quarta-feira, junho 23, 2010

culpado Minuano

confissão ao Rauber, em uma noite de densa neblina, quando sequer uma viva voz na rua foi ouvida desde as sete horas da noite.


hei! o que é esse frio? mordaça forçada pra deixar qualquer um excessivamente silencioso de si, distante há léguas de sua felicidade existencial e de sua tímida glória matinal que insiste em despertar mesmo abaixo de quatro graus! afinal, a beleza existe nos cristais do alvorecer.


ontem, sofri um dos piores dias da minha vida, sentindo uma opressão que vinha de um não-sei-onde, logo eu! tri cara limpa da vida, comendo grãos, lendo coisas sãs, fazendo o bem e não saindo da linha (seria talvez por isso a gênese oculta do tal motivo?); mas, como uma boa escorpionina, tratei logo (eu preciso tratar logo, senão a vida me engole) de tirar da manga um mecanismo de defesa das teorias psico quetais - hoje, trancafiei o quarto, deixei uma fina fresta mão-de-vaca pra lagartixa passar e liguei a estufa - foda-se a conta! agora quero conforto. o mínimo dos mínimos depois da descoberta do fogo, eu posso me dar, né? coloquei umas polainas do tempo em que fui cossaca, fiz um milho verde derretendo uma manteiguinha com sal por cima, e pronto - encarei de frente a nuvem. e, nesse ínterim de enumerações reveladoras e um tanto triviais, chego à fatal conclusão de que o meu problema... o meu problema é não saber lidar com essa frase bonita de se dizer e que, inclusive, pode-se até encher a boca articulando um blasé entendido - como bem sabem fazer esses guris que pensam tocar alguma guitarra distorcida que o valha - meu bloqueio sensaborrão adstringente é não saber lidar com a 'Estética do Frio', de vitor ramil. nada de milongas. foi-se o tempo. foi-se o tempo em que achei legal assoprar vaporzinho pela boca enquanto "bacana" era estar elegante com mil voltas transidas de lã grossa no pescoço, besuntada de manteiga de cacau e louca de preguiça de encarar o banho.


não quero, contudo, desprezar a magia que o outono tem, não! isso jamais; isso seria ir contra o voo das folhas, seus matizes em guerra no penduro, seu estrelar no chão gramado e todo o charme mais que há em colocar um casaco sobre os ombros; todavia, o frio já não me cai bem, assim como uma moça-velha que finalmente se dá conta que não adianta colocar mais a sua provocante minissaia e ficar na porteira para atrair olhares pidões... passou o tempo da admiração acotovelada.
enfim, faço então no meu íntimo, simpatias, os rogos sinceros para que o sol - essa grandeza de tão inominável divindade - gire. gire mais depressa, os revoluteios celestes tomem redbull locos de faceiros e a massa polar se vá, de uma vez, de ré! ao Andes e ao seu fiel escudeiro - Pacífico devorador de almas bravias.

sigamos, corage mi compañieros.