sábado, setembro 09, 2006

90' s junkie memories

às amigas de santa terra estrangeira, Juliana Sibemberg e Simone Zaslavsky, minhas eternas cúmplices de vapores escondidos.



perdidas entre tantas coisas que já não eram e tantas que deveriam vir a ser, exalávamos nossa bafuda humaneza sem a mínima culpa. nossas certezas andavam firmes nas muletas de um mundo, que ao contrário do outro, não nos cuspia na cara.

quem mandou?
olha aqui ó, Juliana, - quem te mandou ir pro Egito comigo? quem? quem mandou tu te ajoelhar naquela praça com um saco socado na mente? quem mandou tu escrever livros e livros em linha reta, babando de prazer enquanto eu buscava um prato de comida pra ti?
mulher, diga-me, se tu for capaz, quem mandou tu ter esse jeito parecido com o meu, justamente, para combinarmos mais ainda os delirantes descompassos de nossas vidas cruzadas?
quem mandou tu me apresentar as idéias de um Capricho dos Deuses, ou da ladra do Trem da Meia Noite, de Sidney Sheldon do ó, a essa alma inocente? e olha aí, e olha aí no que deu!
me inspirei no dio canne do velhaco e vim parar aqui, lançando sementes criminosas ao escrever tolices sobre tolices que julgo agradar gregos.
sim, és culpada, se não diretamente, de soslaio tens tua reba de culpa.

putakeospa
putakeospa, onde foi parar - eu te pergunto - onde foi parar o ciclo, o simbolinho fajuto do yin-yang que tu tanto rabiscou naquelas merdas de cadernos bege de pobreta doados por uma alma caridosa que nos colocou dentro daquele internato?
fomos para o Egito sem tirar nossos pés do chão, saciamos nossas torpezas tremendo agradecidas ao receber entidades em nosso corpo e... acima de tudo, acima de todos os Exús paranóicos e extraterrestres que desprezávamos, triunfamos no presídio. sim, triunfamos uma vitória sem lá muito gosto de nobreza, mas ainda assim, saímos montadas na soberba da vitória e podre de loucas, carregando um troféu transparente em baixo do braço, que até hoje paira em nossa inexistente escrivaninha empoeirada. güentamos, machas dominantes, até a reta final, o limite do insuportável ao cubo e sem arrego.

toca fogo no latão e chama a empregada!
toca fogo no latão e chama a empregada! (essa cena levo para o filminho do rewind do último suspiro a que temos direito) lembro-me que para dares fim ao duelo que travaste com a tua fominha rival, decidiste incendiar a maldita lata inflamável dos sonhos e, como uma vicking, que desconhece derrota, quase incendiaste o quarto para dar cabo da bossa.
ninguém ganhou a batalha, e vocês, duas babacas, com a maior cara de tacho jamais filmada, olhando, bem calmas, o pó de ouro perdido em noite de tédio invernal. a tua cara até que era digerivelmente cômica, mas a Zu... bah, a pinta se transformava em uma pusta empregada quando baixava um tal espírito que vinha não sei de onde. e de verdade, como odiei vocês, talvez porque amasse demais aquilo tudo.
afora os contratempos espartanos, nosso prazer sempre era sorvido lento, e a simples idéia de possuí-lo fazia-nos felizes de antemão, enchendo nossas carcaças de coragem a tudo arriscar e ter um níquel furado de sonhos para nos sentir inteiramente vivas.
fizemos uma escolha. não, duas escolhas. demos nossa cara para bater. e depois, de gorda gula, oferecemos a outra - a cara de dentro apenas pela mais pura dor de estarmos longe de nossa pátria mater salve, salve.


fodas mentais
pagamos um preço por nossas inutilidades cerebrais, e o substrato disso fez-se em sagrada seita junkie - cuja cumplicidade foi firmada pelas homéricas fodas mentais providas por nosso não-oficioso ministério fora-da-lei.
é, não tinha jeito, companheiras, nos perdemos no meio da estrada e não havia ninguém para nos levar um reles mapa norteador. mas afinal, nem queríamos. rejeitávamos a hipótese de que algum meio esboço de ser vivo nos encontrasse; queríamos era ficar perdidas, em roam e sem satélite, vagando sem rumo, com os morcegos da nossa imaginação sugando-nos até a última gota e, nós, claro, deixando-se ao léu da absoluta vampiragem.
quando achávamos o caminho de volta - era a deus dará e sempre no chão do quarto de beira de corredor em que jazíamos, inertes, padecendo o duro confronto com a cara irredutível do real. e o virtuosismo máximo da breguice de atar eram aquelas colchas desgraçadamente mal escolhidas - um colorido aviltante ao nosso estilo não-estilo rebel que nos ejetava para longe dos beliches. por isso, será? gostávamos, tolinhas inconscientes, do chão?

um passado que passou
luz do micro banheiro acesa, e os sons do sinos de Floyd a tilintar como as mágicas estrelas da amante do Peter Pan.
-meu, tu é a coisa mais ruim que tem desse lado.
-mas por quê? mas por que, cargas d´água, Simone, eu sou a coisa mais ruim que tem desse lado?
- bah, meu, não sei, eu só sei que tu é a coisa mais ruim que tem desse lado.
-logo, eu? pelo deus que te ouve, guria! logo eu que te amo pra caralho?
-ah, meu, não sei... foi o que apareceu aqui, oras. ah, esquece, cara, foi um passado que passou.
- tu é um cacete, isso é o que tu é!

cinqüenta encarnações
as estrelas continuavam a brilhar e a vida, como nunca, começava a valer a pena de novo, mesmo sabendo ser eu a coisa mais ruim daquele lado, e mesmo sabendo ser as estúpidas mãos dos que se diziam nossos salvadores que socavam a porta do quarto até rebentar de vez com nossa paz.
nunca ninguém atendeu. nunca ninguém atendeu quem batia em nossa porta. afinal, não estávamos lá.
a vida, nossa! como passa.
a nossa vida passa.
e a uva, gurias
também é passa.

se me perguntarem o que ficou dessa noite...
olha, ainda não tenho respostas prontas - o que ficou eu não sei direito. na verdade, cada copo sabe de seu residual depois do kerbe, mas prefiro omitir minhas verdades cavernosas. fica mais misterioso assim, fica mais chique sair pela névoa da tangente. o que eu sei é que a tempestade de insubmissão sempre valeu a pena, e por mais mais vinte, trinta, cinqüenta encarnações em cima desse corpo, juro, faria do início ao fim tudo de novo; apenas um senão eu mudaria: a porta fechada - sim, eu destrancaria.