010

inevitável chave de cadeia

eu acho engraçado essas pessoas que fumam maconha escondidas, colocando panos em baixo da porta, trancafiando janelas, vedando frestas e acendendo incensos horrorosos, como se gostassem daquele aroma guerreando com o da Canabis.
ah, se isso pelo menos bastasse para impedir que o cheiro de capoeira, do zumbi dos palmares não reencarnasse rua à fora...
das duas, uma: ou fuma-se escancaradamente, e o cheiro é denso; ou, às escondidas, sendo a fragrância sutil, mas, igual: presente.
ok, a segunda opção é a predominante, não adianta - manter a máscara faz parte dos protocolos da grande farsa humana, mas não se iluda na ginástica do ocultar: as pessoas sabem do teu telhadinho de vidro.
não há o que fazer! é o preço: o banzo do troço tem santo forte. não dá pra desdenhar.
;)

sexta-feira, dezembro 24, 2010

suddenly...

de repente! surpresas!
deliciosas surpresas.



e, só pra variar, a Micheli nos pegou pelo estômago.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Burnout do peixe

tenho vivido dias que me lembram meu estado de espírito, em Israel, há 14 anos atrás, quando eu costumava riscar pauzinhos na agenda ao levantar. mas, graças à excelsa juventude, o pensamento divagava nos sonhos de reencontro com os amigos, ao longo do dia e, então, eu conseguia suportar, romântica, aquela saudade apertada demais.
"um dia a menos. um dia a menos." a sensação de vitória se dava no barulhinho curto do lápis a riscar. estava doente por voltar ao Brasil e simplesmente não aguentava mais nada que se apresentasse a minha existência por lá.

hoje, novamente. a mania aquela, de presidiária, só que agora os pauzinhos são mentais, e o pensamento é sempre fixo, (there is no romance at all) randômico no mantra de teleprompter - "preciso de paz, longe, bem loooonge de lá."
então, me pergunto, nessas horas de desespero: serão os hormônios os causadores desta síndrome, de não querer encarar a labuta?
e a resposta mais instantânea que consegui encontrar é que são eles apenas a ponta do ice-berg do meu asco. quando se é um peixe de água doce, não adianta forçar. lá, sou um peixe fora d´água, do mar morto daquele lugar.

sábado, dezembro 18, 2010

46 anos depois

O Mário nem acreditou que 46 anos depois de deixar sua Porto Alegre (cidade que por mais que falemos mal sempre deixará uma raiz profunda enterrada na alma da gente ) não só estaria aqui, (aliás, isso seria fácil demais) mas ele e toda a família! Pois que travessaram o Oriente Médio rumo ao paralelo 30º, da América Latina! E então pode mostrar, enfim, onde começou a sua história.


















Certamente, essa visita ficará guardada no baú raro das lembranças Muito Boas.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

30ª semana


quero essa bariga pra sempre!

domingo, dezembro 05, 2010

o chá, a vida

tanta coisa atropelada, esquecida, ora anotada, pronta pra ser escrita, mas puft! puft.





domingo, dia 28 de novembro, foi o chá de fraldas da Marina. Eita festinha trabalhosa. O Fábio editou um filme-documentário que durante os quase sete meses da gestação fomos gravando. Ficou bacana. Agora a Nina tem uma história de vida. A história de Marina. Não tenho intenção de parar com as filmagens. Quero mais. Quero tudo, todos os detalhes que estão acontecendo em derredor: as danças, as músicas que coloco pra ela escutar, os bons e maus dias ora pesados de sono, as novas dobras de gordura corporal, meu novo ser que nasce de minha transcedência à Terra.




As pessoas mais importantes da minha vida apareceram e, isso, inegavelmente, foi o maior dos presentes. Logicamente faltaram aquelas outras, do convívio mais cotidiano e, que, inclusive, confirmaram a presença no evento; fato xarope que insuflou uma mágoa amarga, dessa que se precisa de um teeeeempo para digerir a falta de consideração inesperada; mas já perdoei. apenas não engoli direito o quadrado, que, dentro em pouco, certamente dá um jeito de ir arrendondando as bordas pontudas. Minha barriga é por demais pesada, não tenho condições de carregar mais pesos, ainda mais os mortos; por isso, preciso perdoar. justamente - para me livrar de cargas! cargas extras. Afinal estou com 11 kilos acima do que costumava empurrar no dia-a-dia; não é barbada. O caminhar é muito lento, sinto uma sensação de torpor, chapação lisérgica mesmo. Obviamente essa é a parte boa e linda, linda de morrer.




pela manhã, levantar para o trabalho, parece-me, cada vez mais, uma tarefa pra lá de odisseica. tenho de enfrentar cobras e chacais pra envergar o uniforme xexelento da empresa, passar a maquiagem (que nem surte mais efeito) para disfarçar o desgosto que se derrama pelos olhos e cara a baixo quando a questão é ir para a labuta. Essa tem sido a parte mais difícil, verdadeiro martírio: trabalhar. trabalhar me é um malefício - o que aniquila profundamente e me faz questionar - "até quando? até quando, meu dellllls?" Vontade verdadeira de passar os dias comendo melancia gelada, de pernas pra cima e me preenchendo com silêncios, pássaros cantantes da rua e paz. paz. Longe de pessoas hipócritas e que vertem feito baratas sôfregas em dias de temporal. E, nessas horas de asco, não é caso de por veneno, Baygon, essas coisas ruins da Bayer pra se livrar a curto-prazo; Isso é palhativo apoucado pro meu vasto sentimento de vácuo espiritual dentro daquela merda. quero apenas me livrar. enfim, ter um planeta novo para habitar. sumir. surgir.


quarta-feira, novembro 24, 2010

Sakineh Sakaneada

ultimante, em virtude de nossas mútuas preguiças, a mãe e eu temos nos visitado mais por telefone. ontem, lá pelo vigésimo minuto de conversa surgiu o comentário sobre Sakineh Ashtiani. momento aquele em que, só pra variar, estávamos bem animadas falando mal de alguns homens, da insenbilidade bossal frente a tantas situações a que sujeitam moralmente a mulher, das escolhas torpes e atitudes ridículas, que, de um modo geral, a testosterona é a maior responsável por lhes provocarem as impulsões mais agressivas e imediatas sem reflexos mentais mais detidos; então, a mãe comentou comigo que havia escrito sobre isso, mais especificamente sobre Sakineh.


amigos, sinceramente, excetuando os caras legais, com um bom coração e cérebro mais desenvolvido, que eu sei que há! de um modo geral, os homens são muito tacanhos, machistas, tarados, destruitores e doentes. são eles, sim, a chaga da humanidade. e hoje, grávida, tenho sentido mais engulho do que nunca em relação à espécime. não tenho gostado que se aproximem de mim com seus timbres, com seus papos, com seu ser xy. se isso vai passar? provavelmente. mas preciso de um tempo.




