domingo, julho 30, 2006

não é tempo de colheita

Hoje queria escrever o verdadeiro lirismo destilado e aqui colocar as imagens mais bonitas que eu pudesse encontrar para que apenas coisas belas ilustrassem as páginas da minha vida. Mas não consigo cair na estética da coisa boa. Quando o peito aperta e a lamúria amarguenta não güenta, o melhor é dar a cara para bater então, para todas as dores virem com tudo.
Minha amiga Michelle Rosenthal também vive dias de medo, e mesmo eu estando aqui, não vivo o conforto dos meus dias de paz. Apenas estou fisicamente cá, mas minha mente já não. Penso nela, penso em muitos - do lado de cá- e de lá, também.

Antes de cair esburacando o chão, ela ouvia um zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz e medo. muito medo ao fechar os olhos e buuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmm. medo de novo.
As perereiras largam seus frutos podres no chão e, no céu, rabos de foguetes iluminam a noite esquecida. Não há tempo para colheita. Agora é guerra. As macieiras estão abandonadas à inércia do vazio e os portos de Ashdod fechados. Escoar? Que verbo é esse? Em tempo de luta armada os frutos são esquecidos. Nada entra, nada sai. As laranjas estão podres e ninguém há para colher. Foram à guerra. O gosto doce da frutose fica para quando der.
A Michka está lá e, como sempre, em seu altruísmo, imagina que os pedaços de mísseis do quintal poderiam estar dentro de algum corpo - sim, algum corpo, ou seja, não se fala aqui em distinção de etnia.
Juntou os restos da merda de ferro caída perto da casa e agora os mostra ao mundo. São pequenos, porque o resto a polícia já levou. Os olhos tristes e cansados não estão cansados de serem tristes - assim estão, e assim o são há tempo.
Todos sofrem, rede globo. Todos sofrem. Os corpos de inocentes apodrecem alinhados, mas não há propriamente carrascos. Cartuchos são cuspidos em solo alheio com violento interesse. Interesse, aliás, bem mesquinho - de ter pátria, uma vez por todas, pátria para muitas gerações.

Cale-se mundo vinheta plim-plim. Não me venha com imagens preparadas, Glória Benzuntada Maria. Tua cara séria é a mesma quando escolhes, impertigadamente, vestidos Versacce que irão ao teu closet. Ah, querida Glória brilhosa, saiba, que apenas cansou-se de ser cobaias de camicas. Limpa teu scarpin, vai, tô vendo daqui, - bem na ponta, ovos vermelhos de caviar em extinção, que te empanturraram noite passada.