quinta-feira, agosto 31, 2006

tempus



quanto mais o tempo passa
menos tempo a gente tem

quanto menos se o tem
mais se faz aproveitado

ai, esse tal tempo engolido
nunca é regorgitado

e quando arquivado
é clips enferrujado

quiçá lembrado
de ser anexado

segunda-feira, agosto 28, 2006

basídio




Os cogumelos são flores súbitas dos magos
nascem do encanto da chuva comprometida
com os malucos beleza

sábado, agosto 26, 2006

cris


a crespa crimonosa
é crápula sem critério
credo
a cretina craveja quem critica
e na crise cruenta
é fogo cruzado
com olho crispado
e tu, criança, crucificado


cruzes, criatura
que criancice
cresce!

quinta-feira, agosto 24, 2006

o sorriso do lixo

em casa, nenhum pão a repartir com os filhos.
em seu bolso, uma cobreada moeda havia.
todos os dentes na boca. nenhuma oportunidade na vida.
a expectativa do riso surgia das sacolas rasgadas.
todos dentes na boca. alguma esperança de vida.

segunda-feira, agosto 21, 2006

o poço

a náusea nada na saliva. e a saliva transborda na boca. e na boca a verdade é vomitada em vertigens que levantam a arma que eu ainda não tenho para matar.
não brinca com fogo. eu sou um poço de butano sem remorso.

domingo, agosto 20, 2006

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quinta-feira, agosto 17, 2006

em bálsamo negro


olhos cerrados no refúgio do quarto protetor. venha, bálsamo negro, para eu aos poucos escapar no ir me indo sem medo de chegar logo lá. daqui a pouco mais - sumindo, indo, indo, beeeem distante, eu vou estar.
os sons daqui começam a ficar baixinho e, de repente, a respiração da barriga é acordeom bailante a selar os arenosos olhos de chumbo que já nem abrem mais.

cheguei de lá. tá escuro e é tão bom agora. que dimensão abafada essa.
não existem cá os magros cavalos chicoteados por impiedoso braço padrasto. não vejo bocas que ao lixo buscam a continuação da vida.
ai, que bom ficar aqui. os lagartos pensantes roendo o mundo onde pousam seus pés vis que outrora chutaram os índios, são apenas esparsas lembranças desencontradas de dejavu. os canalhas do governo, a bestialidade do islã, os alcólatras perdidos, os desalmados deboches das putas sem escolha nas miseráveis províncias esquecidas, começam a ser deletados como bolhas de sabão topando em casuais pregos da memória.


o lixo amontoado, a merda do esgoto, a bomba escondida, o riso comprado, a ignorância do mundo, as ignóbeis quimeras cobradas, os amigos que não voltaram, o terrorismo cego, foram tudo uma grande conspiração maquivélica da lagarta matrix.
a fumaça do cigarro fétido jogado na cara por ter sido sincera, agora é orvalho de flor de louca dama, que sublima gotículas brilhosas em minha face e, meu deus! no céu, acreditem! uma vasta liberdade lilás - gaivotas em vôo branco ruborizadas pelo sol que faço ir poente.


agora eu danço e meus cabelos são orquídeas em ciranda no ar que me volteiam em moldura aureolar. sou um anjo demoníaco do orquidário e meu o relógio é congelado com neve da Lapônia. mudar as horas? apenas se eu quiser.
e se, então, caso querendo de verdade, faço piscadela de borboleta namoradeira e derreto os flocos de gelo para então dançar brincando no compasso tic-tac. e quando o vento sopra o tempo, danço leve, danço como as crianças alegres sem medo de tentar errar.


uma porta à dimensão mágica foi aberta. é aqui mesmo um grande lugar para ficar. agora vale a pena recomeçar os planos soterrados.
quando as pálpebras alongam os cílios, o mundo aqui de dentro gira, rodopeia a comandar a minha doce liberdade sonhadora do ar.