Já fui contra a pena de morte. Aliás quase toda a minha vida. Não sou mais. Debulhava um a um os argumentos já conhecidos de todos e com profunda crença.
Mas com 7 bilhões de pessoas no planeta e do jeito que a violência campeia, acredito que o Estado tem o direito de tirar a vida daqueles que cometem crimes brutais. Isto mediante julgamento, juri, promotores de acusação e advogados de defesa. E que a forma de matar essas pessoas seja a mais rápida e indolor possível. Ponto.
E qual foi o crime brutal imputado a essa mulher?
Trair o marido já morto com um outro sujeito? Não. Depois arranjaram mais outro sujeito. Adiante, imputaram-lhe o assassinato do marido. Ou seja, primeiramente traidora de um cadáver, depois, fazedora desse cadáver. Os filhos a defendem. O advogado foi obrigado a fugir.
E me vem com a lenga-lenga de que há pena de morte em outros países, principalmente no odiento Grande Irmão do Norte.
Céus! O que não faz a paixão ideológica com a faculdade pensante dos que se tomam por racionais! Melhor esses indivíduos, que não veem nada de mau em castigos bíblicos, plantar couve nos cafundós do judas. Poupariam nossos arrepios de indignação.
Querem a barbárie? Mudem-se para essas abençoadas plagas que asfixiam a nós, mulheres. Afinal lá valemos a metade de um homem.
Contudo esses bravíssimos defensores da não ingerência em julgamentos fajutos em terras arcaicas até podem estar certos: afinal, não chegarão a matar um homem inteiro. Apenas a metade.
Acordem, anestesiados da silva: o que se quer é trazer alguns países pro século XXI!!
Sakineh, além da crueza de seu sofrimento, é o paradigma do que muitas nações praticam contra as mulheres, inclusive, aqui mesmo no nosso lindíssimo país tropical.
Uma injeção letal, choque elétrico ou romper uma criatura a pedradas até a morte?
Tenho dúvidas se a nova presidente brasileira priorizaria conveniências geopolíticas ao custo de ratificar ou omitir-se ante a barbárie.


Cecília Nisemblat

domingo, novembro 21, 2010

mágica!

é interessante esse aspecto humano: de repente, todo mundo some. simplesmente se desfaz, que nem fumaça misteriosa no horizonte.


e assim... nesse mesmo piscar, de repente, aparece! do nada, que nem fumaça quando há fogo.

ai, humanidade, livra-me, livra-me dessa tua mágica.

segunda-feira, novembro 15, 2010

morando no vazio


o projeto "morando no vazio" continuaria se não fosse...

finalmente estou edificando a minha biblioteca; vou juntar todos os livros da antiga casa, os que fui adquirindo desde quando vim morar aqui, e lá vou eu separar o gêneros, as capas duras, os para restaurar, doar, esquecer...

e essa sensação de ficar juntando coisas, (por mais que a palavra livro jamais seja uma "coisa" sob a minha percepção - permisso - agora o é) me deixa louca de dó. dó! de preencher essas prateleiras tão lisinhas das lixações com esmero e ora cheias de perspectiva para os olhos percorrem sem se deter. dá pena. eu gosto de vê-las assim, vazias; é tão bom a casa ampla, sem muita coisa, minimalista.

e, depois de tudo arrumado, perfeitamente organizado, livro por livro, ah, não fica bonito pela inércia em si. vem o pó, mais livros, mais vida fúngica, mais espaço para arranjar entre eles... e, claro, mais coisa pra limpar e escravizar as barbas. até quando essa submissão e acúmulo, hein?


ver, sentir a casa mais abarrotada me compunge de agonia que toma nervos. well, por ora, não há outra saída. o materialismo do meu ser exige de mim. então, enquanto o espírito de Thelma & Louise não baixa neste corpo, deixo-lhes o registro do tempo em que o projeto "morando no vazio" durou. durou e teve a intenção de ser, pelo menos, alguns dias. e, embora já esteja tudo pronto, resisto. acreditem. protelo a arrumação; ativamente penalizada de prosseguir contra o meu sonho, contra a verdadeira vontade de me desfazer de tudo sem olhar pra trás.



ah, se não fosse... esse meu jeito terráqueo de ter.

segunda-feira, novembro 08, 2010

essa onda pega


opa!
alto lá!
há um clima de procriação por aqui. hoje, a casa amanheceu mais habitada.
é, essa vida é mesmo um milagre; até argila está dando cria.

terça-feira, novembro 02, 2010

o laranja




- fábio, por que tu tem poros de casca de laranja?
- ué, pergunta pra eles, oras.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Serafim Jr.

Acompanhando Serafim em seus desgostos...


