sexta-feira, março 24, 2006

mariana tetra-pak


eu choro pela humanidade cada vez mais egoísta que não enxerga nada, além de auferir lucros e obter vantagens, patrolando qualquer forma de existência mais vulnerável que a sua. sim, ainda continuo chorando por saber que vai demorar pra essa bosta de matança das focas acabar. já faz parte da cultura. está arraigado no sangue do rei da selva-de-pedra. enquanto isso, continuamos, aqui, eu, tu, com a nossa vida perfeita e confortável de ter livre arbítrio e tranqüilamente decidir nossos rumos de continuar a entupir o planeta de mais lixo. você já parou pra reparar na espécie de lixo que faz?
tava olhando o meu lixo, na quarta, e percebi, que sou uma pessoa afortunada. eu sou mariana tetra-pak, muito prazer; mas eu choro pelas focas. provavelmente, isso já redime a minha pena dos anos-luz que meu lixo leva para se desintegrar nos lençóis freáticos onde nossos filhos matarão a sede. mas, calma, não é tão ruim assim. antes de descer pro lençol, o meu lixo vai pra ilha das flores, e lá, é admirado por quem vê a cor das caixas coloridas de suco das quantas frutas nunca provadas. tem personagem novo na embalagem do meu frango empanado! e ele anda na bicicleta almejada do antigo natal que não veio. no pacote de salgadinho emoções, de camarão, ainda tem coisa dentro! mas vejam só... a caixa prateada do creme anti-age lòreal é em relevo modernista! o meu danone aveia e laranja é de 60 ml!
vi uma foto e um filme sobre isso. do copo de iogurte bebem escassa água quando não há racionamento. na caixa com anglicismos das modeletes, guardam suas pequenas riquezas encontradas em seus domínios de butano. agora eles têm porta-jóias.
esqueço sempre dentro do pacote a figurinha artist collection dos cachorrinhos malteses. quando, na chafurdação do pão de cada dia, encontram o doguinho autocolante, a alegria momentânea de ser presenteado pelo acaso não tão padrasto, ganha existência em seus lábios engessados de fuligem.
e quando cansam de se refocilar nas montanhas, brincam de aprender a ler na embalagem das minhas pilhas. tem tanto numerozinho, que aprendem ali, no topo mesmo, a contar na embalagem alaranjada degradê. aprendem signos universais de fotografia do solzinho e chuvinha naquele papelão. e sonham, sonham acordados e risonhos, de figurinha na mão, a liberdade de encontrar o pão no chão.

Um comentário:

Anônimo disse...

tá escrevendo pra caralho, mina!