quarta-feira, agosto 16, 2006

espelhos de dentro

os pensamentos volteiam randômicos na cuca. transladam o jeito sul lá na ala norte do bronx desabituado a jeitos sulistas, mas bah, pra ti vê, tchê. fica tudo misturado como novelo de vó cansada e a entropia se institui celeste nos neurônios da senhoura desse espaço.
as vagas naturalmente empurram a espuma dos miolos entoxicados lá pra beira da praia do cabeção e o resultado desse solto vai-e-vém de águas espúrias é que curtos- tzzzz- tzzzz- tzzz - se entrecruzam cá e lá, lá e cá, me deixando de arregalada cara-a-cara com o outro eu bem mais hediondo que não queria ver pra continuar na ilusão de que a minha outra metade não é francamente endurecida de verbo. não! não! eu não quero ver o oco!


eu alongo. faço, sim - faço alongamento de músculo tamanhos. sou vaidosa da mente e do corpo. mens sana corpore sano, ai, claro, todo reles mortal sabe escrever essa merda de frase. mas a real é que esse clichezão dos Césares resumem um ideal cultivado desde que percebi coisas do corpo e da massa cérbera como interligadas cúmplices.
meu, não tem essa. corpo e cérebro andam juntos, e a excusa de estar caidaço e molengão, desculpem-me a franqueza mordaz - é a escolha deliberada de ser o que se é sem a mínima ambição de ser pavão.
mas enfim, escrevo, enrolo, e nada de novo acrescento, reparou? e, vejam só, mais um dia transpassa a folha do calendário impiedoso do tempo.
pôxa, difícil questã essa ...
não queria dizer de imediato, mas...
agora, azar, lá vai:

ora, de se deparar, assim, no más, com o não-ser funcionária pública da palavra como havia imaginado durante todos os dias deste ano.
put´s. isso acontece quando eu limpo os espelhos de dentro. a realidade chamou o limpol que fisgou meus torpores com anzol.
puxa vida, que besteirol.

segunda-feira, agosto 14, 2006

alô, terra?

Alô? Alô?
Terra
câmbio
planeta Terra chamando...

...

..

.
a chamada não pode ser completada.
ondas sonoras não se propagam onde há vácuo.

quarta-feira, agosto 09, 2006

tumor doído


a atéia reza todos os dias
extirpar tumor é doloroso
e dói
dói por dentro


entre amargores
que sobem lavando
os olhos imersos em sal de dor
rezo

sábado, agosto 05, 2006

fiat lux

luz
luz na cabeça
luz dentro da cabeçorra
luz alumiando cabeça escura de porongo
luz luzindo o zulu da ingratidão
luz no porão desse mundão
luz,
clareia esse povão,
luz

sexta-feira, agosto 04, 2006

o patrimônio

rumarei à África
aqui as bundas estão em extinção!
os morros foram abandonados no jardim central do esqueleto
agora a beleza dos dias é desmerecida no movimento andador
o assunto é sério
o patrimônio não pode tombar.
é razão existencial do meu pescoço, oras!

terça-feira, agosto 01, 2006

o doente por teta

Aos sete anos levava tremendas bofetadas de deixar relevo marcado na cara - a mãe já estava cansada de dar as esvaziadas e caóticas tiras de pele na boca do insaciável filho mamador; nada de leite, uma reles gota mais havia no extenuado e franzino corpo materno; mas, ele, ávido como um combatente, insistia e continuava a querer, a ferro e fogo, os frangalhos de pelanca que em tempo distante o nutriam às turras.

O mandrião acostumado a sugar sem parar
, jamais se acostumou a ficar nenhuma noite sem alguma ponta de teta nos beiços parasitas. Com vinte anos começou a violentar a irmã para poder continuar a mamar feito um terneiro mamão.
E como Dienifer Suélen tinha asco daquele irmão queixudo que se deitava com ela todas as noites para apoderar-se à força de seu peito com a afiada boca dentada. De nada adiantava empurrar a cara dele a socos - era um verdadeiro louco, um obcecado por mamicas quando a noite baixava.
Por mais que a sua irmã o repelisse, toda santa noite, ele pontualmente, como um tigre voraz, saltava em sua em sua cama, levantando a blusa para abocanhar impiedosamente o corpo fraterno.