"ontem fui muito social. não fui quem eu sou. caramba! já não basta que tenho de ser ético o dia inteiro? ah, no meu lazer, eu não quero.
sou que nem gato, - é só me dar o que eu quero que fico faceiro e ronronante. do contrário, sou independente, e, se a coisa não agrada, dou logo um jeito de achar um escape."

quarta-feira, outubro 27, 2010

domingo

domingo, publiquei uma foto lá no facebook, e a dona cecília nisemblat comentou assim:
"não entendo muito bem o fenômeno. Penso em falta de valores maiores na vida das pessoas como causador."

posto que respondi, de imediato, pra doidila da minha vida:
"é verdade, tudo isso aqui é o mais alto grau da falta de "valores"; todavia e igualmente, na mesmo mais alto grau de...

amores!"

então, só pra variar, ela puxou sua rebeldia atávica da manga; afinal, nunca quer entender o que verdadeiramente não lhe interessa:
"Sou mais o Cazuza: ..."ideologiaaaaa. preciso de uma pra viver..."
Torcedores fanáticos, provavelmente são os que não costumam pôr a cabeça pra fora do buraco, sacô, bicho?"



bueno, como vocês podem ver, aqui, eis uma nítida divisão da emoção: trabalhando, e ora sorvendo dribles de um clássico. um olho lá, o outro cá.
viu como a gente não é fanático?

domingo, outubro 24, 2010

Amanduca e o novo condão


eu sempre costumava chamá-la de velha bruxa. porém, depois de muitos embates travados com sua luta interna, finalmente ela conseguiu! livrou-se, de uma vez por todas, do pior dos feitiços do caldeirão de Porto Alegre. então, eis que a magia aconteceu:
virou uma fada. ah, mas só 'fada' fica sem graça; então, agora ela será a fada bru.
fa´da bruma!

quinta-feira, outubro 21, 2010

sou mandriona, eu confesso

toda manhã é a mesma coisa, me é um verdadeiro martírio só de pensar que eu tenho que acordar e encarar a casa todo o dia. aquela louça, - lembretezinho do tédio, aquele chão... sempre tem coisas, aquele fogão, aquela geladeira com comida estragada que sempre esqueço e vou adiando colocar fora, aquelas roupas pra lavar, pra dobrar; todo o dia tem alguma coisa. ai, coisa mais desagradável. por isso, eu queria morar no vazio, no mais pleno vazio. ter quatro peças de roupas, algumas almofadas, um colchão, duas cadeiras. apenas não abriria mão da geladeira. e esta, eu certamente continuaria a ter que limpar...
é, mesmo no mundo vazio não dá pra ter o nada absoluto.

sexta-feira, outubro 15, 2010

diz "tchau" pra eles, Nina!


A viagem da canguru completou 22 semanas, na quarta-feira. a paz, finalmente reina no lar. acabaram-se os enjôos, as ânsias, as iras ferventes, os sonos embriagantes e a má vontade de ir trabalhar. por ora, nunca me achei tão bem! comprei alguns vestidos - três vestidos! - um com flores, outro azul da cor do mar, para combinar com o nome da Marina, e, outro, com listras de céu outonal. decidi abandonar, de uma vez por todas, os abrigos e moletons engordantes emprestados pelo papai Fábio. Agora somos duas princesas, no reino encantado da primavera!

quinta-feira, outubro 14, 2010

parem, agora!

sabe, eu vejo todo mundo tão inflamado, levantando bandeira à Dilma, outros, ao Serra (eita que homem que não convence); o fato é que realmente nem um, quanto o outro empolgam. então, eu penso assim: cara, é muito bom estar absurdamente imersa em hormônios, na minha situção de gravemente grávida, e se lixar pra esse movimento todo.

há uns dias, li uma frase, num muro lá da UFRGS: "se votar mudasse alguma coisa, seria proibido." Então, preclaros, neste momento, bocejo e volto com meus olhos de peixe-morto ao meu tricozinho com a excelsa linha Vera-verão, da Pingouim, pra minha filhota. Agora, por favor, amigos, parem! sou apartidária. cansei.

sério, por favor, parem com esses e-mails que mais fazem eu perder meu escasso tempo abarrotando a minha caixa de mensagens, dizendo que a 'Dilma é dilmais!', porque isso, sinceramente, além de ser uma rima essencialmente pobre, não sensibliza o meu hipotálamo e definitivamente não, não mudará a minha opinião.
ah, oras, se ao menos mandassem Homens nus...
afffff.

sexta-feira, outubro 08, 2010

sessão túnel do tempo


ladeira da fapa. sinceramente, não sinto a menor saudade.



de subir.



só de descer...



e encontrar.

sábado, outubro 02, 2010

dia de maria


despertar desperta.



preparar, mirar, encarar...



desisto.






preguiça!

sábado, setembro 25, 2010

Marina! a Nina da Mari



Estou há dias para fazer a atualização desse blog; mas, como vocês já sabem, a preguiça cresce junto com a minha barriga e, isso, fatalmente, impede que eu o faça como antes - tranquila e de olhos fechados. Bem, nesses dias de setembro que veio como uma benção varrendo de vez o inferno inverno, tenho ficado com os pensamentos em mente apenas por poucos minutos; então, tentei anotar algumas coisas para que não se perdesssem de todo, mas esqueci. Esqueci onde coloquei o papel rascunhado, embora tenha prometido colocar na sacola das listas a serem escritas, mas não cumpri. Esqueci de tudo mesmo, até onde está a tal sacola. Desculpem. A amnésia tem ocorrido para as coisas mais triviais. É uma vergonha, passo até por burraca. Todavia, o meu alento - conforme já me explicado pelas amigas que já são mães - isso é bem normal durante a gravidez. E, como na hora de sentar para escrever, ato que não mais priorizo por ora, ponho o foco nas coisas que me exigem pensar de menos - logo, não escrevo e, nossa! como isso tem me feito bem. Pensar de mais, me deixa deprê. Então, mais feliz do que nunca com o meu novo papel - sou a parva da Barca, de Gil Vicente, toda resignada e sem receios de ter oco mental.

Bueno, pois que muitos ainda não sabem, mas a Marina, a Nina pros chegados, já está com cinco meses, dentro do ventre. Minha intuição estava certa - seria uma meninhê de cor rosa. Mas isso não significa que ela será dessas gurias frescas. Não, ela vai ser artista, bailarina, escritora, musicista, sionista, sei lá. Afinal, será ela quem escolherá o seu caminho, oras! Mas que vai torcer para o Inter, ah isso já está decidido. Ou que vire a casaca, como fez a sua mãe, aos oitos anos - quando trocou o grêmio pelo colorado, inarredavelmente, e no auge do fracasso do clube rubro (aliás, isso daria uma boa estórinha). Eu queria era saber do vermelho. Aquele vermelho me chamava como um ímã na tela da tevê, enquanto, cada vez mais, ia sentindo que aquele azul - por quem a minha mãe, o tio, o avô, a melhor amiga diziam-se do time - era uma cor fria, muito fraca para minha paixão pela vida. Não era pra mim, uma escorpionina das vibes elétricas.


