terça-feira, junho 13, 2006

woodstockball

Não adianta fingir, muito menos fugir, o mundial domina todas as atenções e sobrepõe-se a todos os assuntos do momento. A vida, a cidade está toda coberta com a horrenda cor verde-amarela por todos os lados. Vitrines, roupas, chaveiros, bonés, propagandas vertendo, com profusão, a ideologia de ser o melhor do mundo na arte do drible. Haja santa paciência. Ligar a televisão é permitir banhar o cérebro na enxurrada verbal futebolística que está no ar, e cada minuto, cada tropeço, cada pulinho, piscadela ou arroto de jogador de algum canto do mundo é aproveitado para fazer alguma reportagem.
A Copa é a mídia; e óbvio, sem a mídia, a Copa seria mais uma sucessão de jogos pra ver na tardinha de um final de semana, ou se não sabático, ou de domingueira, seria sem direito à folga do trabalho para se esgualepar gritando lá vem gol, lá vem gol, lá vem gol, junto à voz douta do Galvão .
A lavagem cerebral beira o ridículo dos seres que tinham a chance de ficarem calados e icólumes à queimação de filme. E como é triste ver esse planeta dos macacos carente de bananas. Tupi or not Tupi? That´s the question. But now, the answer is Tupi, bananas e Ronaldanas.
Enquanto os outros países contam com 60 ou um pouco mais de jornalistas, o Brasil está com 160, todos ébrios de seus peitos cinco estrelas valerosos, socados em salinhas, transmitindo as bolhas que vão e que vem de Ronaldo, preferências entre meias azuis ou brancas para a estréia, comparações entre as gerações da camisa 10 de ontem e hoje, amontoados, febris, fazendo enquetes de "quem chuta melhor? o destro ou o canhoto? ", ou então, falando abobrinhas de casualidades ou superstições, dando pitacos antes mesmo do juíz apitar a partida... e tudo isso, preclaros, com a farda cor côco de pássaro envergada num lombo que sustenta uma cabeça que deixa a boca rir sozinha de um não sei quê.
O resultado no placar, às vezes, importa menos do que aquilo que rolou na imprensa antes ou depois do jogo, e fazer clipe clichê é vanguarda inegável- assim como o pretinho básico está para todas as mulheres que saem à noite, o clipe dos machos dominantes em campo e seus bíceps femurais em movimento está para a estampa da camêra nesses dias de junho ...
Bom, pelo menos, no randevous desse woodstockball ideológico, o Fenômeno voltou a mostrar que faz jus ao título, e aliás, deu um belíssimo drible no chefe da nação, justamente na grande área das metáforas futebolísticas e auto-estima. Revidou com firmeza a insinuação de que estaria acima do peso e comparou-a às fofocas sobre as pujanças alcoólicas presidenciais. Lula, o goleiro-presidente, poderia ter ficado sem esse frango.
Ué, talvez, o Führer da Silva absteve-se de dar o troco, porque a mídia poderia colocá-lo contra os jogadores; e, neste momento, se existe algo intocável neste país, não é a Constituição. É a Seleção. Enfim, já sabemos, já sabemos de todos esses truques cíclicos que vão e vêm em nossas telas - é necessário entronizar seres, já que, dificilmente, conquista-se reconhecimento por algo bom, made aqui.
É, quem nunca come azeite, quando come se lambuza.

5 comentários:

Anônimo disse...

tá, matou a pau essa tua crônica. mas mulher, como tu é irônica!
mas eu gosto disso.

Anônimo disse...

amei. cronicas bem light e divertida

Fred Neumann disse...

Mari, 160 jornalistas somente na Rede Globo, vale dizer.
Fora o resto.
É um batalhão.
Assumo: sou fanático por futebol desde criancinha.
Bom, pelo menos me igualo nesta paixão ao Veríssimo, Nelson Rodrigues, Jô Soares...pelo menos nisso!
Espero que minhas poesias sobre a Copa diminuam um pouco a mesmice que isso tudo deva parecer pra você e outros, como meu irmão, que voou de párapente na final de 2002, hahaha!

Grande abraço,

Fred

Anônimo disse...

meu Santo Ronaldinho! ops! Agostinho! ou ahn...santos, nem sei mais em quais tantos deles acredito? ou em alguns?
enfim, tu me convenceu! não vejo mais futebol! não consigo nem mais ver minha novela na globo sossegada! mas que o ronaldinho rá gordo ah ele tá...rss

ps: tu numa cadeira de cultura brasileira deve dar no q falar...

um abraço goria! obrigada por fazer parte desse país "pequeno" e não acreditar que ele é só um par de chuteiras, meu desgastado patriotismo agradece..
:P

Anônimo disse...

vc tá ficano poderosa no verbo escrito, menina!
quando é que sai o livro?