Um dia Dienifer casou e, Gilco Luís viu-se em maus lençóis - começou a passar as noites em agonizantes espasmos de boca saudosa de mamilos roubados. A ponta do travesseiro começou a ser chupada para o sono custoso surgir no breu da ignomínia dos desejos da fera humana. Em vão. Tudo em vão. Para dormir precisava mesmo de uma boa teta carnuda na boca. Procurou a mãe para empreender a façanha, mas esta, coitada, havia extirpado, outrora, as cancerígenas glândulas em cirurgia fracassada, que deixara-lhe verdadeiras crateras obscuras no tórax.

Uma noite, Gilco, entristecido, estava com a boca no cone da linha, atrapalhando o andamento dos trabalhos de costura de sua mãe, que não agüentava mais esforçar-se em afastar a teimosa cabeça do filho dos tantos carretéis já empapados de saliva... quando, de repente, uma grande idéia sobreveio a iluminar a insólita angústia da madrecita amargurada: pediu para o tio Gilso levá-lo na roda gigante do parque que chegara na cidade. Afinal, Luís precisava ver outras coisas para esquecer aquela obsessão que perturbava cada vez mais o andamento das lides domésticas.

Chegando ao parque, de mãos dadas com o tio, Gilco, sem demora, desfez-se do entrelaçamento das mãos atadas e embrenhou-se furtivamente por entre a fila da multidão ciosa a andar em algo que lá adiante arrrodeava. De longe, avistou brilhosos cabelos movendo-se lentamente em um círculo apertado. Aos trancos, empurrou os circunstantes e então, subiu de atropelo no carrossel das bonecas russas se pondo a rodar todo embasbacado com os corpos das ninfetas congeladas a girar. Gilco era só emoção. Não podia crer no que seus olhos viam, não podia!

No primeiro momento, ficou envergonhado de seu irrefreável ímpeto selvagem; porém, com o transcorrer dos instantes, prosseguiu cadência com a empresa instintiva. Estava mais do que condenado a buscar aquilo que todos da vila achavam estranhamente anormal e, agora, sob a iluminação noturna que banhava os transeuntes em azul , estava disposto, mais do que nunca, a assumir de peito aberto ao grande público, sua devassa natureza cortante. De imediato, não se atirou de boca às engessadas mulheres. Olhou de esguelha para os lados e rapidamente avistou um copo no lixo - um salvador copo ali perto, ôxa vida sortuda! Deu alguns passos rápidos até a lixeira e apanhou em uma só baixada de corpo a pequena vasilha de plástico. De
súbito, tremendo muito e se rindo sozinho, gargalhando e tremendo mais e mais ainda o enorme esqueleto encorpado, se pôs a brincar com a borda do copo na teta da boneca alemoa. Passava o copo pra lá e pra cá, pra cá e pra lá, na teta da mais loira das bonecas.

Até o raiar o dia, Gilco ficou ali, com raízes plantares no chão de ferro sendo irradiado pela piscante luz azul do carro giratório. Fechou os olhos a mamar
entregando-se inteiro ao sono infante não sonhado há tempo. Entre a dureza das acrílicas formas venusianos, aconchegou o rosto no meio dos dois morros. Podia ficar ali mais tempo, não levava safanões por amar esses escondidos pedaços de carne arredondada. As profanas tetas inanimadas foram sugadas até que a a última luz do parque se apagasse por completo. Adormeceu, de pé, calmo e sozinho na mais completa escuridão com uma teta na boca e o copo na mão. Finalmente, Gilco fechou os olhos feliz - agora tinha tetas só para si.

A manhã despontava e sua mãe, na quietude da casa, respirava tranqüila após dobrar todas as encomendas da semana. Umedeceu o pano na pia e limpou as manchas dos cones manchados de baba sob a escassa iluminação que aparecia rutilante nas frestas da pequena casa. Isaura, agora, falava baixinho, envolta em aura eclipsada de luz invasora, sibilando assoprados alívios de alma com Deus. Agradecia, de olhar velado e em sussuro manso, às esperadas graças de iluminar o caminho filho.