Desde a última postagem, tanta coisa aconteceu, já até perdi o foco e o pensamento que tinha para colocar neste espaço. No entanto, o mais interessante fato desses dias tem sido a minha eletrocutante descarga hormonal de lôca varrida. Penso ser eu, hoje, uma outra Mariana que está nascendo, talvez pela macumba de um Deus baiano; o desfolhar da maternidade está me descascando, como um caule de goiabeira em vias de renascimento - e resiste, bravo, flexível, às intempéries todas; sou uma goiabeira que se chama leoa. Apenas espero, quando a minha filha nascer, já não estar tão nervosa como agora e, que dessa inusitada troca pele, advenha muitos, muitos frutos doces!


Então, deixo um texto real, relato do que aconteceu hoje, apenas pra vocês me conhecerem na atualidade, "um pouquinho melhor..."





HORMÔNIOS . PROGESTERONA. QUE DONA.

Só para vocês terem uma idéia da ferveção hormonal inacreditável... hoje, às seis horas da manhã, acordo sentindo um cheiro forte de cigarro. Pensei que era daquela velha chata da minha vizinha, mas achei estranho, porque ela dorme até o meio-dia. Então, ciosa de algum vestígio mais claro, sacudo o Fábio e pergunto: “-quem tá fumando? Quem tá fumando?” Bem, como homens não acordam fácil se tu não está com uma calcinha bem entalada (isso é casamento, baby, Yes.), desisti. Levantei segurando a barriga e fui para o corredor do prédio, de meia e tudo e fungando, pois o edifício incendiou há dois anos e o trauma fica, ah se fica. Fui descendo as escadas, fungando, fungando, feito um cão perdigueiro enfiando a fuça no friso das portas alheias e nada. Por ali, a atmosfera estava amena.

Voltei me puxando pelo corrimão, feito uma anta que vasculha o território em busca de algo; todavia, o cheiro continuava. Resolvi escancarar a sacada e o quê vejo para o meu deleite depois de perder a viagem que definiria a minha semana? Hãm?
Uma névoa esbranquiçada adentrando diretamente a minha casa, vinda de um monte de lixo com papéis, plásticos, folhas feito por um homem grisalho que sempre varre as ruas, talvez por pura tara de mover os braços que não abraçam mais nada nessa vida. Uma fumaceira, uma fumaceira que não dava pra tolerar; então eu enchi os pulmões e soltei um grito com toda a reverberação de fêmea lôca por proteger a cria:
“ – me diz uma coisa, hein meu senhor! Por acaso tu tem MERDA nessa cabeça? Só pode. É merda, é titica, ou é o quê que tem aí? Sabia que eu to esperando um filho? Tu tá querendo matar a minha filha? Hein? Tá querendo? Então espera aí."

A passos largos fui na área de serviço, peguei um baldão, abri a torneira na vazão máxima fazendo um chafariz na minha roupa e pelo chão todo, movida por uma fúria incandescente e. em ato-reflexo, desci de meia e tudo lá embaixo. Fui arrastando aquele balde pelo corredor, com dificuldade, tava pesado, e aquilo ainda fazia uma ondona quase saindo pra fora – pra lá e pra cá pelas bordas, ah santo desequilíbrio de trapezista aposentada. Atravessei a rua, cega, fui chegando bem perto, nem olhando pra ele. Quando cheguei na borda da fogueira, de súbito - TCHÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁA!

Pronto. joguei o balde com água na sua fogueira matinal. E voltei. Voltei calma, voltei Mariana da Nina. E fui dormir tranqüila e serena.

Horas mais tarde, o Fábio me revela enquanto eu escovava os dentes:
" -Mariana, sabia que eu espiei pela janela quando tu atravessou a rua para apagar a fogueira do velho? Tu parecia um guri, com a cara toda franzida e caminhando feito um julinho play."

quarta-feira, setembro 01, 2010

ver enxergando?


ver enxergando nunca é a mesma coisa quando os olhos estão atrás das lentes - são as escolhas: ou viva ou robotiza. então, convicta, abro mão para eternizar.

sábado, agosto 28, 2010

que preguiça!


Eu ando tão preguiçosa, tão dorminhoca, que apenas penso em chocar o meu ovo na santa paz de Deus. E, se acaso sento em uma cadeira, ali fico, por muuuuitos minutos, talvez mais de hora se assim não ocorrer algum evento que realmente me obrigue a mudar de posição. um, dois, três... estátua! e brinco assim ao natural. Ficar dormindo, então? Dispensável seria contar-lhes sobre os meus últimos recordes de meio turno de puro R.E.M intervalado apenas por uma xixizeira danada. Dá uma pressão na bexiga e eis aqui que surge a oportunidade exata de confessar sobre o meu dó de dar tanta descarga - sei que a água anda escassa no mundo. Tenho consciência e sou paranóica com desperdício. Imagina! oito litros a menos a cada vinte minutos só no xixi?

Tenho muita dificuldade de prosseguir com as leituras e fazer trabalhos acadêmicos - resumindo: pensar demais, não. Talvez o sangue esteja irrigando menos o cérebro e esta seja a chave do meu emburrecimento consencioso.
O fato é que o foco principal de agora é me despedir das longas horas de sono, da solitude tão apreciada, que, ultimamente, dediquei à fotografia e ao nadismo. Tenho preguiça de conversar e verdadeira intolerância a temas polêmicos; e o que mais tenho gostado por esses dias (que novidade!) é de silêncio e horas, h--o--r--a--s a fio de sono imperturbável.

