domingo, fevereiro 24, 2008

a agiota


Por esses dias estava fazendo uma retrospectiva de toda a etapa de celebrações após o tão aguardado desfecho acadêmico, e cheguei à uma drástica conclusão:
todos os recordes alcólicos na minha décima terceira casa decimal foram batidos; e a verdade mais destilada é que nunca o CH3 CH2OH foi tão pontual e transgressor no meu sangue.

Então a Loucura, "essa dança das idéias", como dizia o bruxo Machado, resolveu dar a cara não-rara por aqui e apareceu toda Ela no poder, travestida de uma convincente viajora Yank, - de colarinho na espuma, fazendo milhas e milhas na ponte aérea das hemácias.

Mas não pensem vocês que, nesses dias, o sua entrada na sala de embarque se dava de imediato.



nãããã, passava por vários raios-x, e, rasteira, como quem não queria nada com nada, ia se chegando, mansinha, ultrapassando saguão por saguão do helicorpo, e, uma vez instada a apresentar o passaporte, respondeu num pronto: "estou só de passagem, apenas avaliando as condições do mercado como um todo...mas nada muito específico, não.


Contudo, a dona bendita, boa de negócio, mas mui fraca das pernas, nesta noite, resolveu pedir cadeira logo no meu Gate, então, de pronto, e sem hesitação nenhuma, mandei logo que sentasse, oras. Mas abusada era ela, e não é que a preclara resolveu se enraizar sentada mesmo?
Que baita louca essa loucura!
E, ali, no fofo da minha sala de viagem, curtindo a sua inércia, a Loucura foi tomando um corpo, um corpo cada vez maior, agigantando-se num trote de mula, devagar, mas sempre ao norte do delírio...




Entrementes a isso, vários espíritos do Japão iam atravessando continentes com conexão direta p´ruma grande missão:
nos fazer completas japas, mesmo que de ocidental não tivéssemos nada; apenas os olhos de feixo-eclér.



Todavia e como sempre, tudo o que é bom tem um curto-prazo pra lá de diminuto com um gosto ferrado de quero mais, então o alarido de toda aquela festança foi diminuindo, diminuindo, todas as danças de tropeços foram escasseando sem que eu se quer sentisse algum esvaziamento, até que tudo em volta parou de acontecer. "1-2-3 estátua!"
E curioso foi que o desfecho não foi finalizado com pompas ou aquelas despedidas convencionais de estalos de beijos que se perdem pelos ares. Às seis e pouco da manhã, com a luz entrando como uma espada em riste na sala, fustigando os meus olhos como um castigo de lâmina que quer ceifar ou ceifar, eu acordei.
pobre refén.
A sacada completamente escancarada, convidando à escalada qualquer bom aventureiro que a desafios se prestasse na calada. E, de chofre, a mágica que não se explica aconteceu - a cristaleira havia se mudado para a mesa de centro da sala:



E eu, ali, em borboleteios de olhos arenosos, um feto torto resisitindo a dormitar sobre o inóspito sofá, na vã crença que o buraco iria melhorar; e a Fárida, lânguida, uma anêmona desmaiada no mar, no outro, pior ainda, fétido a la mijô de gatô.
O antigo candelabro enegrecido, oxidado pelas últimas réstias de brasa de um pavil umbandístico que até hoje não descolou. Belo feito o estrago da peça. Pelo visto, as velas bruxulearam até o último sumo da parafina. Ainda bem que os donos não existem mais para reclamar o descuido.
Puxa vida, que digníssimo encerramento! (agora que me dei conta) a gente nem se deu boa noite. Simplesmente desligamos como um gerador que chega ao seu limite máximo de funcionamento e pára; pifa sem mais nenhuma energia que reste.

Ah, mas nada é de graça nessa vida cheia de graça....
a paga pela estrapolação foi o day after a pontuar um arrasto de chinelas e um pipocar de bolinhas transparentes a estourar em volta da cabeça arrependida pelo falta de freios seguido do questionar lamuriento de "ó vida, ó céus, por que, por que, por que, hein?"

é...
é nessas horas que a gente se dá conta de que, para os que não têm arreios, a doidêra é baita agiota.
Sempre cobra altos juros.
E, pode crer, quando ele é alto e avalentoado na mora, aí sim que é chegada a hora.
A hora de se despedir e ainda pedir pra Loucura dar um tempo e ir de ré embora.




diário mui secreto e pós-ressaca; essa, considerada a última antes de entrar pro sistema.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2008.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

deusa da vida

na ausência de tempo hábil para aqui me extender, faço um rápido escolho:
tropeçar nas fases e pinçar as coisas soterradas, porém vivas, vivinhas!




mesmo que esqueça de olhar no calendário, ela lembrará você.
as cores se avivam! as árvores colocam brincos, as borboletas dão aura aos jardins e uma alegria há que se espalha por tudo enquanto os clarins tocam silenciosos sopros de perfumes em duelo.

os passarinhos em suas árias assobiadas despertam os manacás que começam acordar...
as gardênias inclinam-se à brisa que sopra do sul, balançando os Ipês tecedores de tapetes para a grande festa tão aguardada.

na sua recepção quero ser musa, medusa coroada de flores pra dançar bonita nesse mundo que agora a espera.
e depois de tantos passos, contra-passos, ritmos e cantos de fada, quero, de olhos fechados, jogar confete de pétalas, gritando bem alto:
deusa da vida, da rotação efêmera! venha primavera!