domingo, setembro 13, 2009

os tantos eus que calham, ou não


ele, Edwald, depois de três ou quatro frases anódinas, pergunta, descarado, como seu não tivesse nenhum assunto outro a indagar:

" - Cristine, me diga, quem sou eu, quem sou eu para a tua pessoa? "

ao que ela responde, creio, meio embriagada.


- Na verdade, essa é uma pergunta que atravessam os séculos, querido.

De Shakespeare a Descartes, De William Blake a Caio Fernando Abreu;

mas a resposta, ao meu ver, que mais veio a calhar ao teu "quem sou eu"

está no livro de Fernando Pessoa. Afinal, ele tem mais de uns 11 eus. Então, dandy, neste momento, deves estar no teu 4º eu. O eu aquele...
que quer escapar da rotina
viver algo novo

intenso

ele, num ímpeto, larga-lhe uma pergunta inoportuna:

- então, eu sou boa pinta?

ela ri, ignora, fingindo não ter escutado a asneira, até porque ele não era nada boa pinta, e ela, uma contumaz diplomata, não gostava de ferir o orgulho dos feios; e continuou a responder:

sentir-se vivo, voltando pras cavernas, e sendo o bicho-homem do qual não pode fugir...

o bicho-homem que quer arrastar a presa,

difundir a espécia num só golpe, ou melhor, em alguns bons golpes.

o 4º Edwald quer ir pro quarto.

há! ela ri, essa foi boa. bingo pra mim. sou muito sincera, desculpa; traz um Martiny e acende meu cigarro...
já pensou, hein?


- no quê? indaga Edwald exaltado.


- nã, não, em nada. então Cristine solta a fumaça, completamente esvaziada de tédio pela burrice da humanidade.