Completaram-se quinze semanas, praticamente quatro meses de gestação, e, tamanha é a acomodação do ser rola-bola, que sequer mexi o esqueleto para descobrir o sexo de menininhê que aqui flutua. Enfim, não importa. Não importa. Apenas pressinto que será menininhê de cor rosa, mas ainda não tenho confirmação. Será que meu instinto estará certo?
(provavelmente. ele raramente falha.)

terça-feira, agosto 10, 2010

I´ve got some news from iceland

a minha casa é tão fria que ultimamente sou obrigada a passar as tardes deitada embaixo de cinco camadas de cobertor. o ar condicionado finalmente está no conserto, e, começo então a sentir novos sopros de esperança de sobreviver a este inverno.

os enjôos da gravidez passaram - uma benção. ao contrário do que imaginava, perdi três quilos com meus vômitos diários; as ânsias súbitas, sumiram também. a barriga - atrevida - já sorri para fora da calça, e, volta e meia, quando olho no espelho essa redondice toda, me pergunto: será certeiro o meu palpite sobre o sexo desse filhote tão quietinho?

bem, enquanto a resposta não vem, eu acho que será menininhê!


quarta-feira, agosto 04, 2010

lui et moi

sempre fomos tão diferentes;
contudo, sempre contentes
com nossos planetinhas a contrastar.

terça-feira, julho 20, 2010

o queixo caído que ainda não voltou pro lugar

Esse semestre passou rápido, numa fluidez incrível, envolto de surpresas, que, de sobejo, trouxeram um festival de bem mais do que decepções. Creio, ainda hei de escrever uma lista das farsas mui humanas demasiado humanas a que assisti gratuitamente - assim mesmo - à toa - como haveria de ser, oras! na inércia mais pura e cabal do bem-viver. Pena que não há espaço nem tempo hábil para todas serem narradas; porém, quero deixar registrada, pelo menos, uma pérola rara... dessas que, por mais que o tempo passe, sempre ficará aquele indelével brilhinho dourado, na lembrança que não pediu pra ser marcada. Trata-se da jóinha da minha estupefacção mais contundente de todas frente a um acontecimento que doeu sentir na pele - caso antissemita, digno de um desabafo sem medo e tranqüilo, como se houvésse todo o tempo do mundo para lixar as minhas unhas em pontas de águia para fazer valer alguma contudência verbal que o valha. As palavras, afinal, servem muito! não só para mitigar dores, mas como também para mostra-lhes que sei atualizar blog sem enrolações vivaldinas. Por isso, hoje, quero falar sobre o comportamento, o qual, não compete mais a mim denominar o calão; senão, acabo desnecessariamente no lodo. E, convenhamos, leitores, não fica bem uma grávida chafurdar em angústias conflitantes em meio a uma gestação que ora desabrocha linda. Gravidez combina com coisas boas, sonhos, enfim, outras preocupações menos lastimosas, ao contrário dessa aqui, que pode até causar mal a um bebê, mesmo ainda tão pequenino. Bem, mas dessa eu preciso falar. De todos os lixinhos varridos para baixo do meu tapete, o único entrave ao que o filtro da mulher de aço, aqui, não aspirou bem foi uma memorável frase dita, há umas três semanas atrás, durante a apresentação de um trabalho meu, sobre o conflito no Oriente Médio, na UFRGS. Se, por ventura ao menos fosse essa um julgamento emitido por uma pessoa desconhecida, numa platéia de um acaso qualquer, sem dúvida, deglutiria a sujeirinha como uma genuína Arno 1976 e seguiria a minha vida em frente, como se nenhum sopro de vento houvesse balançado o cabelo; afinal, trocar o filtro e enfrentar a realidade circundante é tão trivial, tão simples. Ainda mais que tudo, tudo ultimamente anda passando tão batido - meu cartão-ponto, as pessoas que atendo, meu olhar artístico meus bom-dias vazios e mentirosos, minhas varridas sem empenho no lar-doce-lar. Contudo, ainda resta uma esperança de humanidade aqui dentro; e que não morre fácil. E nem 'tudo' assim - passa-passará - está se dando direto e reto pra mim. Assim como a linda frase de um caríssimo colega, lá das longínquas terras do Neverland, e que merece, mais uma vez, um lugarzinho bom ao sol: " - me diz, Mariana, o que eram aqueles sionistas que chegaram em Israel, em 1948? Um baaaaando de assassinos!"



Ah, mas essa dita intempestiva dele simplesmente só não desceu, como entalou. Entalou e ainda, pra completar a sua finesse invejável de lord inglês, me deixou de queixo caído e completamente sem chão; astronauta perdida para finalizar a minha parla e fincar a minha bandeira. E essa minha afetação só ocorreu porque eu o considerava uma pessoa chegada, legal, com quem, de certa forma me identificava durante há algum tempo e com quem, inclusive, muito me correspondi trocando idéias, influências em outros idos, e, portanto, jamais esperaria ouvir algo desse gênero, principalmente durante a minha apresentação final, e mais: sabendo ele da minha condição judaica.



Hoje, passadas já algumas semanas do ocorrido, quando lembro da situação, da pessoa dele, enchendo aquela boca pra falar a sua verdade tão ímpar, gesticulando as mãos em ondas explicativas, típicas do professor sabe-tudo - óh, tão interessante nas suas ponderações de sapiência justa, pesquisada e bem lida - o residual do meu sentimento é simplesmente um nojo. Um mar de nojo mais puro da cara, que só de lembrar - sobe uma onda de vômito. Não um qualquer. Um vômito pastoso, como se fosse só de miolo de pão, sem que nenhum líquido houvesse sido juntamente ingerido e que entala e sufoca justamente por não verter da epiglote. Fica ali a pasta grudenta. Colada. Tira até o ar. Ou seja, FAZ MAL MESMO E CHEGA A MATAR UM POUCO.


Talvez, um dia, isso passe; contudo, uma coisa nessa vida é certa: Israel tem a pecha de ser o carrasco da humanidade. A "verdade" midiática escrita pelos jornalistas e historiadores, simplesmente desconhece o que de fato lá aconteceu quando os judeus compraram as terras, por preço dobrado dos palestinos. Não acho que Israel seja santo. Longe disso. Todos merecem críticas e sou da opinião de que o Estado tem muito a repensar sobre suas ações político-externas. Apenas não me furto de assumir de peito aberto que me tapo de asco com gente que bombardeia Israel de maneira agressiva, propositalmente avessa, na onda do mainstream, quando é sabedor de ser eu descendente de uma família de sionistas. E outra: existem maneiras de falar as coisas. Não estou acostumada com pés-na-porta das pessoas consideradas amigas. Então, nesse ínterim de recordação pesabunda, contudo, ainda assim importante de seguir verbalizada, apesar de muito tamanco esmocado aqui dentro antes de decidir se o faria isso ou não, me dou conta de que sim, eu sou sim uma completa idiota, pois não seria um absoluto contrasenso de minha parte esperar mesuras de um rinoceronte travestido? Rinocerontes são imprevisíveis. Aparentemente está tudo zen em sua calmaria cotidiana; mas, de repente, do nada, saem correndo para bater suas cabeças duras em troncos de árvores ou paredes de cimento. Porém, a pergunta que não quer calar é se seria isso para talvez sentirem algum gozo mental esdrúxulo, ou pior, mesmo não querendo ser pessimista - uma tendência suicidal de um ID traidor?
De qualquer maneira, tanto uma, quanto a outra resposta não faz a mínima diferença no que já está feito; desculpas, ou simplesmente buscas de motivos para situações irreversíveis não fazem rewind em leite derramado; contudo, vamos combinar, néam... Freud, provavelmente, questionaria-se, sem custos, e acotovelado em anais sobre natureza do rapaz.


que esperança mais vã a minha.


sexta-feira, julho 16, 2010

se eles pudéssem...

Freud afirmava que as mulheres tinham inveja do pênis; então Nisemblat rebate: se eles pudessem, embarrigariam em nosso lugar.






ele se propôs a fazer a barriga de aluguel. quer experimentar a dor e delícia de carregar a vida no balanço dos passos.

sexta-feira, julho 09, 2010

minha cegonha sem-vergonha!


Estou feliz com todas as felicitações e mimos que surgem de todos os cantos; a última vez em que senti algo parecido foi na formatura; porém, confesso a todos - a ficha não caiu; acho que só cairá no momento de um soc-pow sentido dentro de mim. Nesses últimos dias, encontro-me redondamente mais gorda, sem silueta, a carita diferente - alargada - com maçãs mais proeminentes e o sorrir mais relaxado. Sim, sinto-me feia ao ver minhas fotos, mas desapego, já fiz diversas vezes esse exercício, e, justamente por isso lhes digo - transcender é divino.

O cabelo de leoa balzaka quase e meia está pedindo um corte, aliás, seriam mais poéticas as melenas com uma leveza short cut; as calças, mais do que nunca, pedem cordões ao invés de botões ou zíper; os sapatos, a diminuição urgente dos saltos; os passos, antes ousados no prevalecimento da certeza, agora deixam de o ser. Lentos, tão lentos e calmos - quem diria! esse dia existiria! cortaram relação - deram um tempo, espero que não irrevogável, com a aceleração. A competitividade pelo espaço na calçada, agora, mansa, permite aos outros suas micro-vitórias. Só agora eu sei - as grávidas sabem perder ganhando. Ai que sono. Muuuito sono. Portanto, não falem muito – monólogos alheios, adeus por ora. Fastio por fastio, então não dê um piu.


Doutrinação mental da maestra nisemblat da goela pra não vomitar constantemente. Porque haja vontade mais perturbadora! E sim! os desejos não são meros caprichos míticos como eu pensava ser para chamar a atenção – eles são reais! Emerge uma vontade de sentir os sabores inusuais – aqueles que sempre passaram batidos, bem longe do palato, e A Hora da delícia é comer o que nunca foi dado bola.

Receber um carinho na barriga, ah, verdadeiro cafuné triplicado de sensação máxima - e isso me faz lembrar direitinho, sempre que alguém me dizia estar grávida, eu ficava com vontade de passar a mão na barriga da mãe pra sentir aquele ventre redondo, duro, desafiador! encaixar na palma da mão (como pode né? mãe sempre rima com mão?!), mas ficava com vergonha. Portanto, hoje, compartilho algo simples; todavia, de grande descoberta pros que não sabem ainda: não tenham medo de fazer carinho na barriga de uma grávida. É muito, muito reconfortante, a mumy sente-se menos repelida e com sensação de bem-querer! Ah, sobre o sexo? Bah, é. Aquilo é tudo verdade...

segunda-feira, junho 28, 2010

pedido urgente



amigos que sei que lêem o meu blog, estou reorganizando minha biblioteca e dei por conta de que estão faltando vários livros meus; portanto, peço aqueles que por ventura tenham algum, algdois, algtrês exemplares meus - me enviem, ou passem aqui, ou, se não tiverem na pilha da visita, na casa da minha mãe com o regalito... não tenho tido muitos caprichos ultimamente, estou abrindo mão de muita coisa, mas gostaria de tê-los de volta. sabe como é que é... muitos deles são raros e não se encontram mais... fazem falta por aqui; afinal, são insubstituíveis na minha licenciosidade desapegada pela confiança, graças a deus. mas sim, deixaram um buraco na estante - suportável - claro; apenas por mais de um ano... mas agora meu coração anda saudoso e mais apertado do que nunca.
desde já, agradeço a lembrança na agenda e partilha enriquecedora que se deu.

quarta-feira, junho 23, 2010

culpado Minuano

confissão ao Rauber, em uma noite de densa neblina, quando sequer uma viva voz na rua foi ouvida desde as sete horas da noite.


hei! o que é esse frio? mordaça forçada pra deixar qualquer um excessivamente silencioso de si, distante há léguas de sua felicidade existencial e de sua tímida glória matinal que insiste em despertar mesmo abaixo de quatro graus! afinal, a beleza existe nos cristais do alvorecer.


ontem, sofri um dos piores dias da minha vida, sentindo uma opressão que vinha de um não-sei-onde, logo eu! tri cara limpa da vida, comendo grãos, lendo coisas sãs, fazendo o bem e não saindo da linha (seria talvez por isso a gênese oculta do tal motivo?); mas, como uma boa escorpionina, tratei logo (eu preciso tratar logo, senão a vida me engole) de tirar da manga um mecanismo de defesa das teorias psico quetais - hoje, trancafiei o quarto, deixei uma fina fresta mão-de-vaca pra lagartixa passar e liguei a estufa - foda-se a conta! agora quero conforto. o mínimo dos mínimos depois da descoberta do fogo, eu posso me dar, né? coloquei umas polainas do tempo em que fui cossaca, fiz um milho verde derretendo uma manteiguinha com sal por cima, e pronto - encarei de frente a nuvem. e, nesse ínterim de enumerações reveladoras e um tanto triviais, chego à fatal conclusão de que o meu problema... o meu problema é não saber lidar com essa frase bonita de se dizer e que, inclusive, pode-se até encher a boca articulando um blasé entendido - como bem sabem fazer esses guris que pensam tocar alguma guitarra distorcida que o valha - meu bloqueio sensaborrão adstringente é não saber lidar com a 'Estética do Frio', de vitor ramil. nada de milongas. foi-se o tempo. foi-se o tempo em que achei legal assoprar vaporzinho pela boca enquanto "bacana" era estar elegante com mil voltas transidas de lã grossa no pescoço, besuntada de manteiga de cacau e louca de preguiça de encarar o banho.


não quero, contudo, desprezar a magia que o outono tem, não! isso jamais; isso seria ir contra o voo das folhas, seus matizes em guerra no penduro, seu estrelar no chão gramado e todo o charme mais que há em colocar um casaco sobre os ombros; todavia, o frio já não me cai bem, assim como uma moça-velha que finalmente se dá conta que não adianta colocar mais a sua provocante minissaia e ficar na porteira para atrair olhares pidões... passou o tempo da admiração acotovelada.
enfim, faço então no meu íntimo, simpatias, os rogos sinceros para que o sol - essa grandeza de tão inominável divindade - gire. gire mais depressa, os revoluteios celestes tomem redbull locos de faceiros e a massa polar se vá, de uma vez, de ré! ao Andes e ao seu fiel escudeiro - Pacífico devorador de almas bravias.

sigamos, corage mi compañieros.

terça-feira, junho 22, 2010

salmorinha


primeiro eu junto bastante
coloco os chorinhos guardados
e me delicio no purgar
salmora, salmora para curar
isso eu aprendi quando pequena
as gotas da tristeza soluçada
quando lambidas na mesma hora
transformam-se numa confissão-conselho:
tomar lágrima é bom

quinta-feira, junho 17, 2010

ritmos de la ciudad



em pensar que um dia, toda essa festança de condomínios e luzes coloridas já me emocionaram tanto; emoção de inflar o peito, quando a suburbana virou o jogo, saiu de viamão e, finalmente, pertenceu à cidade. agora, enfim, aos doze anos incompletos, estava radicada em porto alegre; (?) era toda dona da noite dos sonhos - habitada por gente nas ruas, movimento o tempo todo; ficava pejada de orgulho - ó aceleração citadina do não-pode-parar das loucas avenidas cruzadas! e eu possuía uma - em que fui morar. havia um viaduto iluminado bem na frente da janela. guria de cidade, eu.

e a arte! a arte estava comigo. a Arte, por tudo, uma relação simbiótica fantástica - às paredes, que telas! cinzentas e tanto - putinhas exibidas e sem vaidade nenhuma, oferecidas ao pixo das gentes-cachorro marcarem seus territórios - limitações do grito mudo e da letra feia, de desenhos escorridos no susto dos que gostam temer.


eu? eu finalmente pertencia. fazia parte dos poleiros alinhados, morava em um deles - em geral, duros, inquebrantáveis muralhas de silêncio quebrado apenas pelas vozes metalizadas dos interfones que emitiam som um de fúria desconfiada atrás das portas de ferros.





hoje, o peito que tanto inflou, tanto se emocinou a esse pertencimento Perestroika, está na direção contrária - plasmolisado feito uma ameba seca, seca de tristeza por longe estar do seu habitat - e que mesmo aos tropeços, se adapta, tem sempre na manga seus mecanismos de defesa, justamente por saber fingir bem que ser atropelada por pessoas é normal, ver mendigos pelos quatro cantos implorando um reles níquel -"faz parte", atravessar a rua e quase ser esmigalhada no sinal ao pedestre é questão de detalhe; que a guerra civil é um teatro de módica entrada; sim, saber sim, fingir! ser boba-cega - deixando evidências simbólicas passarem batido na minha vista grossa que não percebe percebendo o quê das relações descartáveis em que me emaranhei por gosto, mesmo sabedora de suas datas de validade a expirar.

mas foi bom. claro que foi. ser boba, ser cega. ser boa. o parvo sempre sofre menos.


hoje, a cidade me mata mais, me mata todo dia um pouco-muito. e pode crer que dói. me mata num perto de longe alcance. cada dia, uma facada a mais. e o corpo resiste às estocadas - afinal, sou uma estóica com tronco de árvore centenária para proteção aos lenhadores de machado. e, nesse ínterim, nessas minhas levas de lamúria e resistência que se multiplica a cada esquina transida de sufoco - algo - de repente, despertou em mim quando um amigo falou:


"- será a cidade ou tu, mariana, que te fazem mal?"


sinceramente?




os dois.

mas eu resisto.

sábado, junho 12, 2010

o segredo

Para a Amanduca, a mana guerreira do alvorecer forçado. então, força. força! antes que por sua falta venha a nossa forca.




as castanhas vítreas

tão belas, fulminam

que medo, que sina!

entonces nem ouso

mirar lá muito não

porém basta um adulo

elas se aconchegam redondas

como as dos gatos felizes espreitando no escuro

mas ô vixe! tem horas que não tem explicação

intrigam, estranham!

os iriologistas de escol até lá do velho mundo

e mais! ainda mais!

imanta os muitos passantes na rua

querem todos saber o segredo

por que lutam tuas pálpebras

nesse tremido de bolita cai-não-cai

mergulha a íris, e de baixo já volta de bóia

afinal, que bóia bácea é essa?

um "hei de subir" de caixa d'água?

os cílios, um eterno adeus que não se decide

vão, vem. delongam-se dançantes

haja resistor! nunca, nunca descansam

uai! o que é isso?

seria uma gravidade de lua?

ou de Terra alfinetando no empurro?

seria tristeza? o fardo nosso de cada dia?

ou tua sedução mais incontida?


pode ser, pode ser.

contudo, de uma coisa eu tenho certeza

são teus olhos, Amanda

uns olhos-de-sono.

segunda-feira, junho 07, 2010

homenagem ao blá-blá-blá

eu estou tão cheia; mas tão cheia que chego a estar gorda. gorda de fartura.
cansei das pessoas, de todas. e sem nenhuma exceção.
dos seus discursos colados, de suas mascaritas de queridos enquanto precisam, de suas balelas repetitivas, desse gênero amigos-coisíssima-nenhuma do blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá.

blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá.

blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá.

blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá.

então, utilizo esse espaço e oportuno ensejo para fazer-lhes uma singela homenagem bem bonita, from the deep of my heart:



FODAM-SE, MEUS CAMARADAS COITADINHOS.



FODAM-SE, porque agora essa máscara aí está sem cola e definitivamente grude não me agrada.





p.s.: se, por ventura, ocorresse um 'blecaute' no mundo, essa palavra eu trocaria por benção.

quinta-feira, maio 27, 2010

a rocha


pessoas, eu ando absurdamente sem nenhum tempo, que novidade, néam? pois essa é a constância que pontua, mais do que nunca, os últimos dois anos da minha vida.


todavia, o descaso não é tamanho assim; ontem mesmo, apesar das pálpebras arenosas, tentei estoicamente compor algo sobre minha última viagem, com algumas fotos e impressões que se deixaram ficar a ferro e fogo; porém, o computador estava demasiado lento, dando erro atrás de erro; e, no final das contas, ainda acabei perdendo o texto original. well, nessas horas, o que me resta, além de suspirar com ressaibo de azia, é repetir crente: que maravilha de sensação. que maravilha.
bom, quanto ao resultado de quando isso acontece...

um desânimo inexorável. uma quase morte. um verdadeiro rochedo caído sobre o cérebro. e o residual dessa tragédia do desencanto?
a mais sincera falta de forças de removê-lo para seguir morro acima a escalada da montanha dos sentidos.


então, apenas para não ficar com o sítio tão empoeirado, coloco essa pérola que achei no blog Sarau Elétrico, do Fischer, que creio valer para todos os anônimos que aqui me seguem e buscam saber como, ou melhor - onde andará mariana veiga?

Dez motivos para blogar

1. Você pode (quase) tudo. Quando faltar inspiração, escreva uma lista de dez motivos para fazer alguma coisa. No final, acabará se divertindo.

2. É bom ter audiência, mesmo sem fazer idéia de quem são os leitores. Você apenas precisa aprender a lidar com essa relação meio íntima com leitores tão anônimos.

3. Com o tempo você percebe que sobrevive sem comentários. Segundo as estatísticas, apenas 1% dos leitores deixa um. Então pare de implorar pelos comentários dos amigos.

4. Blogar ajuda a organizar as idéias, exercitar a escrita e você ainda corre o risco de escrever algo realmente bom.

5. Amigos distantes, ou distanciados, se sentem próximos ao ler o seu blog. Você não precisa de orkut para se relacionar, e só se expõe se, e o quanto, quiser.

6. Você está deixando um registro histórico, da sua vida ou da sua época, embora isso pareça uma grande pretensão agora.

7. O fato de blog não dar dinheiro não é motivo para parar. Pense bem: você realmente não começou porque havia essa possibilidade.

8. Provavelmente você terá mais leitores do que se publicar um livro.

9. Você pode terminar uma lista de dez com nove itens e nenhum editor vai chamar a sua atenção.

Marta Barcellos, no

terça-feira, maio 18, 2010

cara ignara




eu nunca ignorei a minha ignorância. e, hoje, mais do que nunca, estou me ocupando em me desocupar disso. agora não me preocupo com esse peso. trato de ocupá-lo.

domingo, maio 09, 2010

mão na mão, pé no chão

a mão da mão


um afago nos cabelos
o balanço do berço sob a lua
o preparo do lanche na lancheira
o cosimento míope da roupa rasgada
a ingestão amarga do meu esquecimento
uma palmada vermelha que estala no remorso calado
no telefone, a discada com gastura até obter a resposta que não vem
a espera insone até que os passos sejam ouvidos de novo
a mão que sempre segurou a outra para que este corpo não quedasse.
agora percebo - cheguei até aqui por ela e descobri uma coisa:
mão, é na tua que está o teu coração.










quarta-feira, abril 28, 2010

pó de vidro



ontem, voltei à casa antiga. que atmosfera fantástica. tudo assim, - meio hermético - plastificado e fantasmagórico, escondido com lençol por cima dos móveis; as outras coisas, menos importantes, bagunçadas sob uma neblina cristalina, quase um pó de vidro aderido na superfície; tudo bem, eu aceito sem negaças - o tempo age e não precisamos fingir que não.

contudo, queria ficar ali, no meu lugar que foi tão morno, tão receptivo um dia. então, deslizei os lençóis a minha volta retirando todos os entulhos que estavam sobre a cama e depois deitei-me. (ahhhh, ela ainda vem pra mim) essa gatinha véia - que bafo acre e, de repente - eis que propício o revival: ela, ali, sempre minha, sobre a minha barriga e eu alisando o seu pêlo macio que ia se soltando sem resistência em minha roupa; e se quer me importava, como me importei um dia- com feio das sobras da pelagem em mim; e, nessa atmosfera de amareamento da memória, comecei a reviver mentalmente a minha vida de outrora - pós partida do vôo sem volta dessa morada, tudo de novo, um pouco antes de pegar no sono. o lá fora agonizava em tambores a diesel - os motores dos carros da rua ainda ruminavam a madrugada, e então como me lembrei tão nítido dos vinte e poucos, das altas horas estendidas aos gigantes do breu, com risadas sem-fim e o gosto de álcool na boca rosada louca para beijar e beijar e beijar. ei! o surdo eco das gargalhadas, o descompasso sem vexa das pernas trocadas, das tonterias à toa e tão dignas - por que mesmo cessaram?
perdi o fio da meada.

sensação tão boa - mágica! voltar no tempo.

eu quero isso - reviver sempre, sendo o "isso" uma verdade fresca a recém nascida materialização mental rebobinada, porque simplesmente não se apagou se quer uma centelha do que foi.

para sempre.

um alto preço eu pagaria com gosto para ter a eternidade do amor que ainda há ali. que ainda há aqui, nessa casa que me recebe agora e guarda minhas coisas como se um dia eu ainda fosse voltar.

para sempre. me diga, me repita dono do mundo, de todas as verdades absolutas! - será assim e que eu não cansarei da existência.
sim! eu topo - acredito no diabo, numa força descomunal, pro mal, e sei bem de feitiçarias; contudo, eu, por enquanto, apenas não mato galinhas. mas q...